Foi
muito bom viajar por algumas regiões do interior
do Norte da Itália e da Espanha e conhecer
pequenas cidades, vilas e a vida no campo. Fiz o caminho
inverso dos meus avós, que vieram, ainda jovens,
pouco mais de um século atrás (entre
1885 e 1900), para viver e trabalhar como colonos
no Brasil.
Em Soave, onde nasceram, uma pequena cidade próxima
a Verona, na região do Veneto, Itália,
eles, como mais cerca de 300 mil moradores daquela
região, deixaram suas casas para viver em nosso
pais, atraídos pelo governo brasileiro da época,
que oferecia transporte gratuito nos navios que de
lá partiam. Vieram trabalhar nas Fazendas de
café, de São Paulo ou em colônias
agrícolas, que na época eram abertas
no Rio Grande do Sul, em Minas Gerais e no Espírito
Santo.
Pude me sentir em casa, aquela da minha família,
lá em Santa Teresa-ES, pois a gente que encontrei
no campo da Europa, sua alegria e sua língua,
as casas, a comida, tudo era semelhante ao que vivi
em minha infância.

Plantio
de videiras em Soave, Itália, com irrigação
Tive especial interesse pelo que ocorria no campo,
na atividade agrícola, afinal este é
o ramo em que trabalho, desde que nasci, e como profissional
há mais de 44 anos. Observei plantações
de uva, oliveira, frutas e verduras e diversos cereais,
como trigo, cevada, milho e colza.
Evidentemente, só não vi cafezais. Café
só na xícara, e caro, transformando
nossa saca de grãos, que exportamos pelo valor
de cerca de R$ 250,00, em bebida que chega ao consumidor
final, seu valor atinge cerca de R$ 20.000,00.
Na agricultura de lá observei o seguinte:
1) O agricultor europeu tem uma profissão valorizada,
bem reconhecida pelo consumidor como qualquer outra,
não como aqui no Brasil, onde o produtor é
considerado um caipira, uma profissão inferior,
a qual os jovens não querem seguir;
2) As pessoas da família do agricultor são
as principais que trabalham nas atividades agrícolas,
como também ocorre na agricultura dos EUA.
Aqui mesmo médios e pequenos produtores vem
entregando as atividades em suas propriedades aos
empregados, e eles, amparados por Leis que lhes garantem
muito mais direitos do que deveres, se importam pouco
com o trabalho e não se interessam pelos resultados;
3) O subsídio à atividade agrícola
existe na Europa, e acho natural, pois toda a população
depende dos produtos da agricultura, os alimentos,
para viver. Aqui a palavra subsídio ou ajuda
é proibida. Só mesmo alguns setores,
como agora a indústria automobilística,
ganham isenção de impostos, enquanto
a agricultura, que gera mais de 1/3 dos empregos e
de nossas divisas, recebe pouco apoio e ainda arca
com os custos elevados pela falta de boa infra-estrutura,
com estradas esburacadas, portos lotados, obsoletos
e com altas taxas, etc. Precisamos, todos, saber que
não existe almoço de graça. A
atividade agrícola tem riscos elevados, pelo
clima, pelo mercado instável, manipulado pelas
bolsas e fundos, e pelas políticas somente
de curto prazo. A agricultura é muito importante
e precisa ser bem dirigida em nosso pais, com políticas
estruturais e de longo prazo, para maior garantia
dos investimentos no campo;
4) As terras são, no geral, muito férteis,
sendo as áreas agrícolas muito bem aproveitadas
e tratadas com boa tecnologia;
5) Boa parte dos produtos agrícolas é
ofertada ao mercado após processamento ou industrialização,
como forma de lhes agregar valor, citando-se como
exemplos o óleo de oliva, o vinho, queijos,
embutidos, doces etc.
O que muito me impressionou foi o respeito à
tradição e o amor que a gente dedica
ao campo. Vi pessoas da cidade arrendando pequenas
áreas próximas para, nos finais de semana,
trabalharem no campo, cultivando verduras e frutas
como se aquilo fosse apenas uma atividade de lazer.
Mesmo as mulheres fazem isso. Aqui, trabalhar no campo
é considerado um castigo.
Em conclusão, senti que precisamos mudar nossa
visão da agricultura. É preciso estimular
os jovens a permanecerem no campo, nas vilas ou pequenas
cidades próximas, dando continuidade à
atividade de seus ascendentes.
Deve-se valorizar e apoiar o trabalho dos agricultores,
garantindo-lhes renda adequada e apoiando primeiro
aqueles que já lutam na terra. Distribuir áreas
e investir com prioridade naqueles que vivem à
margem das estradas, sem qualquer ligação
com o setor, com certeza pouco vai resultar, só
mesmo em votos.
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