Home
Porto do Rio Consolida Retomada das Exportações de Café
Multiterminais Amplia Estrutura Operacional
Setembro 2009 - Ano 88 - Nº 831

AVANÇAR
07
VOLTAR
 

Foi muito bom viajar por algumas regiões do interior do Norte da Itália e da Espanha e conhecer pequenas cidades, vilas e a vida no campo. Fiz o caminho inverso dos meus avós, que vieram, ainda jovens, pouco mais de um século atrás (entre 1885 e 1900), para viver e trabalhar como colonos no Brasil.

Em Soave, onde nasceram, uma pequena cidade próxima a Verona, na região do Veneto, Itália, eles, como mais cerca de 300 mil moradores daquela região, deixaram suas casas para viver em nosso pais, atraídos pelo governo brasileiro da época, que oferecia transporte gratuito nos navios que de lá partiam. Vieram trabalhar nas Fazendas de café, de São Paulo ou em colônias agrícolas, que na época eram abertas no Rio Grande do Sul, em Minas Gerais e no Espírito Santo.

Pude me sentir em casa, aquela da minha família, lá em Santa Teresa-ES, pois a gente que encontrei no campo da Europa, sua alegria e sua língua, as casas, a comida, tudo era semelhante ao que vivi em minha infância.


Plantio de videiras em Soave, Itália, com irrigação

Tive especial interesse pelo que ocorria no campo, na atividade agrícola, afinal este é o ramo em que trabalho, desde que nasci, e como profissional há mais de 44 anos. Observei plantações de uva, oliveira, frutas e verduras e diversos cereais, como trigo, cevada, milho e colza.

Evidentemente, só não vi cafezais. Café só na xícara, e caro, transformando nossa saca de grãos, que exportamos pelo valor de cerca de R$ 250,00, em bebida que chega ao consumidor final, seu valor atinge cerca de R$ 20.000,00.

Na agricultura de lá observei o seguinte:
1) O agricultor europeu tem uma profissão valorizada, bem reconhecida pelo consumidor como qualquer outra, não como aqui no Brasil, onde o produtor é considerado um caipira, uma profissão inferior, a qual os jovens não querem seguir;

2) As pessoas da família do agricultor são as principais que trabalham nas atividades agrícolas, como também ocorre na agricultura dos EUA. Aqui mesmo médios e pequenos produtores vem entregando as atividades em suas propriedades aos empregados, e eles, amparados por Leis que lhes garantem muito mais direitos do que deveres, se importam pouco com o trabalho e não se interessam pelos resultados;

3) O subsídio à atividade agrícola existe na Europa, e acho natural, pois toda a população depende dos produtos da agricultura, os alimentos, para viver. Aqui a palavra subsídio ou ajuda é proibida. Só mesmo alguns setores, como agora a indústria automobilística, ganham isenção de impostos, enquanto a agricultura, que gera mais de 1/3 dos empregos e de nossas divisas, recebe pouco apoio e ainda arca com os custos elevados pela falta de boa infra-estrutura, com estradas esburacadas, portos lotados, obsoletos e com altas taxas, etc. Precisamos, todos, saber que não existe almoço de graça. A atividade agrícola tem riscos elevados, pelo clima, pelo mercado instável, manipulado pelas bolsas e fundos, e pelas políticas somente de curto prazo. A agricultura é muito importante e precisa ser bem dirigida em nosso pais, com políticas estruturais e de longo prazo, para maior garantia dos investimentos no campo;

4) As terras são, no geral, muito férteis, sendo as áreas agrícolas muito bem aproveitadas e tratadas com boa tecnologia;

5) Boa parte dos produtos agrícolas é ofertada ao mercado após processamento ou industrialização, como forma de lhes agregar valor, citando-se como exemplos o óleo de oliva, o vinho, queijos, embutidos, doces etc.

O que muito me impressionou foi o respeito à tradição e o amor que a gente dedica ao campo. Vi pessoas da cidade arrendando pequenas áreas próximas para, nos finais de semana, trabalharem no campo, cultivando verduras e frutas como se aquilo fosse apenas uma atividade de lazer. Mesmo as mulheres fazem isso. Aqui, trabalhar no campo é considerado um castigo.

Em conclusão, senti que precisamos mudar nossa visão da agricultura. É preciso estimular os jovens a permanecerem no campo, nas vilas ou pequenas cidades próximas, dando continuidade à atividade de seus ascendentes.

Deve-se valorizar e apoiar o trabalho dos agricultores, garantindo-lhes renda adequada e apoiando primeiro aqueles que já lutam na terra. Distribuir áreas e investir com prioridade naqueles que vivem à margem das estradas, sem qualquer ligação com o setor, com certeza pouco vai resultar, só mesmo em votos.

REVISTA DO CAFÉ - INÍCIO
 
Rua da Quitanda, 191 - 8º andar - Centro - Rio de Janeiro - Brasil - Tel: (21) 2516-3399 / Fax: (21) 2253-4873 - email: riocafe@cccrj.com.br
Todos os direitos reservados - copyright 2006 - Centro de Comércio do Café do Rio de Janeiro - Desenvolvido por Ivan F. Cesar