O
I Simpósio de Certificação
de Cafés Sustentáveis, realizado em
Poços de Caldas/MG, nos dias 19 e 21 de maio,
atingiu o objetivo de promover uma ampla discussão
entre a comunidade científica e representantes
dos diversos setores do agronegócio café,
sobre produção, comercialização
e consumo de cafés sustentáveis certificados.
Durante os três dias foi possível promover
a integração entre os vários
segmentos do sistema agroindustrial do café,
construindo de forma participativa conhecimentos que
poderão subsidiar a tomada de decisão
de produtores, cooperativas e do Governo sobre sustentabilidade.
Na solenidade de abertura, estiveram presentes Orlando
Castro de Melo, diretor geral do IAC; Luiz Carlos
Fazuoli, diretor do Centro de Café ‘Alcides
Carvalho’ do IAC; Aymbiré Francisco Almeida
da Fonseca, gerente geral da Embrapa Café;
Sebastião Navarro, prefeito de Poços
de Caldas; e deputado estadual Carlos Mosconi que
destacaram a importância da iniciativa de debater
novas demandas de pesquisa e fatores que influenciam
a competitividade do café brasileiro, contribuindo
para aumentar a renda atual da atividade e, deste
modo, estimular o produtor a realizar novos investimentos.
Demanda
e consumo de cafés sutentáveis certificados
A demanda por cafés diferenciados com agregação
de atributos sócio-ambientais vem ao longos
dos anos aumentando de forma considerável em
diversos países consumidores pelo mundo, principalmente
naqueles onde a população possui maior
poder aquisitivo. O Pesquisador cientifico do IAC,
Sérgio Parreiras Pereira, apresentou na palestra
“Do Grão à Xícara: como
a escolha dos consumidores afeta cafeicultores e meio
ambiente” e no filme “Just Coffee”
as mudanças nos padrões de consumo e
os principais impactos da produção sustentável
certificadas de café. As recomendações
e conclusões são destinadas aos consumidores,
demonstrando que sua escolha nas gôndolas dos
supermercados está ligada à produção
de café, assim incentiva-se o consumo de cafés
sustentáveis certificados.
Mônica Pinto, Coordenadora de Projetos da Associação
Brasileira da Indústria de Café (ABIC),
apresentou as diversas iniciativas empreendidas pela
entidade que visam, através de parcerias entre
a indústria, os cafeicultores e suas cooperativas,
promover a sustentabilidade e a qualidade em toda
a cadeia do café, complementando que “o
resultado deverá ser a oferta de cafés
diferenciados, com rastreabilidade assegurada desde
a planta até a xícara”.
Cafeicultura
familiar e trabalhadores assalariados
A cafeicultura familiar e a necessidade de implementação
de políticas públicas para o setor foram
amplamente discutidas em apresentações
durante o evento. Jasseir Alves Fernandes, representante
da União Nacional de Cooperativas da Agricultura
Familiar e de Economia Solidária (UNICAFES),
destacou que a atual realidade social brasileira desafia
a sociedade e governos a aliar crescimento econômico
com distribuição de renda e geração
de oportunidade de trabalho na construção
de alternativas para combater as desigualdades sociais.
Fernandes citou ainda que o Ministério do Trabalho
e Emprego (MTE) deve concluir no prazo máximo
de dois meses, a instrução normativa
sobre o Sistema Nacional de Comércio Justo
Solidário.
Leonardo de Carvalho, representante da Associação
Brasileira de Empreendimentos do Comércio Justo
e Solidário (ECOJUS) na região sudeste,
abordou a articulação política
dos cafeicultores familiares e o fomento ao intercâmbio
de experiências e informações,
relatando a experiência da Cooperativa dos Agricultores
Familiares de Poço Fundo (Coopfam) no mercado
de cafés especiais, com destaque para a certificação
Fairtrade Labelling Organizations (FLO) de comércio
justo e solidário e seus impactos.

Acreditação
e Produção Integrada
O papel do INMETRO na Avaliação da Conformidade
da Produção Integrada de Produtos Agropecuários
foi a apresentação de Luciana Portugal,
representante do Instituto. O INMETRO é responsável
pelo credenciamento e acreditação das
certificadoras da Produção Integrada,
que por sua vez, são responsáveis pelo
credenciamento e auditorias dos produtores inclusos
no sistema.
José Maurício Andrade Texeira, representante
do MAPA, discorreu sobre a Produção
Integrada no Brasil, sistema que emprega tecnologias
que permitem a aplicação de Boas Práticas
Agrícolas - BPA e o controle efetivo de todo
o processo produtivo, que visam a obtenção
de um alimento seguro e com melhor qualidade, produzidos
dentro dos princípios de responsabilidade social
e de menor agressão ao meio ambiente.
Florindo Dalberto, consultor e ex-presidente do IAPAR,
apresentou o PIC (Produção Integrada
de Café) como um programa construído
com sólido embasamento técnico-científico,
trabalhada desde 2003 com o envolvimento de especialistas
e produtores. A proposta apresentada pelo CBP&D/Café
foi elaborada em articulação com o projeto
desenvolvido na Universidade Federal de Viçosa
(UFV), que é liderado pelo professor Laércio
Zambolim.
Certificações
Um dos objetivos principais do Simpósio foi
abrir espaço para que o público conhecesse
o protocolo ou modelo das principais certificações
em aplicação no Brasil. Informações
sobre os conceitos, volumes da produção
e do mercado, expectativas para os próximos
anos, mudanças estruturais, legislação
e diferenciais em relação aos concorrentes
foram temas apresentados pelos representantes de cada
modelo e discutidos posteriormente com a participação
do público por meio de painéis.
Segundo as apresentações, as certificações,
através de auditorias e inspeções
de terceiros, garantem que o café é
produzido em conformidade com os requisitos especificados
em cada uma das normas pré-estabelecidas. Cada
protocolo possui normas e códigos de conduta
que visam atender requisitos específicos e
exigências demandadas pelo mercado e por consumidores
de todo mundo.
Iniciativas
em prol da sustentabilidade
No último dia do Simpósio, a comissão
organizadora optou por apresentar ao público
algumas iniciativas envolvendo o tema sustentabilidade,
como certificação em grupo, associativismo
e gestão da propriedade cafeeira. Tais iniciativas
buscam estender os benefícios da certificação
a um número maior de produtores. Nesse cenário
torna-se preponderante a união entre a sociedade
civil organizada e os agentes que atuam na implementação
de políticas públicas, no sentido de
inserir também neste mercado associações
de cafeicultores, principalmente aqueles de base familiar.
O pesquisador da Embrapa Café e Consultor do
SEBRAE, José Luis Rufino, apresentou o Projeto
Educampo Café: Uma proposta de gestão
de custos para a propriedade cafeeira. O Educampo
Café é um projeto do Serviço
Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas
(Sebrae/MG) sendo um modelo de orientação
gerencial e tecnológica, contínua e
intensiva, direcionado a grupos de cafeicultores vinculados
a uma associação ou cooperativa. Busca
a adoção de controles gerenciais na
propriedade cafeeira, aliados à prática
de tecnologias de produção adequadas,
proporcionando ao cafeicultor maior conhecimento de
seu negócio. Rufino destacou que o “o
Projeto atua em 17 associações através
de 24 grupos de produtores, com um total de 292 fazendas,
responsáveis por cerca de 3% do café
produzido em Minas Gerais e, embora não tenha
ligação com certificação,
o Educampo Café é uma iniciativa que
visa o aumento da lucratividade na produção
cafeeira, pois sem levar em consideração
a dimensão econômica fica difícil
o cafeicultor implementar ações sócio-ambientais”.
O Programa Certifica Minas Café - um dos programas
estruturadores do Governo mineiro -, foi apresentado
por Julian Silva Carvalho que destacou o seu propósito
de atender à legislação brasileira
e às exigências dos mercados e permitir
aos cafeicultores, especialmente os familiares, o
acesso à certificação e sua inserção
no mercado de cafés especiais.
O projeto de Certificação de Venda Nova
do Imigrante (ES) foi apresentado por Jackeline Uliana
Donna, secretária executiva da Associação
de Produtores de Venda Nova do Imigrante (PRONOVA).
A Associação e o Centro de Certificação
e Controle da Qualidade do Café impulsionaram
pesquisas em articulação direta com
o INCAPER para a melhoria da qualidade do café
produzido nas Montanhas do Espírito Santo -
ES. Os produtores do município passaram a adotar
novas tecnologias, implantando mudanças no
processo de colheita e pós-colheita de café:
“cereja descascado”. Entre 2003 e 2004,
a PRONOVA tornou-se cooperativa e deu início
ao processo de adequação para ser certificada
FAIRTRADE, por meio da FLO-CERT e, em 2005, conquistou
o Selo do Comércio Justo da FLO. Em 2006, a
PRONOVA passou a coordenar o “Programa de Certificação
e Rastreabilidade dos Cafés das Montanhas do
Espírito Santo”.
O presidente da Cooperativa Agropecuária de
Patrocínio (COOPA), Fausto Amaral da Fonseca,
fez a apresentação sobre “Café
do Cerrado - Inclusão de Todos” - Um
Programa de Apoio aos Pequenos Produtores de Café.
Fonseca fez um detalhamento sobre a região
do Cerrado mineiro e apresentou um histórico
sobre o Conselho das Associações dos
Cafeicultores do Cerrado e suas conquistas nos últimos
15 anos. A cafeicultura do Cerrado ficou conhecida
pela excelência de sua qualidade e os modelos
de gestão empresarial de sua cafeicultura,
mas na região existem inúmeros pequenos
produtores que necessitam de apoio para também
se inserirem no mercado de cafés diferenciados.
Assim, o programa “Inclusão de Todos”
surge desta necessidade e tem por objetivo atuar nas
áreas de organização; treinamento;
acesso a tecnologias e crédito; gestão
e certificação; marketing, promoção
e comercialização.
Conclusões
O I Simpósio de Certificação
de Cafés Sustentáveis não teve
o intuito de exaurir o assunto em apenas três
dias, mas sim promover o início de uma ampla
discussão que o agronegócio café
há tempos necessitava. Inevitavelmente, o sistema
agroindustrial do café passará a cada
dia com maior amplitude, por sensíveis alterações
nos padrões de produção, comercialização
e consumo.
O foco do mercado é no consumidor, que exige
alimentos sadios e ausentes de resíduos. As
cadeias de distribuidores e supermercados passam a
levar em consideração: o nível
de resíduos de defensivos, respeito ao meio
ambiente e às condições de trabalho,
higiene e saúde. Para se acessar o mercado
de produtos diferenciados, com alto valor agregado,
é exigida a comprovação da gestão
sócio-ambiental como garantia de negócio
sustentável.
O grande número de modelos de certificação
gera preocupações nos dois sentidos
dentro do sistema agroindustrial. Do lado dos consumidores
faz-se necessário um trabalho de educação
que vise explicar as diferenças entre os programas
de certificação e as razões das
diferenças de preços. Do lado dos produtores
faz-se necessário investimento em pesquisa
e estudos que indiquem ao setor produtivo quais as
vantagens e impactos de cada modelo para auxiliar
na tomada de decisão. Os programas de certificação
devem concentrar esforços visando promover
a certificação em grupo e reduzir os
custos da certificação, particularmente
para os pequenos produtores. Tornam-se necessárias
políticas públicas setoriais visando
a inserção de um número maior
de cafeicultores na produção e comercialização
de cafés sustentáveis certificados e
programas de Marketing que apresentem ao mercado externo
a excelência brasileira na produção
sustentável de café.
|