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Junho 2010 - Ano 89 - Nº 834

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Era um sonho meu antigo”, diz José Ferreira Pinto, técnico do Ministério da Agricultura, referindo-se ao 1º Concurso Estadual de Qualidade dos Cafés do Rio de Janeiro, a ser realizado pelo Sindicato do Comércio Atacadista de Café do RJ, com o apoio do CCCRJ, da ASCARJ, da Secretaria de Agricultura do RJ, e do Armazém do Café. O prazo final para inscrição de amostras vai até o dia 10 de setembro de 2010 e os nomes dos cinco ganhadores em cada categoria (são três: naturais, descascados e despolpados) serão anunciados no dia 5 de outubro.

Ferreira, que atuará como um dos Coordenadores do Concurso, conta que, desde os anos 90, observa que a imagem negativa do café do Rio de Janeiro parou de corresponder à realidade. A participação do tipo Rio, de menor qualidade, ainda é alta no estado, mas os cafés naturais finos, e os preparados pela via úmida – despolpados e cerejas descascados –, de qualidade superior, representam hoje cerca de 65% dos grãos produzidos na região serrana, onde existe uma cafeicultura mais empresarial, e 40% dos produzidos na região noroeste do estado, marcada pela exploração familiar.

José Ferreira Pinto e Marcos Modiano

A região noroeste, responsável por 70% da produção do Rio de Janeiro, produziu ano passado 176 mil sacas, informa o técnico, das quais 15 a 17 mil sacas são de cerejas descascados ou despolpados.

A necessidade de beneficiar com processos úmidos tornou-se, segundo Ferreira, um imperativo. “É fundamental, em função de nossas características climáticas, com muita umidade relativa do ar”.

Ferreira acredita que o Concurso de Qualidade incentiva o produtor a aprimorar as técnicas de produção, além de divulgar a marca do café do Rio de Janeiro. “Tivemos reuniões com donos de cafeterias e exportadores, que prometeram arrematar os lotes vencedores e vender o café com a marca do Rio de Janeiro. Ficamos muito animados”.

Ele lembra que o consumo de café no estado representa 10% do total nacional, ou 1,5 milhão de sacas. O concurso, diz Ferreira, está focado em fomentar a elevação da qualidade. Na medida em que melhorar a remuneração, todavia, a produção também deve aumentar. “Tudo depende da renda. O cereja descascado do Rio é vendido hoje (16/06/2010) por volta de 300 a 310 reais a saca. Isso é já um ótimo negócio, mas o mesmo grão produzido no sul de Minas é cotado a 320 reais a saca.”

O tipo Rio, por sua vez, tem sido comercializado por 190 a 200 reais a saca, preço que não satisfaz o cafeicultor.

Um dos fatores que mais limita o crescimento da produção de café no Rio de Janeiro, segundo Ferreira, é a mão-de-obra, escassa, cara e não especializada. O custo alto da terra também prejudica. Mesmo assim, ele vem observando um crescimento constante da área plantada no Noroeste do estado. “O produtor com 5 a 10 hectares de café está obtendo uma renda razoável, tem uma vidinha boa, está conseguindo comprar uma terrinha a mais e aumentar o plantio”, diz Ferreira.

Entretanto, quando o produtor de café começa a explorar áreas plantadas acima de 20 hectares, os problemas de mão-de-obra e custo aparecem. “O que está salvando muitos produtores na região são as parcerias, os meeiros, e a tendência é aumentar. Eu mesmo não conseguiria cuidar dos meus 100 hectares se tivesse que pagar mão-de-obra. Eu cuido de 60% por minha conta e deixo 40% com parceiros”.

Outra saída é elevar ao máximo a mecanização, o que é difícil em função da topografia fortemente acidentada, que impede o uso de tratores. Mas as famosas mãos mecânicas, ou derriçadores, já se tornaram populares entre os cafeicultores fluminenses.

“Ainda existe um certo medo, por parte dos produtores do estado, em lançar mão de financiamentos do Banco do Brasil”, diz Ferreira, “mas o PRONAF tem funcionado bem e os recursos fluem para o setor”.

A importância da qualidade para o aumento do consumo

Marcos Modiano, proprietário do Armazém do Café, também acredita que o concurso pode contribuir para melhorar a qualidade do café produzido no Rio de Janeiro. “O café é o vinho sem álcool. Temos que acostumar as pessoas a buscarem a excelência.”

Modiano observa que as novas gerações, que haviam se afastado do hábito de beber café, começam a valorizar o potencial energético da bebida. “Estão descobrindo que é melhor tomar a cafeína natural do que a sintética presente nesses energéticos. Há jovens que saem da Academia e passam em nossa casa de café”, diz o empresário, que faz questão de distinguir o Armazém como “casa de café”, ou seja, não se trata de uma simples cafeteria, pois o foco absoluto é o grão, torrado e moído na hora.

Mas a grande explosão na demanda do café de qualidade, diz Modiano, virá quando a classe C, que vem experimentando um importante aumento de seu poder aquisitivo, decidir beber cafés melhores.

Modiano admite que não usa café do Rio de Janeiro em suas casas, mas está disposto a fazê-lo na medida em que se torne mais fácil adquirir os grãos de qualidade superior produzidos no estado. “Eu uso de 33 a 42 sacas por mês. E faço estoque. Aliás essa é uma dificuldade vivida pelas cafeterias cariocas. São forçadas a adquirir cafés de outros estados e a formar estoques.”

O ideal para as cafeterias, que lidam com pequenas quantidades, seria comprar os grãos no próprio estado, o que lhes permitiria conviver com estoques menores, já que poderiam ser recompostos em poucas horas. “A logística melhoraria muito”.

O Armazém do Café, pioneiro no varejo de cafés especiais no Rio de Janeiro, conta hoje com 7 lojas. Segundo Modiano, aproximadamente 30% do faturamento vem da venda de “acessórios” para o consumo de café, como máquinas de espresso e charutos cubanos. “São produtos de alto valor agregado”.

Guilherme Braga, Presidente do Sindicato do Comércio Atacadista de Café do Rio de Janeiro vê a importância do Concurso como uma forma de despertar a consciência do produtor para a necessidade de fazer um café de melhor qualidade, acompanhando a tendência que se observa em outras regiões produtoras do país. “O Rio pode até aumentar um pouco sua produção, mas nosso foco é incrementar a qualidade, e tornar mais visível o Rio como produtor de café de alta qualidade”.

Segundo Braga, das 300 mil sacas produzidas no Rio, bastariam que metade fosse de um tipo melhor, para que uma das metas do Concurso estivesse cumprida. “Além disso, o Concurso quer ajudar o café do Rio a encontrar uma identidade”.

Para Efigênio Salles, Presidente da Associação dos Cafeicultores do Estado do Rio de Janeiro (ASCARJ), o Concurso de Qualidade visa promover os cafés produzidos no estado, mas não há interesse de que o Rio se torne um grande produtor. “O Rio já foi o maior produtor de café do mundo, depois perdeu importância em quantidade. Para piorar, ganhou fama de baixa qualidade. Mas nosso foco é, mantendo a quantidade produzida, aumentar o percentual de cafés cerejas descascados, ou despolpados, e vender esse café para os nichos de mercado da capital.

Para um dos Diretores da exportadora Valorização, Manoel Correa do Lago, a ideia do Concurso é muito bem vinda. “É um encorajamento à cafeicultura do estado do Rio”. Para ele, seria ótimo que o estado produzisse mais café e observa que há áreas no Rio que colhem café de altíssima qualidade. “Nós compramos café do Rio, e gostaríamos de comprar mais. Mas o estado precisa dar logo solução – e sei que há um processo em curso nesse sentido – à falta de um maquinário de rebeneficiamento”.

Resolvendo esse gargalo, haveria melhora nas condições de comercialização e aumento da produção.

Jair Coser, Presidente da Unicafé, uma das maiores exportadoras de café do Brasil e do mundo, considera que o Concurso é muito importante, e não apenas para o Rio. “É importante para toda a nossa cafeicultura, do Brasil inteiro, porque o mundo quer mais café brasileiro de qualidade. Colômbia e América Central estão com produção insuficiente de cafés lavados e os importadores estão procurando cada vez mais os cafés brasileiros, que ainda são mais baratos. A Starbucks, por exemplo, está comprando muito no Brasil”.

O exportador lembra que é também cafeicultor, e que na região onde produz, no Espírito Santo, as diferenças entre cafés convencionais e o descascado ampliaram-se. “Um café natural, de qualidade normal, é vendido por R$ 260 a R$ 280, enquanto paga-se R$ 320 a saca por um descascado.

Coser observa que a topografia não é justificativa para o Rio não elevar a sua produção, visto que o Espírito Santo apresenta características geográficas similares e deve produzir 11 milhões de sacas este ano, 2,5 milhões de arábica e 8,5 milhões de conillon. “Ao contrário, há uma forte demanda pelo café de montanha, considerado de melhor qualidade”, diz o exportador.


 

Concurso de Qualidade dos Cafés  do RJ

 
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