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Setembro 2009 - Ano 88 - Nº 831

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No dia 20 de junho deste ano, teve lugar, na sede da Coopercanol, em Varre-Sai, noroeste do Rio de Janeiro, um evento para comemorar o que é considerado o primeiro passo de um grande projeto de revitalização da cafeicultura fluminense. A Secretaria de Agricultura do Estado do Rio de Janeiro, representada pelo próprio titular da pasta, Christino Áureo, doou à Coopercanol uma máquina volante de beneficiamento de café, marca Pinhalense, avaliada em 250 mil reais. O secretário prometeu entregar outro modelo, similar, dentro de alguns meses. A máquina tem uma tecnologia que permite, além do beneficiamento convencional, separar o café por peneiras (tamanho dos grãos), facilitando o trabalho posterior de padronização, que é a última etapa na preparação do café para sua venda ao exterior ou ao mercado interno.

Além do secretário e do sub-secretário, Alberto Bonfati, participaram do evento o presidente da Associação de Cafeicultores do Rio de Janeiro (ASCARJ), Efigênio Salles; o superintendente do Centro de Comércio de Café do Rio de Janeiro, Guilherme Braga Neto; o prefeito de Varre-Sai, Everardo Ferreira (PP); José Ferreira Pinto, representante do Ministério da Agricultura; Marcio Vargas, diretor da Coopercanol; e Jean Samel Rocha, presidente da Cooperafa. Cerca de duzentos produtores da região compareceram à solenidade.


Secretário de Agricultura RJ, Christino Áureo
e Prefeito de Varre-sai, Everardo Ferreira

Efigênio Salles, presidente da Ascarj

Christino Áureo comprometeu-se pessoalmente a concretizar o projeto de transformar o armazém da Coopercanol no primeiro grande módulo de rebeneficiamento de café do Rio de Janeiro, com capacidade para processar a produção total do estado. Em declaração à Revista do Café, Áureo afirmou que “a Secretaria está comprometida com a realização do projeto”.
O módulo de rebeneficiamento, que é o eixo central de um projeto a ser financiado – a fundo perdido – pelo BNDES, através de uma linha tipo DRS (Desenvolvimento Regional Sustentável), suprirá a principal carência da cafeicultura fluminense, o ponto-nevrálgico dos problemas que ela vem enfrentando nos últimos anos, possibilitando – essa é a esperança de todos – uma recuperação do volume de produção num estado que goza de um consumo doméstico de quase 2 milhões de sacas.

Cooperativa de Itaperuna incorpora a Coopercanol

A viabilização do projeto só foi possível através de uma hábil articulação política entre as diversas instituições interessadas no projeto, e, sobretudo, pela incorporação da Coopercanol, que enfrentava problemas fiscais, pela Cooperafa, sediada na vizinha Itaperuna, que conta com uma moderna e competente administração, além de excelente saúde fiscal e financeira.
Com esses projetos, a sofrida cafeicultura fluminense – cuja produção não passa de 1% do total colhido no país e, apesar disso, é a maior empregadora e a principal atividade de muitos municípios do norte do estado – começa a olhar o futuro com um pouco menos de pessimismo. Devido à ausência de um módulo de rebeneficiamento, o café produzido no Rio é hoje beneficiado em outros estados, para onde não raramente é levado de forma clandestina. As consequências para a atividade são desastrosas. Citamos algumas:

1) A produção não é computada no estado, gerando distorções estatísticas que prejudicam o repasse de recursos oficiais para a cafeicultura fluminense. Estima-se que aproximadamente um terço da produção fluminense seja registrada como de Minas Gerais ou Espírito Santo. A Conab estima que o Rio de Janeiro deve produzir 265 mil sacas este ano, o que representaria 0,7% da produção nacional. Alguns especialistas acreditam, no entanto, que este volume poderia subir até 350 mil sacas, se existisse uma estrutura de rebeneficiamento no estado, apenas com o “reajuste” estatístico.

2) O café é comprado por atravessadores pouco profissionais, que pagam preço abaixo do mercado, criando um ambiente de negócios viciado e clandestino, sem emissão de notas fiscais - trazendo prejuízo para a receita do estado e dos municípios, e, mais uma vez, reduzindo a visibilidade da atividade nos mapas econômicos que as autoridades usam para elaborar políticas públicas.

3) Há grande prejuízo para as torrefadoras instaladas no Rio, obrigadas a comprar 90% de sua matéria-prima em outros estados, o que implica em pagamento adiantado dos impostos correspondentes – enquanto indústrias concorrentes com sede em São Paulo, Minas ou Espírito Santo, ao adquirirem café em seus próprios territórios, tem liberdade para pagar o ICMS com 30 dias ou mais de prazo. Essa vantagem fiscal, para um setor com graves problemas de capital de giro, é apontada como um dos fatores que tem levado as torrefadoras fluminenses a perderem cada vez mais mercado para concorrentes de outras unidades federativas.

O pouco volume produzido no estado, no entanto, não anima o setor privado a investir num centro de rebeneficiamento, pois somente o poder público poderia suprir essa lacuna. Em função do largo espaço de tempo necessário entre o investimento e seu retorno financeiro ao investidor, os recursos teriam que ser a fundo perdido, sob a rubrica de verbas destinadas ao desenvolvimento social. Não é muito dinheiro, todavia. A instalação de um moderno módulo de rebeneficiamento é orçada em 1,3 milhão de reais. O Banco do Brasil tornou-se operador do projeto, que está sendo formatado para uma linha de financiamento do BNDES do tipo DRS (Desenvolvimento Regional Sustentável). João Edson Mendes Viana, gerente-geral da agência do Banco do Brasil de Varre-Sai, enviou-nos o texto do projeto, que tem como parceiro diversas instituições, como a Secretaria de Agricultura do Estado do Rio, a prefeitura de Varre-Sai, as cooperativas envolvidas e a Associação de Cafeicultores do Estado do Rio de Janeiro (ASCARJ).

As máquinas volantes de beneficiamento (um beneficiador instalado sobre a carroceria de um caminhão) doadas pela Secretaria de Agricultura integrar-se-ão ao módulo de rebeneficiamento instalado no armazém da Coopercanol. Como a maioria dos produtores da região do norte-fluminense não possui equipamento de beneficiamento, existem maquinistas independentes que percorrem as propriedades para fazer o serviço, cobrando um taxa. Conforme acertado entre a Secretaria e a Coopercanol, a nova máquina volante irá realizar o serviço para seus associados pela metade do preço praticado no mercado, que é equivalente a 1,5 kg de café beneficiado.

Banco do Brasil financiará cafeicultores

O projeto, no entanto, não termina com a instalação do módulo de rebeneficiamento. Segundo o gerente do BB de Varre-Sai, a Fundação do Banco do Brasil deverá destinar, também ainda este ano, cerca de 216 mil reais para projetos relacionados à atividade cafeeira nas áreas adjacentes ao município. Provavelmente voltará a investir a mesma verba nos anos seguintes, mas focando em outras cidades cafeeiras da região. João Viana informa que o café responde por 80% da economia de Varre-Sai, e que o banco destina, anualmente, cerca de 10 milhões de reais em financiamentos à atividade cafeeira do município e entorno. “Se a produção aumentar, elevamos também o nível dos financiamentos. O Banco do Brasil tem interesse em expandir o crédito”, explica. Os restantes 20% vem, principalmente, da produção de leite, milho e feijão.

Viana explica que há grande possibilidade dos recursos do BNDES serem liberados ainda este ano, e que a equipe gerenciadora do projeto irá acompanhar todas as etapas da atividade produtiva, para que a meta principal – melhorar a renda do produtor – seja efetivamente alcançada.

A Revista do Café, que cobriu o evento em Varre-Sai, entrevistou alguns produtores presentes, como Paulo Fernando Degri, que trabalha com café há 12 anos. Ele produz 200 sacas por ano, em média, e também possui, como é comum na região, um pouco de gado leiteiro. A variedade predominante na região, segundo Degri, é o Catuaí - Icatu. Ele obtém uma produtividade de cerca de 18 sacas por mil pés, mas admite que a atividade não está sendo satisfatória. “O custo está muito alto”, reclama Degri, que também culpa o desequilíbrio entre o aumento do salário mínimo e a evolução do preço do café. Mas também admite que, no seu caso (que é o caso da grande maioria), a mão-de-obra não pesa tanto, porque é exclusivamente familiar. “O que pega mesmo é custo com adubo e defensivo”, diz Degri.

Degri está otimista, todavia, que a revitalização da Coopercanol, agora incorporada à Cooperasa, irá trazer benefícios aos cafeicultores. Além do módulo de rebeneficiamento, a nova cooperativa contará com escritório de comercialização de café, adquirindo café da região a preços de mercado. Ele explica que o produtor na região depende muito de intermediários, que ditam os preços, e que a cooperativa irá servir para balizar os preços na região, impedindo que os produtores vendam seu café a preços abaixo do nível praticado no mercado nacional.

A cafeicultura do noroeste fluminense encontra ainda outra dificuldade, a questão fundiária. Degri informa que sua propriedade tem cinco hectares, boa parte deles ocupado com mata nativa, que não pode cortar por causa da legislação ambiental. Por falta de espaço, portanto, ele não pode aumentar a sua produção; sua única saída para aumentar renda é elevar a produtividade e obter preços melhores.

Despolpamento: melhoria da qualidade

Marcio Vargas, presidente da Coopercanol, é um produtor atípico na região. Colhe de 1.200 a 1.600 sacas por ano, e despolpa parte de sua produção. Ele estima que Varre-Sai produz cerca de 5 mil sacas por ano de café despolpado. O alto índice de chuva da região, explica Vargas, dificulta a obtenção de qualidade, de forma que o sistema de cereja descascado, ou despolpamento, é o destino obrigatório de todo produtor que almejar um café de qualidade. Cerca de 80% do café produzido no noroeste fluminense é vendido sob a classificação de bebida rio, que registra um deságio em relação aos arábicas produzidos em outras regiões do país – apesar de ser fortemente apreciado em diversos países do oriente médio e leste europeu e apesar do Brasil ser o único e exclusivo fornecedor desta qualidade.

José Luiz Abreu Diniz, secretário de agricultura de Varre-Sai, informa que o município tem 700 produtores cadastrados, espalhados em 4.600 hectares, com uma produção estimada, para 2009, de 70 a 100 mil sacas. A maioria dos proprietários trabalha com o sistema de parceria, ou meeiro.

Na palestra que fez aos produtores, Christino Áureo, secretário de Agricultura, informou que o governo já obteve 20 milhões de reais para recuperar as estradas vicinais da região noroeste do estado. Este é um problema que prejudica muito a economia da região. Os compradores de produtos de Varre-Sai usam este argumento para obter descontos. Alegando custo alto no frete, convencem os produtores a venderem seu café com deságio. Áureo disse que o governo do estado se compromete a recuperar, até o final de 2010, metade de todas as estradas vicinais da região, e a totalidade das mesmas até 2015.

Outra medida anunciada por Christino Áureo, durante o evento realizado em Varre-Sai, que deverá ajudar substancialmente a economia da região, é a decisão do governador Sérgio Cabral de autorizar um novo pacote tributário com isenção total de ICMS para o leite.

O secretário lembrou que o Rio de Janeiro possui um enorme mercado de consumo, com 16 milhões de habitantes. E observou que o potencial da agricultura fluminense reside não tanto no aumento da quantidade produzida, mas sobretudo na melhoria da qualidade, conquistando o cobiçado nicho de produtos especiais.

Segundo Silvio José Elia Galvão, presidente da Empresa de Pesquisa Agropecuária do Rio de Janeiro (PESAGRO), a região noroeste do estado não tem alternativas econômicas ao café – não no curto ou médio prazo, ao menos, em virtude da topografia acidentada. “A vocação é mesmo o café”, afirma Galvão.

Segundo fontes do BB, o projeto chega à mesa do BNDES neste segundo semestre. Áureo afirmou que o governador está empenhado pessoalmente na sua concretização, citando-o, inclusive, como prioridade, em reunião realizada em julho com a presidência do BB e do BNDES. Agora, como disse o jogador após dar um chutão lá do meio de campo, é esperar pra ver.

 

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