Realizado
nos dias 18 e 19 de maio, no Guarujá/SP, o
Seminário Internacional de Café de Santos
reuniu especialistas e líderes do setor para
retomar conceitos, propor novas estratégias
e caminhos para aprimorar técnicas de produção
sustentável e de comercialização
de café e avaliar as mudanças no comportamento
do mercado consumidor nas diferentes regiões
do mundo, na expectativa de ampliar as exportações
do café brasileiro. A Revista do Café
participou do evento, acompanhando todo conteúdo
transmitido, além de entrevistar e conversar
com especialistas do setor.
Michael
Timm, Presidente da Associação
Comercial de Santos (ACS), abriu o evento e fez
questão de apontar que o agronegócio
se tornou mais eficiente nos últimos anos.
O Produto Interno Bruto (PIB) aumentou de US$
645 bilhões em 2000 para US$ 1,57 trilhão
em 2009 – um aumento de 143%. A produção
de café aumentou menos de 25%, frente a
51% do total da agricultura. |
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De acordo com Timm, para que o Brasil possa continuar
competindo e crescendo, ainda há alguns obstáculos
que precisam ser superados, tais como: investimentos
em infraestrutura – sem boas estradas, ferrovias,
aeroportos e portos, o Brasil não vai conseguir
manter a competitividade de seus produtos; reforma
tributária – o sistema tributário
brasileiro é muito complexo, com mais de 30
impostos e taxas, tributando o consumo de maneira
exagerada; e educação e saúde
– setores em que os indicadores ainda deixam
muito a desejar.
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Já
em relação à produção
de café, Manoel Bertone,
Secretário de Produção e
AgroEnergia do MAPA, afirma que o Brasil encontra-se
naturalmente sustentável em relação
aos demais países. “Sustentável
porque o Brasil tem a melhor legislação
trabalhista e a mais severa legislação
ambiental do mundo. Apesar de todas as dificuldades,
as safras estão crescendo”. Bertone
avalia que os médios produtores são
os que estão sentindo mais dificuldade
para se manter no mercado. |
“Os pequenos e grandes recebem amparo financeiro”.
No Brasil, 80% dos produtores são considerados
pequenos.
O Brasil tem grandes oportunidades. Cada vez mais
se buscam cafés brasileiros e os demais países
dependem desse café. Bertone pede aos vendedores
que se esforcem em vender os cafés brasileiros,
pois o mundo quer isso.
Produção
Brasileira
O Painel inicial do Seminário tratou da produção
e do parque produtor nacional. Guilherme Braga Pires
(Diretor Geral do CECAFÉ), Celso Luis Vegro
(Eng. Agrônomo e Pesquisador do IEA) e Sylvia
Saes (Professora da FEA/USP), foram os apresentadores.
Sylvia Saez fez uma ampla análise do censo
da cafeicultura IBGE 2006, destacando que os dados
do IBGE evidenciam, comparando os censos de 1996 e
2006, uma diminuição da área
colhida na ordem de 6,9% e o crescimento de 26%, o
que demonstra aumento da produtividade, motivado principalmente
pelos investimentos em tecnologia. Analisou também
a estrutura fundiária e a participação
da economia familiar e empresarial na composição
das safras.
Guilherme
Braga comentou que o conhecimento
do volume de produção é essencial
para tomada de decisão dos agentes do setor
e, na safra 2010/2011, as previsões de
safras variam da faixa de 47 milhões de
sacas (CONAB), 55 milhôes (USDA) e diversas
outras estimativas de empresas de consultoria
e comerciais entre 50 a 58 milhões, mostrando
uma convergência para a área entre
52 e 55 milhões de sacas. |
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Ele considera que as divergências de opiniões
em relação aos números das safras
brasileiras não são recentes, e devem-se
principalmente ao fato de que de modo geral são
subjetivas e hoje, no caso da CONAB, apenas os estados
de São Paulo e Paraná utilizam métodos
objetivos para levantamentos, ou seja, realizam visitas
em propriedades do estado e as monitoram. Já
nos demais estados, as previsões utilizam metodologias
subjetivas, por meio de entrevistas com diversos órgãos
dos estados, cooperativas, Banco do Brasil e outros,
construindo-se assim um resultado a partir de opiniões
pessoais.
Braga acredita que a cafeicultura brasileira tem que
ser avaliada dentro das características comuns
entre as diferentes regiões. Diante disso,
a cafeicultura de montanha representa 29% do total,
tendo uma característica de produção
familiar que pode ser vocacionada para cafés
especiais. Já o cerrado mineiro representa
33% do total, sendo o “filé mignon”
da cafeicultura, com áreas maiores de produção,
mecanizadas e com tendência de aumentar a produção
de café via úmida. A região nordeste
do Brasil também tem possibilidade de aumento
de produção de cafés despolpados,
além de contar com a vantagem de possuir mão-de-obra
mais barata.
Em sua exposição, Celso Vegro disse
que a mão de obra participa no custo de produção
na ordem de 46% na cafeicultura convencional, enquanto
não ultrapassa 6% no custo de produção
em sistemas altamente mecanizáveis. Sendo assim,
“a produção nas áreas que
se paga mais por mão-de-obra passa a ser insustentável”,
comenta ele.
Ainda em relação a custo de produção,
Vegro considera que o custo de produção
mensura o talento empresarial e permite determinar
a proporção de produto a ser produzido.
“O custo de produção não
é formador de preço, ele é a
soma de despesas, depreciações, seguro
e outros custos que o produtor não vê
sair do bolso”.
Em 2010/11 os custos deverão se manter elevados,
uma vez que a colheita exigirá maior parcelamento
devido à desuniformidade de maturação.
“Muitos produtores serão pegos desprevenidos.
Se as cotações não reagirem,
ficaremos receosos de que o Brasil não responda
pela demanda mundial por café”, finaliza
Vegro.
Celso
Luis Vegro |
Sylvia
Saes |
O
porto de Santos
José Roberto Correia Serra,
Diretor-Presidente da Companhia Docas do Estado de
São Paulo – CODESP, abordou a questão
dos desafios de transporte e logística no Brasil.
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Ele
explica que o porto de Santos é o maior
porto exportador de café não torrado
em grãos, torrado e solúvel do Brasil,
com uma participação de 70% sobre
o total nacional. “O porto de Santos tem
que aumentar sua estrutura para atender a demanda.
Para os próximos 15 anos temos projetos
que irão identificar áreas prioritárias
para melhorar o processo logístico. Vamos
prover infraestrutura para suprir a demanda”,
comentou Correia. |
Café
versus petróleo
Um
dos painéis do evento tinha como tema:
“Ouro Negro” compete com “Ouro
Verde”? Para responder tal pergunta, José
Luiz Marcusso, Gerente Geral da
Petrobrás ,apresentou os investimentos
e crescimentos da produção de petróleo
no Brasil, concluindo que esse produto não
deve competir com o café, uma vez que no
Brasil há demanda e oportunidades para
as duas commodities. |
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Café
& Economia
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Fernando
Honorato Barbosa, Coordenador do
Departamento Econômico do Bradesco, concorda
que não existe competição
entre petróleo e outras commodities no
Brasil. Barbosa apresentou a situação
do crescimento mundial e as perspectivas para
os próximos anos em relação
ao mercado de café, se mostrando otimista.
Ele acredita que os países emergentes têm
grande capacidade de crescimento e irão
puxar a economia mundial. |
“Os
países emergentes estão aumentando seu
market share e o Brasil tem vantagens em relação
aos produtos que serão demandados como açúcar,
café, leite e carne.”
Barbosa afirma que o Brasil não tem problema
de demanda, mas precisa investir no mercado doméstico.
“O grande desafio do próximo Presidente
é tentar lidar com a reforma tributária,
diminuindo o tamanho de gastos correntes. O Brasil
está fadado a crescer na década, mas
dependendo do ritmo dos gastos públicos, essa
alta pode ser prejudicada”, analisa ele.
Café
& Derivativos na BM&F
No
segundo dia de evento, Luiz Cláudio
Caffagni, Gerente de Serviços
em commodities da BM&F/BOVESPA, falou sobre
o mercado futuro e de opções de
café, destacando que a participação
das opções vem crescendo muito na
BM&F/BOVESPA. “Os contratos de opções
são muito eficientes para o produtor rural”. |
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Luiz Cláudio destaca que nos últimos
anos a volatilidade do diferencial de preços
do café brasileiro está descolando dos
preços de Nova York. Ele analisa que, quanto
maior a volatilidade do diferencial, mais os exportadores
precisam se proteger contra tais variações,
e para isso devem utilizar o mercado futuro.
Consumo
& Demanda Mundial
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Em
relação ao consumo e demanda mundial
de café, Neil Rosser,
Diretor Geral da NKG Statistical Unit Ltda., apontou
também a questão dos baixos estoques
de café no mundo. Ele analisa que a velocidade
de queda dos estoques parece estar acelerando,
e apesar disso, os preços não estão
bons. Rosser falou sobre a situação
de desastre da Colômbia, que não
deve conseguir se recuperar até 2011, e
sobre as dificuldades e quedas de exportações
de países da América Central e Peru. |
De
forma contrária, a Indonésia tem trabalhado
com aumento de produção e consumo, porém
tem problema com produtividade baixa.
Como muitos especialistas e estudos já apontam,
o consumo mundial está crescendo, e em longo
prazo o mundo precisará de mais café.
Diante disso, Rosser destaca que o Brasil é
um fornecedor que responde a demanda mundial de café,
e o mundo está desesperado para que continue
fazendo isso.
Café
& Diferenciais e o Contrato C
A
entrega de cafés brasileiros na Bolsa de
Nova York não podia deixar de ser tratada.
Rodrigo Corrêa da Costa,
Vice-Presidente de vendas institucionais da Newedge
USA, relatou a situação dos estoques
de cafés certificados em Nova York, apontando
seu baixo nível e a grande quantidade de
produto com idade média não desejável
e de origem não desejável. “Cafés
do contrato C não são cafés
que todos querem e precisam”, afirma ele. |
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Em Nova York, o café velho que não consegue
comprador pode ser retirado da bolsa e enviado novamente
para análise. Quando o café é
aprovado recebe nova data, deixando de passar por
café velho. Rodrigo comenta que a bolsa de
NY utiliza algumas penalidades para evitar a reentrega
de café.
O Vice-Presidente da Newedge USA admite que a entrega
de cafés brasileiros na bolsa de NY não
vai interferir nas negociações da BM&F/BOVESPA,
uma vez que outro tipo de café será
negociado. “Não devemos ter medo”,
finaliza ele.
Café
do Brasil & Mercado de Specialty
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Ainda
na questão de oportunidades para o Brasil,
Dub Hay, Vice-Presidente
da Coffee & Tea – Starbucks Coffee Company
apresentou as percepções externas
sobre os cafés brasileiros. Dub Hay afirmou
que o Brasil e a Colômbia são importantes
exportadores de café porém a Colômbia
investe muito em marketing, enquanto o Brasil
gasta muito pouco. Os consumidores norte americanos,
40% deles, acham que bebem café gourmet
e pagam por isso. Se levar em conta essa porcentagem,
o consumo seria equivalente a 40 milhões
de sacas de café gourmet, o que não
deve ser real. |
Contudo, isso se deve ao marketing norte-americano.
Hay comentou que a Starbucks veio para o Brasil, pois
aqui se produz cafés de ótima qualidade
além de haver preocupação com
rastreabilidade e sustentabilidade, mais do que em
qualquer outro país. Porém, o Brasil
é visto como produtor de café natural,
exportando muito pouco café especial. Ele sugere
que mudemos nossa reputação.
Em relação às limitações
brasileiras, Hay aponta que o Brasil precisa ir para
o mundo e oferecer o melhor café do mundo.
“Vocês precisam pensar em criar eventos
de choque, precisam do momento uauuu!”, completa
ele.
Como muito se comentou, há oportunidade de
crescimento para o mercado brasileiro com potencial
agregação de valor, porém cada
elo precisa se organizar, se estruturar e desenvolver
estratégias para que isso seja alcançado.
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