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Perspectiva Histórica
Evolução da Produção
Participação do Porto do Rio na Exportação de Café

 

 

 

 

 

 


 

 

 


Ruy Barreto com os companheiros
Wilson Peracio, Guilherme Miller,
Nelson Brant Maciel, Jacques Treveza
e Joar Duarte

100 Anos que Fizeram a História
O Café, do Rio para o Brasil e o Mundo
Uma Cidade, uma Baía, um Porto...
A Ousadia Continua
O Orgulho da Grandeza do Café

(continuação)

CCCRJ - Nessa época, quais eram os grandes consumidores de café mundialmente? Como o mercado estava distribuído?

Ruy Barreto - Até o final do século XIX era circunscrito ao Oceano Atlântico e às nações do Mundo Ocidental. E essa região representava um terço da humanidade. Os outros dois terços tomavam chá. Havia necessidade, então, de entrar nessas outras regiões, pois era a única forma de solucionar o problema dos excedentes de produção. Mas, quando se começou a fazer essa promoção, veio a Primeira Guerra Mundial. Após isso, houve a maior geada que o Brasil teve em sua história, em 1918. Foi nessa época que a Colômbia entrou no mercado norte-americano, deslocando nosso café e foi também que, um pouco antes, houve a Revolução Russa e, com isso, perdemos a oportunidade de entrar nesse grande mercado. No Brasil, ao mesmo tempo, seguiu-se um ciclo conturbado com a crise de 29, a depressão econômica que se seguiu e, depois, a com a Segunda Guerra.

CCCRJ - O século XX foi, portanto, ao contrário do século XIX, um período bastante difícil para o café. Quais foram as conseqüências disso?

Ruy Barreto - Foi muito conturbado e foi justamente neste período que entidades como o CCCRJ prestaram um serviço extraordinário. Imagine se o café entrasse em bancarrota nesta época? O Brasil era completamente dependente do produto. Sem o café o País não teria como importar petróleo, por exemplo. O café agüentou tudo sozinho. Até porque, após a Segunda Guerra Mundial, veio o período da Guerra Fria, o Muro de Berlim, que simbolicamente "separou" o mundo em Ocidental, que tomava café, e o lado de lá, que tomava chá. E não foi só. Internamente, vivemos ainda uma série de anos conturbados, com a renúncia do Jânio Quadros, com o governo Jango, e aí novamente o café teve um papel muito importante, porque o dinheiro gerado pelo produto ampliou o parque industrial brasileiro, um trabalho que havia sido iniciado por Juscelino. Com isso tudo, só agora se voltou a pensar na conquista de novos mercados. Mas hoje nós esbarramos com outro problema, que é a falta de compreensão do governo para com o papel do café na economia. Não se tem com quem falar no governo sobre café, até porque o produto representa hoje apenas 3% das exportações. Só que são "apenas 3%" para aqueles que não entendem o que o café significa como gerador de empregos e como distribuidor de renda.


CCCRJ - O papel social do café, neste século, tornou-se até mais importante do que o papel de gerador de recursos para a economia global, como no caso das exportações?

Ruy Barreto - Sem dúvida. No caso do Rio de Janeiro, o efeito da decadência da produção de café fluminense foi determinante, por exemplo, para a situação social em que o Estado se encontra hoje. O abandono da cafeicultura contribuiu para a formação das mais de 600 favelas no Rio de Janeiro. Se você perguntar de onde vieram essas pessoas, vai ver que vieram de Campos, Itapiruna, etc, regiões que antes produziam café.
O preço que pagamos pelo não incentivo à cafeicultura no Rio, e pela falta de uma política agrícola global no Brasil, é o caos urbano, o inchamento das cidades, o aumento da insegurança. E o problema é que não há diálogo com o governo sobre essa questão. Não se pode esquecer que o governo tem um papel importante na gestão da política cafeeira e na política agrícola em qualquer lugar do mundo. A maioria dos países zela por sua produção agropecuária. Hoje se vêem as grandes discussões mundiais em torno dos subsídios agrícolas. E o fato é que a agricultura tem que ser subsidiada mesmo, porque ela tem um papel social muito relevante. E numa nação é necessário estabelecer uma política clara para qualquer tipo de produção, que tem aspectos econômicos, a questão política e a questão ética, que engloba o social.

CCCRJ - O senhor foi um dos pioneiros do mercado de café solúvel brasileiro. Como foi a entrada neste mercado e qual o papel dele na abertura de novos mercados?

Ruy Barreto - Dentro da política de abrir novos mercados, optou-se por procurar uma forma de fazer com que a dona-de-casa que consumia chá tivesse a opção de um tipo de café cujo preparo se equiparasse em termos de praticidade. Então surgiu a idéia do café solúvel, no final da década de 60. Na época já se produzia, mas pouco. A Nestlé tinha uma fábrica no Brasil e, mesmo mundialmente, o consumo era pequeno. E o mercado, nestas alturas, já tinha mudado um pouco. Países como Rússia, China, Polônia e outros, apesar de ainda nos encontrarmos no período da Guerra Fria, estavam de certa forma mais acessíveis, ou pelo menos já era possível entrar nestes países. E a conquista dos mercados consumidores de chá só se daria por meio do solúvel. Foi feita então uma concorrência pública e 12 indústrias brasileiras tiveram a concessão - entre cerca de 70 que participaram - e a minha, a Café Solúvel Brasília, em Minas Gerais, foi uma das ganhadoras. Fizemos um trabalho muito bom, partimos para o mercado internacional de forma pioneira e todos tivemos que buscar tecnologia, que aprender a fazer o solúvel, inclusive buscando técnicos lá fora, porque não havia know-how no País. Mas conquistamos os mercados que queríamos, como Inglaterra, Rússia, Japão e, no caso dos Estados Unidos, o sucesso do produto lá foi uma surpresa, pois eles já tinham empresas de solúvel. Mas nós exportamos mais para eles do que para outros países.

CCCRJ - Como o senhor vê o futuro da cafeicultura no Brasil?

Ruy Barreto - Acho que o mais importante é entender o papel social e econômico que o café tem. Hoje estou muito mais ligado à indústria do café solúvel, mas lamento que a produção cafeeira do Rio tenha declinado da forma como declinou. E o CCCRJ prestou e ainda vai prestar um serviço inestimável ao Rio e ao Brasil. Acho que os 100 anos do Centro deveriam ser comemorados nacionalmente. Porque foram esses homens que deram condições a que o País seja o que é hoje. Como eu já disse, não há, na história, similar de um país que tenha saído da condição de mera colônia inviável economicamente e em 200 anos assumisse uma das dez maiores economias mundiais, e isso graças a um produto que impulsionou todo o seu desenvolvimento posterior. Além disso, o café fez a interiorização do País, saindo do litoral e fazendo com que o desenvolvimento entrasse pelo Brasil adentro. E essa é uma epopéia de homens. De grandes homens. Muito antes de o governo entrar intervindo e incentivando o mercado de café, foram os cafeicultores que investiram seu dinheiro no café. Exalta-se muito hoje o aspecto do luxo proporcionado pelo café à elite cafeeira, mas esquece-se a saga que esses homens fizeram do nada. Temos que nos orgulhar da grandeza que o café gerou. O Brasil é produto desse trabalho. Esta é a história que temos que contar e que temos que levar adiante.


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