A
história Brasil-Café-Japão que
dá chão para a exposição
“O Café e a Imigração Japonesa
no Brasil” parece ter esperado por algumas coincidências
favoráveis, uma delas, o extraordinário
crescimento das exportações do café
brasileiro para aquele país; outra, a disponibilidade
de um espaço à altura do acontecimento:
o próprio Museu do Café.
Brasil-Café-Japão estão
unidos por laços indissolúveis da história.
O Japão, do Período Meiji, sob o imperador
Mutsuhito, da segunda metade do Século XIX,
buscava alívio para o desemprego rural, via
emigração populacional. O Brasil entrava
numa fase crítica no campo, com a Lei Áurea,
de 1888. Terras havia em abundância, o café
despontava como cultura bastante viável, enquanto
a mão-de-obra escasseava. Quase um século
depois da imigração japonesa para o
Brasil, com o objetivo de preencher ambos interesses,
a cerimônia do Kagami Biraki, que significa
“abrir espelho”, ao centro do salão
de pregões da Bolsa de Café de Santos,
com todos os protagonistas vestidos do happi, selou
a história e a amizade entre os dois povos.
O repique das batidas em dois tambores foi rápido,
o suficiente para a repetição do ritual
festivo japonês, com a saudação
“banzai”, a ingestão de uma xícara
de saquê, sob as vistas de centenas de convidados.
Entre
eles, alguns parentes diretos de Ryu Mizuno, considerado
o pai da imigração japonesa, seus
filhos Ruizaburo e Shinichi Mizuno; de Keiji Ohta,
presidente da All Japan Coffee Assocation, Masaro
Ueshima, da UCC Ueshima Coffee Company, Hiroshi
Enzo, presidente da Associação Japonesa
de Santos, e o engenheiro João Paulo Tavares
Papa, prefeito de Santos.
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O Museu do Café preparou um andar inteiro para
a mostra, recheada de documentação,
vestuários da época, instrumentos de
trabalho, fotos raras e até um trecho do diário
de Ryu Mizuno, que fez a primeira viagem de Kobe,
no Japão, para Santos, em 1908 (18 de junho),
a bordo do Kasato Maru. Com ele vieram mais 780 imigrantes,
em busca de sonhos, um deles, o de voltar, um dia,
para a terra de origem, com recursos para tocar uma
vida digna. Na época, a terra dos sonhos era
o interior paulista, já com estradas de ferro
cortando a mata e trazendo as sacas de café
para o Porto de Santos.
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Guilherme
Braga, presidente do Museu do Café, em
seu discurso de abertura da exposição,
lembrou que foi exatamente em 1908 que o país
fez sua primeira remessa de café brasileiro
para o Japão, com 600 sacas. O crescimento
desse comércio seria surpreendente, pois
em 2006, o quantitativo chegou a quase 2,4 milhões
de sacas. O Brasil é o principal cliente
do Japão em café e Braga calcula
que, em cem anos, já foram embarcadas 44
milhões de sacas do produto para o distante
parceiro. |
“Nos
100 anos de convivência com o café brasileiro,
o Japão transformou-se no terceiro maior mercado
consumidor entre os países importadores, absorvendo
perto de 10% das exportações brasileiras
de café e conferindo ao nosso produto uma posição
de preferência em seu mercado”, acentuou
Braga.
Keiji Ohta, chairman da All Japan Coffe Association,
lembrou que o Japão começou a conhecer
o café por mãos brasileiras, que os
presenteavam com grãos, quando aquele país
bebia, preferencialmente, chá verde. “Depois
de um século, estamos entre os maiores consumidores
do mundo”, enfatizou Ohta.
Os
descendentes dos imigrantes
Com a vinda dos imigrantes asiáticos, muitas
histórias foram construídas a partir
de condições que beiravam a miserabilidade
social, o desconhecimento da língua e dos costumes.
Nagato Hara, 71 anos, doutor em Geografia Humana pela
Universidade de São Paulo – USP, é
um exemplo, entre tantos outros. Seu pai, Matsukiti
Yoshioka, da Província de Hokaido (Norte do
Japão) chegou ao Brasil em 1928, sob os auspícios
da Mikokai (Vamos avante), uma entidade japonesa que
aproveitou a difícil experiência dos
pioneiros imigrantes e formou um fundo financeiro
para aquisição de terras nos países
de destino. A entidade adquiria 10 ou 20 alqueires
e os dividia entre aqueles que chegavam.
Yoshioka
ficou na denominada Aliança Três,
em Mirandópolis, interior de São
Paulo. Casou-se com Yoshiko, de cuja união
nasceram cinco filhos. Yoshiko, lembra seu filho
Nagato, chegou ao Brasil como agregada de outra
família. “Pela legislação
da época, cada família que vinha
devia ter pelo menos três pessoas aptas
a trabalhar”, diz. Nagato conta que andava
mais de quatro quilômetros por dia para
ir à escola, até que chegou à
capital paulista e conseguiu entrar na USP, no
curso de assistência social. Depois fez
mestrado e doutorado, casou-se com descendente
de japoneses e formou família de quatro
filhos. |
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Orgulhoso pela solenidade no museu, enumerou postos
importantes ocupados por nisseis (filhos de japoneses)
no Brasil, um deles, o tenente brigadeiro do ar Juniti
Sato, comandante da Aeronáutica. Hara calcula
que haja cerca de 1,5 milhão de japoneses e
descendentes no Brasil e cuja contagem vai ser feita
brevemente. “Pelos cruzamentos de raças,
logo perderemos o fio da meada”, desconfia.
Guilherme Braga registrou, entre outros, a colaboração
para a montagem da exposição, dos empresários
Toru Iwasaki, do grupo Tozan, e Naoya Miyakawa, da
Mitsubishi Coffee, além de Wagner Wakayama,
da Ueshima.
“Bolas
com Ideogramas” vence o concurso da logomarca
da Exposição
O
trabalho denominado “Bolas com Ideogramas”,
de autoria de Rodrigo Nogueira Sommer, venceu
o concurso promovido pelo Museu do Café,
com o prêmio de R$ 5.000,00, para a escolha
da logomarca da Exposição. O seu
trabalho foi escolhido por conter todos os requisitos
e pela idéia inspiradora de retratar simultaneamente
nas bolas as cores do Brasil e do Japão,
e de forma sutil, a cereja do café. A Comissão
julgadora foi presidida por Eduardo Carvalhaes
e integrada por Lincoln Seragini (Design Idéias),
José Eduardo Costa (GSB2), Bechara Neves
(Condepasa) e Naoya Miyakawa (MC Coffee). |
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