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Junho 2010 - Ano 89 - Nº 834

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Realizado nos dias 18 e 19 de maio, no Guarujá/SP, o Seminário Internacional de Café de Santos reuniu especialistas e líderes do setor para retomar conceitos, propor novas estratégias e caminhos para aprimorar técnicas de produção sustentável e de comercialização de café e avaliar as mudanças no comportamento do mercado consumidor nas diferentes regiões do mundo, na expectativa de ampliar as exportações do café brasileiro. A Revista do Café participou do evento, acompanhando todo conteúdo transmitido, além de entrevistar e conversar com especialistas do setor.

Michael Timm, Presidente da Associação Comercial de Santos (ACS), abriu o evento e fez questão de apontar que o agronegócio se tornou mais eficiente nos últimos anos. O Produto Interno Bruto (PIB) aumentou de US$ 645 bilhões em 2000 para US$ 1,57 trilhão em 2009 – um aumento de 143%. A produção de café aumentou menos de 25%, frente a 51% do total da agricultura.

De acordo com Timm, para que o Brasil possa continuar competindo e crescendo, ainda há alguns obstáculos que precisam ser superados, tais como: investimentos em infraestrutura – sem boas estradas, ferrovias, aeroportos e portos, o Brasil não vai conseguir manter a competitividade de seus produtos; reforma tributária – o sistema tributário brasileiro é muito complexo, com mais de 30 impostos e taxas, tributando o consumo de maneira exagerada; e educação e saúde – setores em que os indicadores ainda deixam muito a desejar.

Já em relação à produção de café, Manoel Bertone, Secretário de Produção e AgroEnergia do MAPA, afirma que o Brasil encontra-se naturalmente sustentável em relação aos demais países. “Sustentável porque o Brasil tem a melhor legislação trabalhista e a mais severa legislação ambiental do mundo. Apesar de todas as dificuldades, as safras estão crescendo”. Bertone avalia que os médios produtores são os que estão sentindo mais dificuldade para se manter no mercado.

“Os pequenos e grandes recebem amparo financeiro”. No Brasil, 80% dos produtores são considerados pequenos.

O Brasil tem grandes oportunidades. Cada vez mais se buscam cafés brasileiros e os demais países dependem desse café. Bertone pede aos vendedores que se esforcem em vender os cafés brasileiros, pois o mundo quer isso.

Produção Brasileira

O Painel inicial do Seminário tratou da produção e do parque produtor nacional. Guilherme Braga Pires (Diretor Geral do CECAFÉ), Celso Luis Vegro (Eng. Agrônomo e Pesquisador do IEA) e Sylvia Saes (Professora da FEA/USP), foram os apresentadores. Sylvia Saez fez uma ampla análise do censo da cafeicultura IBGE 2006, destacando que os dados do IBGE evidenciam, comparando os censos de 1996 e 2006, uma diminuição da área colhida na ordem de 6,9% e o crescimento de 26%, o que demonstra aumento da produtividade, motivado principalmente pelos investimentos em tecnologia. Analisou também a estrutura fundiária e a participação da economia familiar e empresarial na composição das safras.

Guilherme Braga comentou que o conhecimento do volume de produção é essencial para tomada de decisão dos agentes do setor e, na safra 2010/2011, as previsões de safras variam da faixa de 47 milhões de sacas (CONAB), 55 milhôes (USDA) e diversas outras estimativas de empresas de consultoria e comerciais entre 50 a 58 milhões, mostrando uma convergência para a área entre 52 e 55 milhões de sacas.

Ele considera que as divergências de opiniões em relação aos números das safras brasileiras não são recentes, e devem-se principalmente ao fato de que de modo geral são subjetivas e hoje, no caso da CONAB, apenas os estados de São Paulo e Paraná utilizam métodos objetivos para levantamentos, ou seja, realizam visitas em propriedades do estado e as monitoram. Já nos demais estados, as previsões utilizam metodologias subjetivas, por meio de entrevistas com diversos órgãos dos estados, cooperativas, Banco do Brasil e outros, construindo-se assim um resultado a partir de opiniões pessoais.

Braga acredita que a cafeicultura brasileira tem que ser avaliada dentro das características comuns entre as diferentes regiões. Diante disso, a cafeicultura de montanha representa 29% do total, tendo uma característica de produção familiar que pode ser vocacionada para cafés especiais. Já o cerrado mineiro representa 33% do total, sendo o “filé mignon” da cafeicultura, com áreas maiores de produção, mecanizadas e com tendência de aumentar a produção de café via úmida. A região nordeste do Brasil também tem possibilidade de aumento de produção de cafés despolpados, além de contar com a vantagem de possuir mão-de-obra mais barata.
Em sua exposição, Celso Vegro disse que a mão de obra participa no custo de produção na ordem de 46% na cafeicultura convencional, enquanto não ultrapassa 6% no custo de produção em sistemas altamente mecanizáveis. Sendo assim, “a produção nas áreas que se paga mais por mão-de-obra passa a ser insustentável”, comenta ele.

Ainda em relação a custo de produção, Vegro considera que o custo de produção mensura o talento empresarial e permite determinar a proporção de produto a ser produzido. “O custo de produção não é formador de preço, ele é a soma de despesas, depreciações, seguro e outros custos que o produtor não vê sair do bolso”.

Em 2010/11 os custos deverão se manter elevados, uma vez que a colheita exigirá maior parcelamento devido à desuniformidade de maturação. “Muitos produtores serão pegos desprevenidos. Se as cotações não reagirem, ficaremos receosos de que o Brasil não responda pela demanda mundial por café”, finaliza Vegro.


Celso Luis Vegro

Sylvia Saes

O porto de Santos

José Roberto Correia Serra, Diretor-Presidente da Companhia Docas do Estado de São Paulo – CODESP, abordou a questão dos desafios de transporte e logística no Brasil.

Ele explica que o porto de Santos é o maior porto exportador de café não torrado em grãos, torrado e solúvel do Brasil, com uma participação de 70% sobre o total nacional. “O porto de Santos tem que aumentar sua estrutura para atender a demanda. Para os próximos 15 anos temos projetos que irão identificar áreas prioritárias para melhorar o processo logístico. Vamos prover infraestrutura para suprir a demanda”, comentou Correia.

Café versus petróleo

Um dos painéis do evento tinha como tema: “Ouro Negro” compete com “Ouro Verde”? Para responder tal pergunta, José Luiz Marcusso, Gerente Geral da Petrobrás ,apresentou os investimentos e crescimentos da produção de petróleo no Brasil, concluindo que esse produto não deve competir com o café, uma vez que no Brasil há demanda e oportunidades para as duas commodities.

Café & Economia

Fernando Honorato Barbosa, Coordenador do Departamento Econômico do Bradesco, concorda que não existe competição entre petróleo e outras commodities no Brasil. Barbosa apresentou a situação do crescimento mundial e as perspectivas para os próximos anos em relação ao mercado de café, se mostrando otimista. Ele acredita que os países emergentes têm grande capacidade de crescimento e irão puxar a economia mundial.

“Os países emergentes estão aumentando seu market share e o Brasil tem vantagens em relação aos produtos que serão demandados como açúcar, café, leite e carne.”

Barbosa afirma que o Brasil não tem problema de demanda, mas precisa investir no mercado doméstico. “O grande desafio do próximo Presidente é tentar lidar com a reforma tributária, diminuindo o tamanho de gastos correntes. O Brasil está fadado a crescer na década, mas dependendo do ritmo dos gastos públicos, essa alta pode ser prejudicada”, analisa ele.

Café & Derivativos na BM&F

No segundo dia de evento, Luiz Cláudio Caffagni, Gerente de Serviços em commodities da BM&F/BOVESPA, falou sobre o mercado futuro e de opções de café, destacando que a participação das opções vem crescendo muito na BM&F/BOVESPA. “Os contratos de opções são muito eficientes para o produtor rural”.

Luiz Cláudio destaca que nos últimos anos a volatilidade do diferencial de preços do café brasileiro está descolando dos preços de Nova York. Ele analisa que, quanto maior a volatilidade do diferencial, mais os exportadores precisam se proteger contra tais variações, e para isso devem utilizar o mercado futuro.

Consumo & Demanda Mundial

Em relação ao consumo e demanda mundial de café, Neil Rosser, Diretor Geral da NKG Statistical Unit Ltda., apontou também a questão dos baixos estoques de café no mundo. Ele analisa que a velocidade de queda dos estoques parece estar acelerando, e apesar disso, os preços não estão bons. Rosser falou sobre a situação de desastre da Colômbia, que não deve conseguir se recuperar até 2011, e sobre as dificuldades e quedas de exportações de países da América Central e Peru.

De forma contrária, a Indonésia tem trabalhado com aumento de produção e consumo, porém tem problema com produtividade baixa.

Como muitos especialistas e estudos já apontam, o consumo mundial está crescendo, e em longo prazo o mundo precisará de mais café. Diante disso, Rosser destaca que o Brasil é um fornecedor que responde a demanda mundial de café, e o mundo está desesperado para que continue fazendo isso.

Café & Diferenciais e o Contrato C

A entrega de cafés brasileiros na Bolsa de Nova York não podia deixar de ser tratada. Rodrigo Corrêa da Costa, Vice-Presidente de vendas institucionais da Newedge USA, relatou a situação dos estoques de cafés certificados em Nova York, apontando seu baixo nível e a grande quantidade de produto com idade média não desejável e de origem não desejável. “Cafés do contrato C não são cafés que todos querem e precisam”, afirma ele.

Em Nova York, o café velho que não consegue comprador pode ser retirado da bolsa e enviado novamente para análise. Quando o café é aprovado recebe nova data, deixando de passar por café velho. Rodrigo comenta que a bolsa de NY utiliza algumas penalidades para evitar a reentrega de café.

O Vice-Presidente da Newedge USA admite que a entrega de cafés brasileiros na bolsa de NY não vai interferir nas negociações da BM&F/BOVESPA, uma vez que outro tipo de café será negociado. “Não devemos ter medo”, finaliza ele.

Café do Brasil & Mercado de Specialty

Ainda na questão de oportunidades para o Brasil, Dub Hay, Vice-Presidente da Coffee & Tea – Starbucks Coffee Company apresentou as percepções externas sobre os cafés brasileiros. Dub Hay afirmou que o Brasil e a Colômbia são importantes exportadores de café porém a Colômbia investe muito em marketing, enquanto o Brasil gasta muito pouco. Os consumidores norte americanos, 40% deles, acham que bebem café gourmet e pagam por isso. Se levar em conta essa porcentagem, o consumo seria equivalente a 40 milhões de sacas de café gourmet, o que não deve ser real.

Contudo, isso se deve ao marketing norte-americano. Hay comentou que a Starbucks veio para o Brasil, pois aqui se produz cafés de ótima qualidade além de haver preocupação com rastreabilidade e sustentabilidade, mais do que em qualquer outro país. Porém, o Brasil é visto como produtor de café natural, exportando muito pouco café especial. Ele sugere que mudemos nossa reputação.

Em relação às limitações brasileiras, Hay aponta que o Brasil precisa ir para o mundo e oferecer o melhor café do mundo. “Vocês precisam pensar em criar eventos de choque, precisam do momento uauuu!”, completa ele.

Como muito se comentou, há oportunidade de crescimento para o mercado brasileiro com potencial agregação de valor, porém cada elo precisa se organizar, se estruturar e desenvolver estratégias para que isso seja alcançado.

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