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Setembro 2009 - Ano 88 - Nº 831

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As fazendas cafeeiras de Minas Gerais, durante o século XIX, foram instaladas próximas à divisa com a província do Rio de Janeiro, na chamada Zona da Mata, assim denominada pelos mineiros por ser uma região sem interesse para a exploração de ouro ou pedras preciosas. Constituía-se tão somente de matas virgens, até a construção do caminho novo, no final do século XVIII, ligando o Rio de Janeiro a Juiz de Fora, e sua consolidação, com a abertura da estrada União Indústria, em 1862.

Ali, à margem esquerda do rio Preto e seu afluente, o Paraibuna, foram surgindo as primeiras fazendas de café, curiosamente nas mãos de mineiros que já tinham propriedades no Rio de Janeiro e que, a partir da segunda metade do século XIX, para lá se deslocaram, assim como de fazendeiros da região.

Na época, essas terras pertenciam ao município de Juiz de Fora, que foi, até o final do século, responsável pela maior produção de café de Minas Gerais, com muitos fazendeiros premiados em exposições internacionais.

Em 1873, a construção do ramal da estrada de ferro D. Pedro II para a cidade foi fundamental para o escoamento do café de Mar de Espanha, São João Nepomuceno, Santana do Deserto, Espírito Santo do Mar de Espanha (Guarará) e Sarandira, pela estação de Serraria.

A fazenda Santa Sophia, localizada em Santana do Deserto, faz parte dessa história de glórias. Seu fundador foi Camilo Ferreira Armond, futuro conde de Prados, filho do barão de Pitangui (Marcelino José Ferreira Armond) e de d. Posidônia Eliodora da Silva, de uma família abastada de Barbacena. Nascido em 1815, Camilo fez seus primeiros estudos no Colégio do Santuário do Caraça e, em seguida, transferiu-se para a França, onde se graduou em medicina na Universidade de Sorbonne. Retornando ao Brasil, foi exercer a profissão no Rio de Janeiro. É provável que a casa de moradia tenha sido construída após o casamento de Camilo com d. Josefina Cândida Gomes de Souza, que fez construir a fazenda Santa Sophia, finalizada em 1855.

O que impressiona na fazenda é seu estado de conservação, tanto da sede como do restante do conjunto arquitetônico, que inclui terreiros de secar café, senzalas (somente uma parte foi demolida), engenhos de café e cana, serraria, tulhas e enfermaria de escravos – o quadrilátero (funcional) de trabalho completo –, além de uma escola para os filhos dos cativos.

O interior da casa guarda um grandioso acervo de memória da família, com um mobiliário majestoso e fotos das gerações que ali viveram. A sala de visitas preserva um piano de cauda da marca Hoffman e telas a óleo do conde e condessa de Prados. Dos cômodos, o que mais impressiona é a fabulosa biblioteca, que revela o nível cultural da família Armond, abrigando não só livros de medicina, profissão do proprietário da fazenda, mas também de literatura, advocacia, e revistas francesas, assinadas por muitos anos.

Construída em forma de “U”, a entrada da casa é bastante peculiar. Com um pequeno recuo no centro da fachada, do lado esquerdo encontra-se a entrada da pequena capela consagrada a Santa Sophia, e o lado direito dá acesso a uma pequena saleta, a qual originalmente devia servir para receber visitas pouco íntimas, que não podiam ver os outros membros da família, indo hospedar-se em um quarto anexo. A saleta ainda tem outra porta, levando à sala de visitas, mas por ela só devia passar a família e os amigos mais chegados.

Mas, em uma casa mineira, como esquecer a cozinha? Ali se encontra o fogão a lenha original, que ainda funciona, os armários guarda-louça de canto, uma mesa e a enorme caixa d’água, com uma tubulação que passa pelo fogão e aquece a água da cozinha e do banheiro.

O gentil herdeiro, sr. José Henrique, nos saúda com a maravilhosa comida mineira e um sorriso. Anexa à cozinha, vemos a despensa, com suas enormes latas de mantimentos e outros utensílios, um verdadeiro deleite para quem aprecia a história e as tradições.

A fazenda Santa Sophia, no auge da produção, chegou a produzir 25 mil arrobas de café, e o número de escravos alcançou cerca de oitocentos.

Para terminar, é importante dizer que uma fazenda de café com mais de 150 anos não poderia estar tão bem preservada se tivesse passado por muitas mãos após a decadência cafeeira, tanto no Vale do Paraíba fluminense como em suas proximidades. Além disso, apesar de todas as dificuldades enfrentadas hoje pelo descendente do conde de Prados, o sr. José Henrique, seu orgulho em relação aos parentes distantes e sua tenacidade em manter viva essa história, guardando inúmeras cartas, notas fiscais e documentos da época, são um verdadeiro alento para aqueles que lutam pela preservação das fazendas de café.

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