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Março 2009 - Ano 88 - Nº 829

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Realizou-se, dos dias 25 a 27 de março, a XIV Fenicafé, que reúne os principais eventos especializados em cafeicultura irrigada do país, quiçá do mundo: XIV Encontro, XII Feira e XI Simpósio. Acontece em Araguari, município integrante do triângulo mineiro, dentro da área de cerrado, e é organizado pela Associação de Cafeicultores de Araguari (ACA) e pelo Conselho de Associações de Cafeicultores do Cerrado Mineiro.

Na solenidade de abertura, manhã do dia 25 de março, estiveram presentes as seguintes autoridades: Gilman Viana, secretário de Agricultura do Estado de Minas Gerais; Silas Brasileiro, secretário-executivo do Ministério da Agricultura; Adézio de Almeida Lima, Vice Presidente do Banco do Brasil, Guilherme Braga, diretor-geral do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé); Odair Cunha, deputado federal (PT-MG); Marcos Coelho, prefeito de Araguari (PMDB-MG); Carlos Alberto Paulino da Costa, presidente da Cooxupé; e Francisco Sérgio Assis, presidente do Conselho das Associações de Cafeicultores do Cerrado Mineiro (Caccer).

Vianna fez um firme discurso sobre a necessidade dos produtores se articularem e formularem um discurso mais consistente e persuasivo para que possam convencer a sociedade e os parlamentares sobre a justiça de suas demandas. O secretário observou que “os produtores agrícolas não estão conseguindo participar de forma pró-ativa dos debates ambientais”, enfatizando que, em face das condições democráticas do país, essa deficiência se dá por falta de pesquisa, argumentos e articulação política.

Silas Brasileiro, representante principal do Executivo, usou sua voz suave para fazer duras críticas ao movimento SOS Cafeicultura, responsável por um protesto de produtores realizado recentemente em Varginha. “Não é hora de dar murro na mesa ou acusar o governo”, disse Brasileiro, aos 300 produtores reunidos no salão de palestras do clube Picapau, em Araguari. “A hora é de se articular, negociar, apresentar propostas, e não protestar”, opinou. Contou ainda que “houve parlamentar, liderança eminente, que propôs ao ministro da Agricultura acabar com o CDPC”.

Ainda em seu discurso, Brasileiro lembrou que o setor cafeeiro dispõe de um fundo próprio, o Funcafé, com R$ 3,8 bilhões, o qual não pode ser usado apenas para sanar problemas de endividamento da lavoura. Brasileiro abordou a necessidade de que as propostas sejam discutidas entre os diferentes segmentos. “É preciso trabalhar a cadeia café como um todo. Precisamos desenvolver um sentimento de unidade”, disse. Brasileiro defendeu, por fim, que os produtores se esforcem para “renegociar suas dívidas e honrar seus compromissos”.

Silas Brasileiro anuncia medidas

Alguns minutos depois, em entrevista exclusiva para a Revista do Café, Brasileiro observou que o governo tem feito muito pela cafeicultura. “Reduzimos os juros de 7,5% para 3,5% ao ano, e prorrogamos o prazo das dívidas de 6 para 13 anos”, informou. Este ano, segundo Brasileiro, o governo irá liberar mais de R$ 1 bilhão para o café, sem considerar os R$ 900 milhões para o programa de opções de venda, que deverá ordenar cerca de 3 milhões de sacas. Informou também que está sendo estudada a realização de mais uma edição do Pepro, o programa de leilões do governo, em parceria com o setor privado, para comprar 5 milhões de sacas, o qual contará com R$ 100 milhões, com subsídio de até R$ 20 por saca.

Outras medidas importantes para melhorar a situação do café brasileiro, observou Brasileiro, são: reduzir o imposto europeu sobre o nosso solúvel, atualmente em 9%, bem superior às tarifas cobradas de outros países exportadores; e discutir a possibilidade de realização do draw-back, importação de café com vistas à re-exportação do produto industrializado.

Sobre a safra deste ano (2009/10), estimada oficialmente entre 37 e 39 milhões de sacas, Brasileiro observou que o país tem um carry-over de 12 milhões de sacas, o qual deverá suprir a provável carência de café ao longo dos próximos doze meses. Brasileiro afirmou também que acredita em melhora dos preços internacionais, que deverão se estabilizar num patamar próximo de R$ 300 a saca de 60 kg, já que não há notícia de aumento de produção em outros países.
Os produtores do cerrado entrevistados pela Revista do Café concordam com as críticas de Brasileiro ao SOS Café, incluindo Francisco Sérgio de Assis, presidente do Conselho de Associações de Cafeicultores do Cerrado Mineiro (Caccer). “Não adianta falar de problemas; temos que trazer propostas. O governo tem boa vontade”, explicou Assis, observando que estaria havendo um “ruído de comunicação” entre as lideranças.

Em sua participação durante a abertura da Fenicafé, e depois em entrevista à Revista do Café, Sérgio Assis observou que uma grande ajuda que o governo poderia dar ao cafeicultor seria, através do Banco do Brasil, criar um mecanismo de hedge para os produtores. A idéia, explica Assis, é muito simples: consiste em “hedgear” o financiamento numa determinada quantidade de sacas. Quando o produtor fosse pagar o empréstimo, deveria pagar o valor equivalente àquela mesma quantidade de sacas, no mesmo preço do momento em que ele foi contraído. Assis disse que esse mecanismo é usado em diversos países do mundo, e que ajudaria a reduzir a insegurança e os riscos do produtor. Ele adiantou que diretores do BB mostraram-se receptivos à idéia.

Outra proposta aventada por Assis para melhorar a situação do cafeicultor brasileiro é criar maneiras sustentáveis de explorar as jazidas de fósforo da Amazônia, presentes em reservas indígenas. “São áreas muito pequenas, as quais, se isoladas e exploradas racionalmente, não representarão nenhuma agressão ao ecossistema”, afirmou Assis, depois de lembrar que o aumento do custo do fertilizante tem sido um dos maiores vilões da cafeicultura nacional.

Consumo brasileiro de fertilizantes estável entre 20 e 22 milhões de toneladas

A Revista do Café entrevistou alguns executivos da área de venda de fertilizantes da Mitsui, empresa com participação relevante no mercado. Eles explicaram que a demanda nacional de fertilizantes tem permanecido estável entre 20 e 22 milhões de toneladas ao ano, aí incluindo todos os produtos. No ano passado, disseram eles, houve de fato um abrupto aumento nos preços, atípico, causado por um forte crescimento do consumo na Índia e na China, que provocou uma queda nos estoques globais. O preço chegou a bater R$ 1.500 em agosto, mas voltou a cair no final de 2008. Ao fim de março deste ano, estava em R$ 800 a tonelada, com tendência a subir um pouco (4% ou 5%) ao longo dos próximos meses; no momento (mar/09), afirmaram eles, está no mesmo patamar que se encontrava em igual período de 2008. O preço permanece dentro da média histórica. Eles lembraram que um dos problemas do setor é a concentração dos principais elementos em poucos países: o fósforo é produzido sobretudo por Israel, e o potássio, pelos Estados Unidos. As principais jazidas brasileiras de fósforo localizam-se nas cidades de Araxá (MG), Jacupiranga (SP), Catalã (GO), Lagamar (MG), Irecê (BA), Patos de Minas (MG) e Itapira (MG). A maior jazida fica em Patos de Minas – mas a produção brasileira não é suficiente para abastecer o mercado interno.

Produtor baiano fala sobre cafés especiais

A Fenicafé também nos deu oportunidade de conhecer o casal Gianno Brito de Oliveira e Valéria Vidigal, cafeicultor e artista plástica (especializada na temática café). Oliveira, 43 anos, que coleciona prêmios de qualidade, nos forneceu relevantes dados sobre seu negócio. O produtor, cuja propriedade fica em Barra do Choça, no planalto baiano, explicou que optou por uma cafeicultura fortemente adensada e sem uso de quase nenhum tipo de mecanização. “Temos mão-de-obra abundante na região e, por causa disso, barata.

Empregamos de 300 a 400 pessoas na época da colheita, todas com carteira assinada; fora da colheita, empregamos 45 a 50 pessoas”, informa o produtor, que tem 150 hectares plantados de café, com 10 mil plantas por hectare. Ele adverte, porém, que o modelo não é para todo mundo, pois implica em custos muito altos por hectare e cuidados extremos com a lavoura, com uso de grandes quantidades de insumos. “Eu tenho mantido, ao longo dos anos, uma média de 60 sacas por hectare. Estas lavouras de 10 mil plantas por hectare dão cerca de 70 a 80 sacas por hectare”, esclarece. Ele afirma que já conseguiu uma produtividade recorde de 197 sacas por hectare, numa lavoura de 11 mil plantas / ha, com 5 anos de idade – que é quando ocorre o pico de produção. “Levei diversos técnicos para comprovar este número”, informa.

Oliveira explica que consegue 10 safras em 15 anos, pois é preciso fazer recepa no oitavo ano e a lavoura nova só se torna produtiva com dois anos e meio. Pedimos para ele desenhar um gráfico com um exercício de produtividade por hectare durante este ciclo de 8 anos e ele fez um gráfico assim:

Quando o ciclo se renova, explicou Oliveira, a produção pode vir um pouco mais alta. Ele acredita, todavia, que cerca de 50% dos cafeicultores do planalto baiano não realizam nenhum tipo de trato cultural. Outros 30% fazem um trato “meia-boca”; o restante usa tecnologias avançadas de produção.

Oliveira informa que a mão-de-obra responde por 60% de seu custo de produção e os insumos consomem cerca de 25%, metade com fertilizante, metade com defensivos. Ele explica que “é forçado a produzir café de qualidade porque, na sua região, chove na época da colheita”, o que lhe obriga a só colher café 100% maduro.

O custo de produção direto obtido por Oliveira em 2008, sem contar a depreciação, ficou em R$ 180 a saca de 60 kg, com uma produtividade de 60 sacas por hectare. Ele observou, porém, que, se sua produtividade caísse para 30 sacas por hectare, o custo explodiria para R$ 250.

Tristeza e alegria no café

“Por trás de um homem triste há sempre uma mulher feliz”, diz a canção, e pode-se pensar nela ao observar a atual política cafeeira. A jovem Mariana Caetano, por exemplo, com quem conversamos durante a Fenicafé 2009, é uma mulher feliz.

“Estamos otimistas”, afirma a gerente-geral da Fazenda São Lourenço, localizada em Varjão de Minas, cerrado mineiro. Na contramão do resto do país, a fazenda deverá registrar uma produção maior este ao, 16 mil sacas, contra 12 mil em 2008, em virtude da presença de áreas novas. Mas a razão do otimismo não se resume a isso. Caetano acredita em preços melhores ou estáveis para este ano. Todavia esta ainda não é a causa. A causa, enfim, é o fato da empresa continuar acreditando em seu poder de inovação e conquista dos mercados externos. “Estamos fazendo a nossa primeira exportação direta, para Austrália”, diz a moça, lembrando que, no ano passado, conseguiu vender café por até R$ 390 a saca de 60 kg.

A fazenda, situada em terreno totalmente plano, tem 420 hectares irrigados e acaba de plantar mais 120 hectares, também irrigados, usando as variedades Icatu e Catuaí. “Plantamos também 14 hectares de bourbon”, informa Caetano, observando que a variedade, embora tenha produtividade baixa, possui compradores cativos no mercado de cafés gourmet.
E os homens tristes de que fala a canção de Chico Buarque? Bem, nos idos de março último, mais exatamente na véspera do assassinato de Júlio César (15 de março do ano 44 antes de Cristo), 12 a 15 mil pessoas, segundo a polícia, protestaram em Varginha, sul de Minas, contra o governo federal. O protesto, organizado pelo Conselho Nacional do Café (CNC), mexeu com os brios de produtores e lideranças do cerrado mineiro.

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