Namorando
a Terra. Assim se intitula um lindo livro de René
Dubos, onde o ecólogo francês, ao declarar
amor à natureza, manifesta convicção
na sobrevivência da humanidade. Afinal, nada
está perdido.
Quando os cientistas do IPCC divulgaram o primeiro
relatório sobre o aquecimento global, a opinião
pública levou um choque. Potencializada pela
mídia, milhões de pessoas, como dizem
os jovens, caíram na real. Isso foi bom.
Por outro lado, quando os cientistas mais extremados,
para gosto das manchetes, supervalorizam o estrago
ambiental, cultivam o germe do imobilismo. Um perigo.
Só resta, pensa o povo, chorar o leite derramado.
Isso é ruim.
Posições catastróficas ajudam
a despertar os incrédulos, tanto quanto provocam
paralisia mental. Contribuem para o derrotismo ecológico
os cenários assustadores, elaborados a partir
das previsões climáticas mais improváveis.
Parece ciência, mas se resume a uma espécie
de chutômetro.
O método científico exige teoria e,
principalmente, possibilidade de comprovação
das hipóteses levantadas. Na ciência
se raciocina com probabilidades, dificilmente com
certezas. Afirmar, por exemplo, que em 2100 as tormentas
vão acabar com o mundo, expressa uma crença,
não uma previsão científica.
Se a probabilidade está em 50%, pode ocorrer,
pode não vingar. Dúvida pura.
Sabe-se que no copo dágua pela metade se encontra
a diferença entre o otimista e o pessimista.
Para este, o copo está quase vazio. Para aquele,
quase cheio. É relevante. O julgamento independe
da real quantidade de água no copo. O definem
valores prévios incrustados na mente das pessoas.
Hoje, 05 de junho, se comemora o Dia Mundial do Meio
Ambiente. Os pessimistas dirão que o mundo
está se acabando. Sua pregação
crítica abordará a gravidade da crise
ecológica. Já os otimistas ressaltarão
êxitos, obtidos na preservação
ambiental. Para uns, problemas; para outros, soluções.
Na agenda da agricultura, o “achismo”
anda exacerbado por conta do aquecimento global. Dizem
que a frustração e a ira de milhões
de famintos, resultado da desertificação
e da aniquilação das lavouras pelo calor,
debilitarão governos. O terrorismo poderá
aumentar devido ao colapso agrícola. Deus me
livre.
Na esteira dessas assustadoras previsões, divulgou-se
no Brasil um estudo produzido por meteorologistas
da Unicamp, em conjunto com a Embrapa/Informática,
mostrando o estrago que o aquecimento global deve
provocar na agricultura. A cafeicultura paulista seria
inviabilizada com um aquecimento de 3ºC, suposto
para 2040. Os produtores ficaram apavorados.
Calma lá. Pesquisadores do IAC-Instituto Agronômico
de Campinas, liderados pelo maior especialista em
café do país, Luiz Carlos Fazuoli, contestaram
tal estudo. Em recente artigo, intitulado “Aquecimento
Global, Mudanças Climáticas e a Cafeicultura
Paulista”, argumentam que aspectos primordiais
foram totalmente ignorados por climatologistas que,
intempestivamente, se meteram a entender de agronomia
aplicada.
A aptidão térmica de uma cultura é
dada por faixas de temperatura média. No caso
do café arábica, a faixa preferencial
situa-se entre 18 a 23 ºC. Em São Paulo,
a maior região produtora está na Média
e Alta Mogiana, com altitudes de 800 a 1200 metros,
garantindo temperatura média entre 18 a 20ºC.
Quer dizer, um eventual aumento de 3ºC elevaria
essas temperaturas para 21 a 23ºC, continuando
a região a ser considerada apta para a cultura
do café arábica. Não aconteceria
nada.
Mais importante. Certas práticas agronômicas,
se adotadas, atenuam o cenário de aquecimento,
amenizando a temperatura. A principal delas é
a arborização da lavoura. Explicam os
pesquisadores do IAC que o cafeeiro é originário
dos altiplanos da Etiópia, em condições
de sub-bosque, ou seja, uma planta que se desenvolveu
na meia-sombra. No Brasil, seu cultivo foi adaptado
para pleno sol devido às latitudes mais elevadas
e às altitudes inferiores à região
de origem na África. Não é o
caso da América Central. Grande parte do cultivo
na Colômbia, Costa Rica, Guatemala, México,
concorrentes do Brasil, se dá em ambientes
arborizados, visando reproduzir o habitat original
do café.
Pois bem. A arborização do cafezal proporciona
uma diminuição de até 2ºC
na temperatura, além de proteger contra ventos.
Não se trata de um sombreamento exagerado,
mas sim de uma população rala de árvores,
entremeadas ao cafezal, da ordem de 60 a 70 plantas
por hectare. Podem-se utilizar grevílea, uma
árvore ornamental, ou então plantar
abacate, bananeira e mesmo seringueira, cultivos comerciais
intercalados no café. Lavoura diversificada.
Várias outras práticas agrícolas,
como irrigação, adensamento do plantio
e manejo do mato podem ser igualmente aplicadas. Afora
o uso de novos cultivares, geneticamente melhorados,
resistentes ao calor. Tudo isso permitirá,
tranquilamente, que a cafeicultura paulista enfrente
o aquecimento global. Firme e forte.
Al Gore finaliza sua verdade inconveniente com um
repto, dirigido especialmente aos norte-americanos,
desafiando-os a transcender as limitações
impostas pela crise ambiental. Criatividade, inovação
e inspiração, afirma ele, criam novas
oportunidades, forjando a civilização
do futuro. Em meio a tanta desgraceira, a mensagem
é positiva.
O ditado popular diz que, do limão, pode-se
fazer limonada. Basta ser otimista para salvar a Humanidade.
Trabalhar pela conservação ambiental.
Sem abandonar o cafezinho. |