Diversificar
a lavoura de café, com a introdução
de outras alternativas de exploração
agrícola/pecuária nas regiões
e propriedades cafeeiras sempre foi uma preocupação
das políticas para o setor, desde a época
da erradicação dos cafezais, de 1961-67,
passando por programas não só do Governo
Brasileiro, como, também, no âmbito dos
Planos da OIC-Organização Internacional
do Café. Na época, o objetivo principal
era evitar super-produções de café,
evitando pressões negativas sobre os preços.
Passados 40 anos, a questão da diversificação
permanece. Pouco se diversificou nas principais áreas
cafeeiras do mundo. O exemplo maior vem da Colômbia
e da América Central, onde o café representa
mais de 80% da renda nas propriedades cafeeiras e
nas regiões. Aqui no Brasil, o sucesso de diversificação
só ocorreu nos estados do Paraná e São
Paulo onde, na realidade, o café não
foi diversificado, mas sim reduzido, em boa parte,
pelo efeito das geadas, ali se desenvolvendo as culturas
de soja, trigo, milho, cana, citrus e outras.
Nas principais zonas cafeeiras no Brasil, atualmente,
como nos estados de Minas Gerais e Espírito
Santo, onde se concentra 75% da produção
de café do país, as propriedades cafeeiras
e suas regiões carecem de uma maior diversificação,
visando reduzir os riscos, climáticos e econômicos
de uma quase monocultura.
As maiores dificuldades de diversificar têm
sido encontrar atividades agrícolas/pecuárias
vantajosas em termos de adaptação às
condições das propriedades cafeeiras
e em termos de renda. O café, bem ou mal, tem
comercialização fácil, pode ser
armazenado, e apresenta, se bem conduzido, uma boa
renda por área, adaptando-se a pequenas, médias
e grandes propriedades, em áreas montanhosas
ou mecanizáveis.
No entanto, algumas alternativas de diversificação
mais atraentes têm aparecido, ultimamente, e
alguns exemplos de sucesso regionalmente vêm
sendo observados, sendo o objetivo do presente relato.
Necessidade
de diversificar
A necessidade atual de diversificar a lavoura cafeeira
mudou um dos seus objetivos do passado, que era reduzir
a produção global de café. A
oferta do produto se encontra bem equilibrada em relação
à demanda e alguns estudos apontam, até,
para a necessidade de aumentar os plantios e a produção
de café, visando suprir os aumentos previstos
no consumo. Embora essa projeção seja
coerente, no curto prazo, as safras mais altas ou
suas previsões abalam o mercado, influindo
negativamente nos preços, como ocorreu, recentemente,
com uma previsão de safra superior a 50 milhões
de sacas em 2008.
Diversificação,
combinando mamoeiros
com cafeeiros, Pirapora – MG |
Jardim
clonal em Eng. Dolabela – MG |
A
diversificação é importante,
hoje, pela renda adicional que pode gerar nas propriedades,
aproveitando áreas pouco utilizadas, contribuindo
para a sustentabilidade da própria cafeicultura.
Exemplos
de sucesso na montanha
Nas regiões cafeeiras montanhosas, como ocorre
no maciço formado pela Zona da Mata de Minas,
Espírito Santo e Norte do Rio de Janeiro, o
melhor exemplo de sucesso de diversificação
tem sido com a cultura do eucalipto, na sua maioria
motivado pelo pólo de celulose situado no Espírito
Santo(Aracruz). O eucalipto tem apresentado custo
de implantação de cerca de R$ 1.000,00
por ha, rende, sem grandes cuidados, cerca de 300
m3/ha na época do corte, com valor bruto de
venda por ha de cerca de R$12.000,00, que, abatidas
as despesas de corte e frete, cai para uma renda de
cerca de R$ 7.500, 00, em 5-7 anos, ou seja, mais
de mil reais por ha/ano.
Outros exemplos, em menor escala, combinando com o
café, na mesma área tem sido com o cultivo
de árvores de madeira nobre, como o cedro australiano,
que vem respondendo bem em crescimento, podendo chegar
ao corte aos 10-13 anos, com 1,5 m3 por árvore
e ao preço de R$ 500,00-R$ 600,00 por m3, um
mercado ainda não bem definido. O cultivo de
palmeiras, como pupunha e palmeira real, apesar de
não existir dificuldade maior quanto à
parte agronômica, a questão de mercado
tem sido crítica. Uma cultura que vai indo
bem na região de Marechal Floriano é
a de banana da terra. Cultiva-se no meio do cafezal,
na fase de formação da lavoura, ou após
uma recepa. Um sistema interessante é aquele
onde uma lavoura adensada, de 2 m de rua, quando recepada,
tem uma cada 2 linhas eliminada, neste espaço
sendo plantada uma linha de bananeiras, ficando as
mesmas a 4x5m sendo usado nas lavouras abertas a 5x5m.
Em cerca de 3 anos de cultivo são tirados 3
cachos por planta de bananeira, então se elimina
a cultura. Com 400 a 500 plantas por há, teremos
1200-1500 cachos/ha em 3 anos, cada cacho podendo
render de 8,00 a 15,00 reais.
Açaí,
aproveitando os fundos úmidos de
propriedade cafeeira em Mutum – MG |
Cafeeiro
Conillon altamente produtivo, que tem motivado
seu uso em combinação/substituição
de cafeeiros arábica |
Outras alternativas potenciais para as zonas montanhosas,
sempre com base em cultivos perenes, já que
as áreas não competem em cultivos anuais,
são o cultivo de frutas e flores, a própria
combinação com seringueira, que vinha
bem e foi desassistida pelo Governo, além da
criação de gado de leite, cujos preços
do produto melhoraram, e no qual existem bons resultados
em pequenas áreas de pastejo intensivo.
Alternativas
nas áreas mecanizáveis
Uma das boas alternativas que vinha se mostrando nas
áreas mecanizáveis era a cana de açúcar
com o programa de álcool combustível
e, mesmo, outras alternativas para bio-diesel, como
o girassol, soja e, até o bem falado e pouco
pesquisado pinhão manso, este último
de manejo mais manual.
No Sul de Minas e no Triangulo Mineiro, tem crescido
a diversificação de propriedades, motivada
pela melhoria dos preços dos grãos,
soja/milho, além da cana em micro-regiões
com novas usinas e a pecuária de leite que
vem sendo retomada e/ou ampliada.
Plantio
de pimenta do reino |
Combinação
do café com banana da
terra em Marechal Floriano – ES |
Na região Norte de Minas, tem crescido o cultivo
de eucalipto para carvão e numa propriedade
de café vem tendo sucesso o plantio da pimenta
do reino, com boa renda. No Norte do Espírito
Santo também a pimenta e as fruteiras, como
mamão, maracujá e abacaxi. O mamão
contribui para o café com a sombra inicial.
Os plantadores pegam a área e plantam mamão
e o café conillon, entregando o cafezal formado,
a custo zero, para o proprietário, aos 2,5
anos, quando acaba a cultura do mamoeiro.
Café
por café
Uma alternativa que vem ganhando corpo, nos últimos
anos, impulsionada pelo pequeno diferencial de preço
e pelo menor custo de produção do café
robusta-conillon, tem sido a troca ou combinação
do café conillon com o arábica, isto
em áreas tradicionais de arábica. Tem
havido grande interesse e, já, áreas
em plantio nessa condição, alguns estudos
indicando ser uma tendência determinada pelo
próprio processo de aquecimento global, sendo
o robusta mais resistente ao calor e às estiagens.
As pesquisas e os exemplos práticos mostram
que é possível, tanto cultivar variedades
arábica nas áreas de conillon, como
o contrário.
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