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Conab divulgou no dia 09/06/08, nas dependências
do Ministério da Agricultura, Pecuária
e Abastecimento – MAPA, o levantamento dos estoques
privados de café. O número consolidado
– 10.364.995 sacas - refere-se ao estoque de
passagem, com posição em 31/03/08.
Apesar desse número ter sido o menor dos últimos
7 anos – a Conab passou a fazer sistematicamente
o levantamento da safra de café, a partir de
2001 -, podemos considerar que ele ainda é
um pouco elevado uma vez que equivale a quase 1/3
(28,7%) do total da safra 2007/2008, que foi de 36,07
milhões de sacas.
A maior parte desse estoque – 7,022 milhões
de sacas, ou seja, 68,4% do levantamento nacional
- estava armazenada em estabelecimentos localizados
no Estado de Minas Gerais, onde predomina a cultura
do café arábica.
Em contato com algumas cooperativas mineiras, tivemos
a informação de que muitos cafeicultores
estão aguardando melhores preços para
poderem colocar as suas mercadorias à venda.
As exportações até o presente
momento sofreram uma redução em relação
ao ano de 2007. Nos cinco primeiros meses de 2008,
foram embarcadas 9.486.114 sacas de café verde.
Este número foi 7,02% menor do que as exportações
registradas no mesmo período do ano anterior
(10.202.388 sacas). No comparativo mês a mês
a redução foi ainda mais acentuada;
em maio de 2008, foram exportadas 1.657.559 sacas
de café verde, número 16,55% inferior,
ante o mesmo período de 2007.

Os custos de produção estão elevados
e os preços no mercado físico não
muito remuneradores, o que prejudica significativamente
a rentabilidade do agricultor. Alguns insumos tiveram
aumentos expressivos, como foi o caso do formulado
NPK 25 – 0 – 25 e o Cloreto de Potássio
que tiveram incrementos de 60% e 80%, respectivamente,
nos últimos doze meses. O custo médio
de produção (total) de uma saca de arábica
está girando em torno de R$ 232,00. Esta mesma
saca vem sendo comercializada, nos últimos
dias, no mercado físico, por R$ 250,00.
Caso essa realidade se estenda por mais algum tempo,
isso poderá refletir negativamente no resultado
da safra vindoura (com o decréscimo da produtividade)
- a de 2009/2010 -, que por sinal será um ano
de safra curta, uma vez que eles (os produtores) não
teriam como promover os tratos culturais adequados
nas suas plantações.
No que se refere a custo de produção,
uma série de fatores está levando a
esta escalada de preços. Um dos destaques diz
respeito ao preço do petróleo –
base de produção de alguns insumos agrícolas
– que está beirando a casa dos US$ 140,00
o barril, historicamente a maior cotação
já registrada até aqui, tanto em termos
nominais, como reais.
No caso do café conilon os produtores não
têm do que reclamar, pois estão recebendo
preços bastante atrativos, isso, se comparado
com os seus custos de produção.
Perspectivas
para o ano-safra 2008/2009
As perspectivas para o ano-safra 2008/2009 estão
indicando um mercado equilibrado entre a oferta e
a demanda, isso se levarmos em consideração
a possibilidade de termos uma oferta aproximada de
56,5 milhões de sacas – incluindo aí
o estoque inicial, mais o estoque do Governo Federal,
mais a expectativa de produção de 45,5
milhões de sacas, e diminuirmos deste total
a demanda estimada – formada pelo consumo interno
e as exportações - que deverá
atingir algo próximo de 45,5 milhões
de sacas. Com isso teremos boas chances de chegarmos
a um estoque de passagem para o próximo ano,
com aproximadamente 11 milhões de sacas (vide
“Quadro de Oferta e Demanda”, abaixo),
o que seria bastante razoável para fazer frente
às expectativas de produção para
2009/2010 que será um ano-safra de bienalidade
negativa.
Caso não ocorram eventos climáticos
que influam de forma significativa na produção
do ano 2009/2010 – um ano de safra curta, conforme
já comentamos anteriormente – e se levarmos
em consideração as quebras naturais,
históricas, que foram registradas nos anos
anteriores (num comparativo entre anos de bienalidade
positiva e negativa) – que têm ficado
em torno de 20%, podemos projetar para aquele ano-safra
(2009/2010) um número variando entre 36 a 37
milhões de sacas (produção).
Essa quantidade somada aos estoques de passagem (de
31/03/09), – algo em torno de 11 milhões
de sacas -, totalizará uma oferta de 47 a 48
milhões de sacas.
Por outro lado, a demanda projetada ficará
próxima de 47,5 milhões de sacas, isso,
levando-se em consideração um incremento
de 3% no consumo interno (passando de 17 para 17,5
milhões de sacas) e as exportações
que deverão bater na casa de 30 milhões
de sacas. Este último dado poderia, talvez,
ser um pouco mais elevado, caso a economia mundial
não estivesse passando por um processo de desaceleração
visando colocar a inflação sob controle.
Como se vê, podemos vislumbrar para o ano-safra
2009/2010, um cenário um pouco complicado no
que se refere a abastecimento, onde as forças
relacionadas à oferta e à demanda estarão
muito ajustadas, embora tudo isso se trate, apenas,
de uma previsão.
Com relação à questão
cambial, o real deverá se manter valorizado
no curto e no médio prazo. O Brasil, nos dias
atuais, continua sendo um caminho quase que obrigatório
para o capital internacional, principalmente depois
que as duas principais agências internacionais
de avaliação de risco – a Standard
& Poor’s e a Fitch – concederam ao
país o grau de investimento (investment grade).
Inflação
em alta e real valorizado
Os números relativos aos indicadores macroeconômicos
permanecem extremamente favoráveis. Mesmo com
a perspectiva do Banco Central em ter que promover
um incremento nos juros da economia interna –
a Taxa Selic -, nos próximos meses, com o objetivo
de conter a escalada inflacionária –
a Pesquisa Focus aponta para uma inflação
de 5,8%, em 2008 -, o mercado ainda trabalha com uma
projeção de crescimento do PIB, da ordem
de 5%. (Fonte: IBGE)

Vale ressaltar que a demanda interna é responsável
por 60% da formação do PIB. Tudo isso
acaba chamando a atenção dos investidores
internacionais que estão direcionando parte
expressiva das suas aplicações para
o nosso país. Dentro dessa realidade a expectativa
é de que o dólar permaneça desvalorizado
no médio prazo, o que se traduziria numa cotação
entre R$ 1,60 a R$ 1,70. Obviamente que esse quadro
não seria nada favorável aos setores
ligados à área de exportação,
onde o café se inclui.
Ainda com relação a câmbio, existe
uma incógnita no mercado a respeito do Fundo
Soberano que está sendo criado pelas autoridades
da área de finanças do país.
Caso esse fundo realmente tenha que vir a mercado
para adquirir dólares, com o objetivo de fazer
a sua composição, aí as perspectivas
começariam a ficar favoráveis para a
área de exportação. Mas como
já dissemos, tudo ainda está muito indefinido
e nebuloso quando se trata de Fundo Soberano. Alguns
comentam que este Fundo terá um capital inicial
de US$ 10 bilhões, podendo chegar até
300 bilhões de dólares no médio
prazo.
No tocante aos aspectos externos, relacionados à
economia mundial, é conveniente destacar um
fator que poderá comprometer o crescimento
do consumo mundial de café nos próximos
meses e possivelmente no ano seguinte - 2009. Trata-se
da desaceleração do crescimento da economia
mundial. É flagrante – e generalizado
- o recrudescimento da inflação em vários
países, que é provocada pela elevação
dos preços das commodities (com destaque para
as commodities agrícolas – alimentos)
e do preço da energia. O índice de preços
da Economist informa que apenas no acumulado deste
ano a alta dos alimentos no mercado mundial já
alcançou 20,5%.
Segundo dados do Banco Mundial, a inflação
global já atingiu 5,5% ao ano. Na China, a
inflação que há três anos
se encontrava no patamar de 1,5%, hoje beira a casa
dos 8%. Nos Estados Unidos, esse índice praticamente
dobrou no acumulado dos últimos doze meses.
Em maio de 2008, a taxa (anualizada) ficou próxima
dos 4%.
Na zona do Euro as coisas não estão
muito diferentes. Entre maio de 2007 e maio de 2008,
os preços subiram 3,9%. Em maio de 2007, a
taxa anualizada era de 2,1%, ou seja, praticamente
dobrou no espaço de um ano.
Em função desta realidade, não
resta outra opção aos Bancos Centrais
dessas nações, a não ser efetivar
um incremento das taxas de juros, o que certamente
irá provocar um desaquecimento dessas economias.
Portanto, o cenário relacionado ao consumo
mundial de café está intrinsecamente
ligado a essa perspectiva.
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