A
ocorrência de dois incidentes recentes envolvendo
o café brasileiro exportado para o Japão
suscitou o questionamento das práticas agrícolas
adotadas e do uso que se tem feito dos agroquímicos
nas lavouras cafeeiras.
Motivados pelos incidentes ocorridos
recentemente com o café exportado para o Japão,
a SDA (Secretaria de Defesa Agropecuária) do
Ministério da Agricultura, Pecuária
e Abastecimento (MAPA) e o CECAFÉ uniram esforços
e decidiram adotar uma série de ações
para enfrentar objetivamente o problema na busca de
soluções. No início do ano, a
alfândega japonesa detectou excesso de dois
resíduos de agroquímicos: piraclostrobina
e flutriafol, em lotes de café brasileiro.
São dois casos isolados, mas que colocam em
estado de alerta as relações comerciais
com o quarto maior importador do nosso café.
Desde então, o Japão tem adotado uma
fiscalização minuciosa para determinar
outras possíveis ocorrências. Diante
dessa situação, o MAPA e o CECAFÉ
estão se empenhando numa força-tarefa
para preservar a imagem do produto nacional, convocando
todos os setores da cadeia produtiva. Inicialmente
encontraram-se com membros da indústria e fabricantes,
no Ministério da Agricultura, em Brasília.
Como resultado, o governo brasileiro fez uma solicitação
formal às autoridades japonesas no sentido
de que agilizassem os estudos toxicológicos
dos agroquímicos em questão, para definição
de limites máximos, bem como adotassem, para
a piroclostrobina, os limites estabelecidos no Codex
Alimentarius adotados no âmbito da OMC, de 0,3ppm,
ou seja, 30 vezes acima daquele vigente no Japão.
Depois
com as cooperativas, que mantém contato
direto com os produtores e com agrônomos
para identificar os agentes agroquímicos
mais utilizados nas lavouras cafeeiras e cujos
limites máximos de resíduos precisam
ser ajustados à legislação
japonesa, trabalho coordenado por Antônio
Augusto de Magalhães, da
COOXUPÉ. Na mesma ocasião, foram
apresentadas diversas palestras, sobre a importância
do mercado japonês para o Brasil, pelo Diretor
Geral do CECAFÉ, sobre a coleta e preparação
de amostras pelo Dr. Arlindo Bonifácio,
do MAPA, e explanação sobre os LMRs
pela Dr. Heloisa Toledo, especialista na área,
Lidia Nunes, da ANVISA, e Antônio Miyazaka,
Chefe do Setor de Fiscalização de
Agrotóxicos do MAPA. |
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No início de agosto, um nova reunião,
realizada na sede do CECAFÉ em São Paulo,
trouxe mais uma vez representantes das cooperativas,
dos produtores e indústria do café,
do Sindicato Nacional da Indústria de Produtos
para Defesa Agrícola (SINDAG) e da EMBRAPA
para debater juntos os últimos acontecimentos,
expor idéias e colocar em prática um
plano de ação para evitar futuras surpresas.
Guilherme Braga Pires, diretor geral do CECAFÉ,
abriu o encontro com a apresentação
do relatório de uma pesquisa encomendada pela
All Japan Coffee Association, que congrega as empresas
da indústria de café do Japão,
sobre a produção, o uso e a regulamentação
de agroquímicos nos cafezais brasileiros.
Apesar de o Brasil figurar entre os grandes consumidores
de agentes químicos, a pesquisa deixa claro,
no entanto, as diferenças entre os limites
máximos de resíduos permitidos pela
legislação de cada país. O ponto
de partida foi a lista de agroquímicos ordenada
na reunião anterior e atualizada por Antonio
Augusto de Magalhães. Ao final, chegou-se a
um total de 16 produtos considerados problemas, isto
é, em desacordo com as normas japonesas, ainda
que a sua lista positiva dos agroquímicos,
formalizada em 2006, não se baseie completamente
em estudos toxicológicos. “Quando o Japão
desconhece um agroquímico, estabelece para
ele um limite de tolerância padrão, de
0,01 ppm, às vezes, muito abaixo dos níveis
indicados no Codex Alimentarius”, explicou Magalhães.
Isso acontece com pelo menos dez agroquímicos
listados, incluindo o flutriafol e a piraclostrobina.
O
passo seguinte foi incumbir o SINDAG de reunir
as empresas fabricantes desses defensivos para
uma nova reunião agendada para setembro,
onde será discutida a responsabilidade
de cada laboratório pelo produto fabricado
e pela preparação de dossiês
técnicos que habilitem ao registro no Japão.
“É importante saber o que cada indústria
está fazendo com seus produtos”,
comentou Antônio Miyasaka,
do MAPA, que adiantou a informação
de que o governo brasileiro já recebeu
a comunicação das autoridades sanitárias
no sentido da acolhida do pedido de aplicação
do limite do Codex Alimentarius no caso da piraclostrobina,
0,3 ppm. |
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O Japão indicou que está colocando a
questão em processo de audiência pública,
que pode exigir de 3 meses a 5 meses para conclusão
final. Os outros laboratórios envolvidos na
produção dos agroquímicos que
não possuem registro no Japão, apontados
na lista, são Syngenta, Milenia, Iharabras,
Dow, Basf, Cheminova e Bayer.
A necessidade de conscientização dos
exportadores e produtores sobre os limites máximos
de resíduos adotados pelo Japão ocupou
o ponto seguinte da pauta. O CECAFÉ vem realizando
o monitoramento dos cafés exportados através
da realização de exames laboratoriais
pela QUIMIPLAN, credenciada pelo MAPA. A etapa seguinte
consiste em trabalhar de perto com os produtores,
com a realização de encontros e dias
de campo. “A EMBRAPA – que passou a integrar
o grupo – tem papel importante nessa questão”,
salientou Guilherme Braga. Suas cartilhas de boas
práticas deste ano, ainda em linha de produção,
poderão incluir o assunto, como sugeriu Paulo
Cesar Afonso Junior, do departamento de pesquisa do
café da EMBRAPA. “Os treinamentos à
distância, via TV, e os fóruns são
outras ferramentas educativas eficientes”, acrescentou
Junior. A rastreabilidade também foi discutida.
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Aproveitando
a ocasião, Miyazaka adiantou os planos
do Ministério da Agricultura para o programa
de monitoramento do café em várias
regiões, como já acontece com outros
produtos, como leite e ovos. A ideia, segundo
ele, é realizar análises de multiresíduos
em amostras aleatórias a partir do ano
que vem, o que dispensará então
os exames ora realizados em todos os embarques.
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Uma
iniciativa importante e em tempo para evitar novos
episódios relacionados aos maus usos de agroquímicos,
já que a grande maioria dos cerca de 320 mil
cafeicultores brasileiros são pequenos produtores,
o que dificulta um acompanhamento detalhado.
À
frente Arlindo Bonifácio, do MAPA;
Heloisa Toledo, especialista; e Lidia Nunes,
da ANVISA |
Diretor
do Departamento de Fiscalização
de
Produtos Agrícolas, Girabis Ramos, e
os
membros da Embaixada Japonesa |
Realizou-se, também, entre as ações
voltadas para uma discussão aberta e ampla
sobre o tema, reunião de trabalho no MAPA,
em Brasília, a pedido do Secretário
para Assuntos Agrícolas da Embaixada do Japão,
Shuhei Miyaji. Coordenado pelo Diretor do Departamento
de Fiscalização de Produtos Agrícolas,
Girabis Evangelista Ramos, e com a presença
da Assessora Econômica da Embaixada, Cynthia
Sekiguchi, do Diretor Geral do CECAFÉ e de
representantes das principais empresas exportadoras
para o Japão, o encontro serviu para uma apresentação
detalhada das iniciativas em curso e dos procedimentos
adotados pelo Japão. O Adido Agrícola
reconheceu a importância do trabalho que vem
sendo feito e do compromisso das autoridades brasileiras
para a solução do problema.
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