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Março 2009 - Ano 88 - Nº 829

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Fábio Jorge, pequeno agricultor, jovem, anda famoso na região de Valença (RJ). Ele tira 95 litros de leite, por dia, ordenhando cinco vacas. Mais ainda. Realiza o prodígio da produção com apenas 0,5 hectare de terra, tamanho de um campo de futebol. Um fenômeno.

Com apoio de José Rogério, médico veterinário, o ousado produtor revolucionou o sítio da família. Há um ano ele começou a participar de um projeto sobre gerenciamento de propriedades leiteiras, parceria carioca entre Embrapa, Federação da Agricultura e Prefeitura local. Pois é. Existe mais que praia no Rio de Janeiro.

O exemplo ajuda na reflexão sobre como enfrentar a tremenda crise que se abate sobre a economia brasileira, atingindo fortemente o setor agrícola. Desde o ano passado, antes do plantio da atual safra, que começa a ser colhida, já se percebia recuo do crédito rural, comprimindo as aquisições de insumos agrícolas. Com menor uso de tecnologia, a estimativa mais recente do governo indica uma queda de 6,1% na safra brasileira de grãos.

A restrição do financiamento encontrou os produtores rurais apertados no caixa. O preço dos fertilizantes estourou quando o petróleo subiu para 140 dólares o barril. Para não falar do óleo diesel, do sal mineral, do arame de cerca, dos defensivos... tudo sobe com o petróleo. Curioso é que agora, tendo o barril caído para 40 dólares, pouco recuaram os preços na roça. A perversa lógica econômica vale na subida, nunca na descida. Estranho.

Por essas e outras aumenta o endividamento agrícola. O problema vem lá de trás, época inflacionária, quando o produtor rural financiava uma máquina e devia quatro. Os bancos deitaram e rolaram na chegada do Plano Real, engordando os débitos a receber. Sucessivas renegociações não obtiveram êxito, ainda mais considerando a ocorrência, mais recentemente, de três fortes secas, localizadas no sul-sudeste. Fora a malandragem daqueles que emprestam para nunca pagar, contando sempre com a prorrogação das dívidas no Congresso. Tudo somado, estima-se que a dívida rural, apenas com o sistema oficial de crédito, alcance 85 bilhões de reais. Somando-se a inadimplência com as tradings e com fornecedores, deve suplantar 100 bilhões. Quase uma safra inteira.

A crise financeira mundial chega para encontrar fragilizada a agricultura nacional. Muitas incertezas rondam o campo. Frigoríficos solicitam concordata, derrubando a pecuária. Os preços internacionais estão fracos. Aparecem calotes nas exportações. Ninguém arrisca dizer como será o próximo plantio, com reflexos negativos em 2010.

Nesse turbulento cenário, olhando para frente, pergunta-se: o que vai acontecer com o agricultor? Para muitos, certamente, vai aumentar o desânimo, elevar o pessimismo. Alguns, desgraçadamente, vão quebrar, perdendo patrimônio. Outros, entretanto, na contramão da desgraceira, se manterão altivos e otimistas. Passada a crise aguda, da qual ninguém escapará, irão progredir. Quem estará nessa?

Um roteiro do progresso começa com cinco questões básicas. Enfrentá-las será fundamental para superar a crise, preparando-se para prosperar no campo. Primeiro, escaparão da quebradeira aqueles agricultores que mantiverem atitude pró-ativa, não se entregando ao fantasma da economia. Sabe-se que, por pior que sejam os problemas econômicos, as adversidades sempre criam novas oportunidades. Descobri-las será uma virtude.

Segundo, vai seguir em frente no campo quem tiver a humildade de aprender. As crises carregam boas lições. Nas épocas de elevada prosperidade, bons preços, mercado firme, fica fácil lucrar na atividade. Com vacas gordas, a turma relaxa, gasta dinheiro à toa, descuida do negócio. Mas quando as vacas emagrecem, sobrevive apenas quem tem competência. Hora de mostrar valor.

Em terceiro, esse apuro poderá ajudar a romper definitivamente com o individualismo, traço negativo da mentalidade rural. A dureza da situação impõe seguir a cartilha do associativismo e do cooperativismo. Grande parte dos agricultores, aliás, já descobriu que sozinho, isolado, quebra a cara no mercado. Juntos, organizados, vingam mais fácil.

Em quarto lugar, cada momento difícil que afeta a agricultura ressalta a importância do profissionalismo. Acabou o tempo de ser amador, agricultor quebra-galho, gigolô da terra. Investir em tecnologia e melhorar a gestão da propriedade se torna obrigatório. A competição produtiva exige produtividade e qualidade.

Finalmente, vai prosperar no campo, passada a vicissitude da conjuntura, quem adotar práticas conservacionistas e trabalhar na agenda da sustentabilidade. Os agricultores de amanhã serão amigos, não adversários, do meio ambiente. Cuidarão de proteger as florestas, a água, o solo, a biodiversidade, a paisagem da natureza. Novas tecnologias, boas práticas agrícolas misturadas com gestão ambiental.

Fábio Jorge bem representa o novo agricultor brasileiro. Imagine ele enfrentando a crise com vaquinhas esfomeadas, cheias de carrapatos. Nem pensar. Sua atitude ousada, empreendedora, associativa, o levou a entrar num projeto de melhoria tecnológica. A dificuldade do presente também vai afetá-lo, óbvio, pois o litro do leite hoje mal paga a conta do remédio do gado. Mas ele, com certeza, passado o momento atual, vai prosperar.

Tal possibilidade foi testemunhada dias atrás, em Barra do Piraí, pelos participantes do encontro da Fazenda Legal, um interessante programa conduzido pela Federação da Agricultura do Rio de Janeiro.

Enquanto a velha guarda vocifera as mazelas do campo, os jovens empreendedores rurais apostam no futuro. Em meio à perversa crise, brota a esperança na roça.

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