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Junho 2008 - Ano 87 - Nº 826

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Para entender porque tantos japoneses vieram ao Brasil, é preciso remontar ao século XIX, mais especificamente à 1868, ano que marca o fim da idade média no Japão e o início de um período de rápidas e profundas mudanças. O antigo regime político, baseado no shogunato, espécie de ditadura militar feudal, é substituído por um sistema oligárquico imperial com características bem mais avançadas. O Japão, que mantinha uma rígida política isolacionista, abre-se ao mundo. Para apreender as novas tecnologias ocidentais, enviam-se estudantes ao exterior e incorporam-se milhares de estrangeiros ao mercado de trabalho japonês. No espaço de apenas uma geração, o Japão torna-se uma potência econômica comparável à Inglaterra, um processo que até hoje causa admiração aos historiadores. A consequência da modernização do sistema produtivo, com introdução de novos cultivos, como a batata, provocou uma explosão demográfica, problema grave para um país com terríveis deficiências em recursos naturais.

Diante da fome, não havia outra solução. Com apoio oficial, milhões de japoneses abandonaram seu país e foram tentar vida nova nas Américas. O primeiro país escolhido foram os Estados Unidos, que viviam uma fase de acelerada expansão industrial e onde a necessidade de mão-de-obra havia se tornando premente após a aprovação de lei, em maio de 1882, que proibia a imigração de chineses.

As portas do Mundo Novo, então, abriram-se aos japoneses. Os mesmos motivos, porém, que levaram políticos americanos a vetarem o ingresso de chineses, foram usados para o caso dos japoneses. Em 1907, os governos do Japão e EUA dão por encerrada a imigração de trabalhadores japoneses, cujo fluxo é desviado para a América Latina, particularmente para o Brasil, que irá abrigar, a partir de então, a maior colônia japonesa do mundo.

A imigração japonesa no Brasil comemora, no dia 18 de junho, o seu primeiro centenário. A data marca o desembarque, em 1908, do navio Kasato Maru, trazendo 781 japoneses para trabalhar em fazendas no estado de São Paulo. Muitos outros navios chegarão ao país nos anos seguintes, num fluxo que cessará apenas no fim dos anos 50, após o ingresso de cerca de 260 mil japoneses.

Entre estes japoneses estava Toshikazo Takahashi, pai de Creuzo Takahashi, cafeicultor e presidente da Cooperativa Agrícola de Monte Carmelo, que narrou a história de sua família durante o 17º Seminário Internacional do Café, realizado em maio deste ano em Guarujá, em palestra e, depois, em entrevista exclusiva à Revista do Café.

Toshikazo sonhava há tempos com a abundância de terras e as oportunidades de trabalho nesta parte do mundo. A crise alimentar estava braba no Japão. Toshikazo contaria, anos depois, ao filho nascido no Brasil, que passou um ano inteiro se alimentando de batata cozida. Em 1932, Toshikazo chega ao porto de Santos. No cais, a primeira maravilha: cachos de banana, ofertados a preços de... banana. “Meu pai comeu um cacho inteiro”, conta Creuzo, rindo. A experiência, que não podia ser mais brasileira, marcou profundamente o cansado viajante, que conservaria o hábito de comer banana até o fim de seus dias.

Toshikazo irá trabalhar por um ano numa fazenda de café em Cafelândia. Aí começam as dificuldades. A principal delas é o choque cultural. Os japoneses, explica Toshikazo, sabiam ler e escrever, não só japonês, mas também latim, uma vantagem que pouco lhes valeria no ambiente rude de uma fazenda de café, lidando com donos e gerentes a maior parte das vezes analfabetos e violentos.

A violência que mais choca os imigrantes, no entanto, é a exercida contra mulheres e crianças. As primeiras eram obrigadas a trabalhar com até 7 ou 8 meses de gravidez, e logo depois do bebê completar 3 meses. As crianças, com pouco mais de 11 anos, também já entravam na lida. Creuzo conta que a família de sua mãe, por conta desse tipo de exploração, entre outros, foi a que mais sofreu. Tendo chegado ainda criança ao Brasil, em 1926, a mãe de Creuzo já dava duro na lavoura. Trabalhou por cinco anos, antes de se casar.

Para superar essas dificuldades, os japoneses logo formariam colônias bastante fechadas, cultivando em terras próprias. Toshikazo Takahashi, após um ano labutando em Cafelândia, adquiriu trinta alqueires no município de Bastos, onde iniciou o cultivo de algodão e bicho-da-seda. Então casou-se e teve filhos. Quando os mesmos cresceram, mandou-os estudar em São Paulo.

Os gastos aumentaram e o velho Takahashi decidiu que era hora de mudar de ramo. Vendeu as terras e emigrou novamente, desta vez para o norte do Paraná. Seu plano era produzir café, mas não podia esperar três anos até a primeira produção e teve outra idéia. Montou um hotel, comprou um jipe e começou a prestar serviço de hospedagem e transporte para a grande quantidade de empreendedores, boa parte japoneses, que chegavam à região. E assim Takahashi conseguiu custear o estudo superior dos filhos.

Creuzo Takahashi, já formado em ciências agronômicas pela Esalq, foi um dos cafeicultores pioneiros na região do cerrado. O primeiro plantio do café na região, conta Takahashi, foi na Serra do Salitre, em 1980. Havia muito ceticismo quanto ao futuro do café no cerrado, por conta da baixa fertilidade do solo. “A terra do cerrado é usada apenas como suporte”, explica o produtor. Deve ser, portanto, cientificamente tratada para que o cultivo de café seja eficaz. Hoje, o café do cerrado não apenas é viável, como se tornou referência mundial em produtividade e tecnologia.

Em Guarujá, a palestra de Takahashi foi um contraponto otimista ao discurso anterior, feito por Norberto Paschoal, um dos maiores produtores de café do país, que havia alertado para a alta do custo de produção e a possibilidade de forte escassez nos próximos dois anos. Takahashi disse que os produtores de sua região, no cerrado mineiro, têm conseguido preços bastante favoráveis. Ele admitiu que o custo dos insumos vem subindo a um ritmo forte, mas a sua cooperativa conseguiu comprar todo material necessário, para aplicação em setembro, antes do aumento formidável de 130% ocorrido este ano. “Compramos R$ 10 milhões em adubo. Já garantimos a aplicação deste ano, feita em setembro. Ou seja, garantimos a produtividade para o ano que vem”.

“O café está vivendo um bom momento, mas não como a gente esperava”, explica Takahashi. Na sua opinião, o café vive ciclos de 4 anos, alternando bons e maus momentos. Depois de 4 anos ruins, o café agora vive os seus 4 anos bons. Ele tem notado expansão de lavouras por parte dos grandes produtores. Os pequenos têm investido principalmente em renovação. A Copermonte, informa, possui 212 associados, sendo 10 grandes (acima de 500 mil pés), 120 médios (100 a 500 mil pés) e cerca de 70 pequenos (menos de 100 mil pés). O faturamento esperado para este ano é de R$ 75 milhões, com expectativa de receber 200 mil sacas, das quais 70 mil já foram vendidas, a R$ 290 a saca, em média.

Em 2007, informou, a caixa da Copermonte registrou sobra de R$ 1,28 milhão, do quais 10% foram distribuídos para os 52 funcionários, e o restante para os cooperados – 45% na forma de benefício, como sacaria grátis e redução do custo de armazenagem, e 45% na forma de capital social do cooperado. Com parte da verba, a cooperativa adquiriu uma nova estrutura de beneficiamento, na qual investiu R$ 1 milhão em maquinário para separação de peneiras. Será o quarto armazém da cooperativa, que já possuía um centro de beneficiamento voltado para os produtores pequenos. O segredo do sucesso da cooperativa, explica Takahashi, é o uso intensivo de ferramentas de mercado futuro, que têm garantido a segurança financeira da instituição e dos cooperados. O endividamento da Copermonte é baixo, somente R$ 10 milhões. “Temos R$ 15 milhões a receber dos produtores e já compramos o adubo para este ano. Temos zero de inadimplência”.

A região de Monte Carmelo, além do café, cultiva um pouco de grãos e possui muitas granjas, sobretudo de criação de peru. Possui ainda indústrias de cerâmica. A irrigação, quase toda por gotejamento, já atinge 60% das lavouras de café, tendo chegado quase ao limite hídrico da área. A mecanização também é alta, alcançando cerca de 50% do processo de colheita. A mão-de-obra na colheita é quase toda local, com cerca de 30% vinda de fora. A diária está em R$ 30,00 e 99% dos contratos respeitam as leis trabalhistas, com assinatura de carteira. “É raro haver alguma notificação do Ministério do Trabalho por aqui”, diz Takahashi.

A previsão de safra para o cerrado, segundo ele, é de 4 a 5 milhões de sacas este ano, um bom volume. Mas a qualidade preocupa. “O índice de café verde está alto, muito desigual. Mas o maquinário que adquirimos irá facilitar a separação dos grãos indesejáveis”.

Ele admite que as cooperativas têm problema de falta de rotatividade de seus diretores porque a maioria esmagadora dos associados não tem condição ou tempo para administrar. “Eu mesmo, só assumi a parte executiva depois que vendi minha fazenda. Estou voltando à lavoura em breve e deverei repassar a responsabilidade para outra pessoa”. Ele observou ainda que o cooperativismo, para cumprir seus objetivos sociais e ser viável financeiramente, deve basear-se em rígidos princípios éticos, os quais devem estar presentes no próprio estatuto das instituições.

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