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Março 2009 - Ano 88 - Nº 829

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O híbrido natural entre as espécies Coffea arábica e Coffea canephora encontrado na Ilha de Timor foi decisivo e valioso para os programas de melhoramento visando a resistência à Hemileia vastatrix, agente causador da ferrugem alaranjada do cafeeiro. Desde que introduzido no Brasil no final da década de 60, numerosas progênies derivadas dos mais diversos cruzamentos resultaram no desenvolvimento de cultivares resistentes à ferrugem, selecionadas nas principais instituições de pesquisa. Agora, com o aprimoramento de análises de avaliação da qualidade da bebida e a intensificação de concursos, cultivares derivados de Híbrido de Timor têm surpreendido provadores e obtido bons resultados.

Os resultados de pesquisas desmistificam a idéia de que cultivares derivados destes cruzamentos não teriam potencial para o mercado de cafés especiais. Destacam-se os estudos realizados na Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig), Universidade Federal de Viçosa (UFV), Universidade Federal de Lavras (Ufla), Instituto Agronômico de Campinas (IAC) e Instituto Agronômico do Paraná (Iapar), todas instituições fundadoras do Consórcio Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento do Café (CBP&D/Café), administrado pela Embrapa Café.

Potencial para especiais

Tese defendida por Marcelo Cláudio Pereira, na Ufla, concluiu que a ascendência das cultivares e progênies testadas, oriundas ou não do Híbrido de Timor, não apresentaram o desempenho qualitativo afetado. O trabalho analisou as características químicas, físico-químicas e sensoriais de 21 cultivares de cafeeiro arábica. A análise sensorial realizada no Laboratório de Qualidade do Café da Epamig evidenciou como potenciais produtoras de cafés especiais 11 materiais entre cultivares e progênies, sendo seis destes derivados de Híbrido de Timor. A análise seguiu a metodologia proposta pela Brazil Speciality Coffee Association (BSCA), tendo como atributos avaliados: bebida, doçura, corpo, acidez, sabor, gosto remanescente, balanço e aspecto.
Foco de estudos

Pesquisador da Epamig, Antônio Alves Pereira, o Tonico, é um dos grandes nomes do melhoramento do cafeeiro com ênfase na seleção de progênies derivados do Híbrido de Timor. A equipe coordenada por ele foi responsável pelo lançamento de oito cultivares de café. No Centro Tecnológico da Zona da Mata (CTZM) e na UFV são desenvolvidos projetos de pesquisa pertencentes ao Programa Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento do Café (PNP&D/Café), coordenado pela Embrapa Café. Resultados de um desses estudos foram apresentados na última Conferência Internacional do Café (ASIC). Trabalho desenvolvido por pesquisadores da Epamig e UFV concluiu que novas cultivares derivadas de Híbrido de Timor, conduzidas em Três Pontas, São Sebastião do Paraíso e Patrocínio, todas em Minas Gerais, apresentam potencial para o mercado de cafés especiais. Seguindo a metodologia proposta pela BSCA, Cultivares Catiguá MG2, Catiguá MG1, Araponga MG1, Sacramento MG1 e a progênie H419-6-2-5-3 receberam pontuação acima de 90 numa escala de 100 pontos.

Nova imagem

Um dos juízes da Speciality Coffee Association of America (SCAA), Jorge Hiroki Wada, se surpreendeu ao provar uma amostra de Catiguá MG2, cultivado na Fazenda Experimental da Epamig, em Patrocínio, em 2007. “Foi o melhor café que bebi durante todo o ano”, enfatiza. Seguindo a metodologia americana, a cultivar recebeu pontuação em torno de 90 pontos, que segundo o provador, é algo extraordinário para um café cultivado nas condições do cerrado. Ele acrescentou que a amostra tinha acidez típica do Sul de Minas e aroma cítrico parecido com a laranja Bergamota. A boa impressão da cultivar Catiguá MG 2 também foi sentida pelo instrutor e chairman do comitê de normas técnicas da SCAA, Manuel Alves. “Esta foi a primeira vez em que um híbrido provou a um nível sensorial acima da média”, comenta o instrutor, lembrando que novas análises sensoriais devem ser realizadas para confirmação dos atributos de qualidade.
Para Ensei Neto, engenheiro químico e consultor em Marketing e Qualidade de Cafés Especiais, em todo cruzamento há uma mescla das diferentes características inerentes a cada linha-mãe, sendo que uma mesma cultivar possui desempenho diferente em localidades distintas; sobremaneira com cultivares híbridos.

Manejo adequado

O programa de melhoramento do Iapar também utiliza uma linha de Sarchimores Villa Sarchi X Híbrido de Timor para o desenvolvimento de novas variedades, como foi o caso do Iapar 59, IPR 98, IPR99, IPR 104, IPR107 e IPR 108. De acordo com o pesquisador Tumoru Sera, para se obter o potencial de qualidade das cultivares com ascendência híbrida, devem ser respeitadas suas características fisiológicas, com cuidados especiais no manejo, utilização racional do espaçamento e adubação equilibrada. Segundo ele, materiais que levaram 30 anos de seleção muitas vezes não apresentam o potencial de qualidade esperado devido a manejos inadequados.

Resgate genealógico

O IAC acaba de lançar a publicação “Melhoramento Genético de Coffea Arábica: Transferência de genes de resistência a Hemilia Vastrix do Híbrido de Timor para a cultivar Villa Sarchi de Coffea arábica”, de autoria do pesquisador do IAC, Luiz Carlos Fazuoli e do pesquisador do Centro de Investigação das Ferrugens do Cafeeiro (CIFC), Aníbal Jardim Bettencourt. A publicação faz um resgate histórico da população originada do Híbrido de Timor, com destaque para as cultivares desenvolvidas nos centros experimentais do IAC, EPAMIG, UFV, Iapar e Fundação Procafé/MAPA.

O IAC recebeu do CIFC, a partir de 1968, numerosas progênies F2 e F3, derivadas dos mais diversos cruzamentos de Híbrido de Timor com cultivares de C. arábica, que resultaram, em 2000, no lançamento das cultivares Tupi e Obatã. No IAC, muitos cruzamentos foram também realizados entre Híbrido de Timor CIFC 832/1 e CIFC 832/2 com as cultivares Catuaí, Mundo Novo, Acaiá e Icatu.

A cultivar Obatã mereceu destaque em trabalho desenvolvido pela estudante da Université de Rennes (França), Vanessa Paulain, orientada pelos pesquisadores do IAC, Therezinha de Jesus Salva e Oliveiro Guerreiro Filho. Em análise das variavéis que influenciam a qualidade do café em concursos promovidos pela BSCA, o Obatã apresentou ótimo desempenho, com lotes finalistas em duas das três edições analisadas (2004 e 2006). Das amostras de Obatã selecionadas nas primeiras fases dos concursos, grande porcentagem permaneceram até a fase final, com a chancela de um júri internacional.

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