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Março 2009 - Ano 88 - Nº 829

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Decorridos sete meses da eclosão da crise econômica mundial, ou seja, a partir do setembro negro, o café parece ter sido um dos produtos menos afetados, pelo menos de modo direto, pelos seus efeitos sobre a atividade econômica. Os custos de produção, que aumentaram de modo drástico no final de 2007, não foram impactados negativamente, observando-se, inclusive, recuos de preços em importantes insumos com acentuado peso na sua formação, principalmente defensivos e fertilizantes, explicados pelas enormes quedas dos preços do petróleo.

Do lado do câmbio, a nova realidade mundial forçou a correção de um dos maiores problemas da economia brasileira, representado por uma perversa disparidade na relação real/dólar, impondo a desvalorização da nossa moeda. Houve, com isso, uma recomposição da renda interna da cafeicultura, embora menor do que a desejada, permitindo que a baixa das cotações internacionais observada em todas as commodities no auge da crise – no café próxima de 15% – fosse neutralizada.

O consumo do café parece não ter sido impactado e prossegue evoluindo nos mais importantes mercados, embora a taxas de crescimento menores. Recente estudo divulgado pela NCA (National Coffee Association), dos Estados Unidos, principal consumidor mundial, indica um bom desempenho do consumo do café, não obstante o país tenha sido o mais atingido na retração da economia, com recessão e aumento do nível de desemprego, o que justificariam quedas. No Brasil, segundo maior mercado, a ABIC (Associação Brasileira da Indústria), estima crescimentos a taxas mais modestas.

Esse quadro, complementado pelo bom ajuste entre produção e demanda mundiais, indica um cenário positivo para os preços e sugere que o comportamento do mercado seja orientado mais para os seus fundamentos e menos para os humores da economia. Lembre-se que há algum tempo os mercados de commodities em geral, inclusive o café, tinham os seus preços grandemente afetados pelas notícias econômicas e seguiam raciocínios pragmáticos e curiosos. Por exemplo, a interpretação do mercado de que eventual pacote anunciado pelo governo norte-americano não era suficiente para recuperar a economia levava a quedas expressivas dos preços pela dedução primária de que ocorreria recessão, seguida de desemprego, perda de renda e conseqüente queda generalizada de consumo, sem levar em conta, no caso do café, as singularidades e a estrutura do consumo.

Há, contudo, uma área na qual os efeitos da crise foram e continuam a ser devastadores para o café. Estou me referindo, é claro, ao crédito. Com a crise, a banca internacional reduziu as linhas de crédito concedidas aos bancos brasileiros para o comércio exterior. Com isto, os bancos reduziram as linhas de ACCs (Adiantamentos de Contratos de Câmbio) dadas aos exportadores, e as medidas anunciadas pelo governo limitaram-se à solução dos problemas das instituições financeiras, do repatriamento de capitais e do pessoal dos derivativos, sem alcançar o comercial. A contração do crédito ao comércio exterior, agravada pelo enorme estoque de créditos tributários carregados pelos exportadores, aos quais o governo recusa dar liquidez, está afetando a capacidade comercial das empresas exportadoras e reduzindo o giro de negócios interno, influindo sobre os preços e sobre a renda dos produtores.

Esta questão, que não parece ter solução à vista, exacerba-se, no caso do café, ante a iminência do início da próxima safra. A situação de baixa liquidez para o giro da comercialização da safra cafeeira precisa ser revertida. O CDPC (Conselho Deliberativo da Política do Café), que dispõe sobre o uso dos recursos do FUNCAFÉ para o financiamento da safra, deve debater e refletir seriamente sobre este problema, deixando de lado ações assistencialistas e imprimindo maior eficiência na destinação dos recursos existentes. A permanência do modelo atual, por certo, não ficará impune.

REVISTA DO CAFÉ - INÍCIO
 
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