Um
passeio pela história de uma das famílias
mais tradicionais da cafeicultura revela um empreendedorismo
secular e mostra que o paladar realmente fica mais
apurado com o passar do tempo.
Começar novos negócios
aos 75 anos de idade, com a carreira consolidada,
é uma investida a que poucos se atrevem, mas
é com a aquisição de empresas
do segmento de cafés especiais que a Empresa
Interagrícola S.A. (EISA), tradicional trading
de café e algodão da família
Esteve, comemora mais um aniversário. A companhia
que faturou cerca de R$ 500 milhões em 2009,
sendo metade desse valor atribuído ao comércio
de café, avança sobre o mercado de blends
especiais e mostra que pode agradar ao paladar de
qualquer investidor.
A
comercializadora concretizou a compra de duas
empresas nos últimos três anos –
a Bourbon Specialty Coffees, de Poços de
Caldas (MG), em 2007, e a Carmo Coffees, da região
de Carmo de Minas (MG), em 2009 –, mas mantém
o interesse em novas aquisições.
“Estamos sempre de olho no mercado e atentos
a novas oportunidades”, afirmou Antonio
Vidal Esteve, presidente da EISA.
A recém-adquirida Carmo Coffees trabalha
de forma independente, mas tem a trading como
principal acionista. A previsão de Antonio
Esteve é a de que a subsidiária
comercialize, inicialmente, cerca de 20 mil sacas
de café ao ano. “O segmento de cafés
especiais é um nicho de mercado com forte
crescimento em todo o mundo. |
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Optamos por comprar a participação na
Bourbon, que já atuava forte no mercado. Com
o sucesso que obtivemos, resolvemos criar uma nova
companhia”, disse Esteve. A sociedade com a
Bourbon foi firmada quando já eram uma referência
em cafés especiais. Na época, a comercialização
desse tipo específico de grão pela companhia
era de pouco mais de 35 mil sacas. Este ano a previsão
é a de que empresa registre a venda de 100
mil sacas.

O
apetite por novos investimentos está alinhando
à visão otimista que a direção
da empresa tem em relação à posição
brasileira no mercado de café. “Nosso
produto está mais competitivo, as lavouras
mecanizadas. Acho que o negócio de café
só tende a crescer e a gente tende a crescer
junto”, avaliou Esteve.
De olho na sustentabilidade, os Esteve também
estão investindo em manejo, financiando aulas
para agricultores sobre melhores tratos na lavoura.
Uma das apostas é o aumento da produção
de café orgânico.
Tradição
– Espírito empreendedor é secular
Para
ouvir a história que envolve a família
Esteve, a reportagem da Revista do Café
foi recebida na sede do grupo por Jose
Antonio Esteve, conhecido como Pepe,
fundador do departamento de café na filial
brasileira dos Esteve Irmãos e atual presidente
do conselho do grupo. O encontro com o jovem senhor
de 53 anos – ele parou de contar os anos
a partir dos 50 e optou por contabilizar apenas
as décadas – nos leva ao século
XIX, na cidade espanhola de Catalunha, onde seu
tataravô, Jose Esteve Thomaz, abriu uma
fábrica de tecidos em 1849. Alguns anos
depois, o empresário percebeu que ser importador
de algodão era um negócio mais rentável
e assim começou a tradição
de trading dos Esteve. |
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Em 1888, Esteve Roosevelt, bisavô de Pepe, abriu
a primeira loja da família nos Estados Unidos.
Em 1935, foi a vez dos primos Joachim Jose Esteve
e Javier Faus Esteve embarcarem em novas expectativas,
ancorando no Brasil mais uma filial da Esteve Irmãos.
Em 1948, após passar pelos escritórios
da família na Espanha e nos Estados Unidos,
Pepe chega ao Brasil para trabalhar nos negócios
da família. O período era de pós-guerra
e importar algodão transformou-se em uma tarefa
um tanto árdua. Foi nesse contexto que o jovem
catalão foi novamente de encontro ao mar e
junto com Joe Prado e Oswaldo Asam inaugurou o departamento
de café da Esteve Irmãos na cidade de
Santos, em São Paulo.
Daquela época para cá a companhia se
tornou uma das maiores tradings de café. No
último ano foram cerca de 1,5 milhão
de sacas do grão comercializadas pelo grupo.
Nesse período o mercado também se tornou
mais exigente. Para Pepe, atualmente é necessário
ser mais competente para ser lucrativo. “A maioria
dos compradores sempre exigiu qualidade, mas hoje
em dia o consumidor está mais exigente”,
avaliou, destacando também uma das razões
para o aumento da demanda por cafés de alto
padrão.
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Segundo
Jorge Esteve, o principal executivo
na área de café, a EISA não
restringe a comercialização do café
apenas para os gigantes do setor, e tem como meta
oferecer um tratamento cada vez mais exclusivo
para pequenas e médias torrefadoras. O
objetivo é garantir a venda direta e atingir
um importador que busca produto de alto valor
agregado. Para isso a companhia não mede
esforços em adquirir cafés de fazendas
específicas, indicadas pelo cliente, mesmo
que seja para embarcar apenas um contêiner.
“É um desafio atender a esses mercados,
mas assim como na compra, onde não excluímos
ninguém, se é um cliente sério
temos que respeitar”, avalia Jorge Esteve,
sócio da EISA. |
Esteve destaca que essa proximidade com o cliente
é uma peculiaridade da cadeia do café
que, diferente de outras commodities, é permeado
por diversas nuances e é função
da trading garantir a entrega de um produto com todas
as características indicadas.
A
sinergia com as operações do grupo
nos principais países produtores mundiais
de café também garante a diversidade
de origens necessária para atender os compradores
que batem na porta dos escritórios do grupo,
instalados em locais tão diversos quanto
Suíça, Nova York, Londres, Cingapura
e Japão.
Se com o comprador de café a relação
é próxima, com o produtor o contato
é por meio de parcerias. Para garantir
o alto percentual de operações dentro
dos conceitos de sustentabilidade a EISA mantém
escritórios nas principais regiões
produtoras brasileiras, inclusive Bahia, Espírito
Santo e Rondônia. “Orientamos o agricultor
na obtenção de certificados. Também
estamos muito envolvidos na questão da
rastreabilidade”, garante Esteve. |
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Outros
negócios - Além do café
Mesmo
enfrentando dificuldades no período pós-guerra
a família Esteve nunca deixou o algodão
de lado. Atuando no país desde 1935, o grupo
afirma ser o mais antigo trading da commodity no país.
Os Esteve também já se aventuraram no
campo, e chegaram a produzir café de forma
independente e algodão junto com o grupo Maeda,
mas não alcançaram o sucesso esperado.
Nesse período Pepe aprendeu a lição
ensinada ainda na Espanha, de que zapatero hace zapatos.
“Vimos que o que é produzido durante
um ano pode comercializar em um dia”, salientou.
Pepe também destacou às dificuldades
enfrentadas pelos produtores, os quais considera “heróis”.
A trajetória da família passou ainda
por uma experiência com o cacau, mas que ficou
no caminho após a disseminação
da vassoura-de-bruxa, praga que comprometeu toda a
produção brasileira da fruta.
Apresentação
da Ópera El Ninõ Judío |
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