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Dezembro 2008 - Ano 87 - Nº 828

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Já fazia um tempinho (6 anos) que não ia visitar as regiões cafeeiras da Colômbia para verificar as condições em que a lavoura e os cafeicultores vêm se desenvolvendo naquele país.

Com áreas de café numa topografia muito inclinada, que dificulta os tratos, colhendo café quase o ano todo, através de 12-16 passadas, tem-se a impressão inicial de que os cafeicultores colombianos são muito loucos. Mas, conhecendo melhor os aspectos favoráveis, como o clima e o solo muito adequados e tendo ciência do grande apoio que os produtores dispõem, além de preços melhores dos seus cafés, em relação aos nossos, chega-se à conclusão de que existe uma boa compensação para aqueles problemas, e observa-se, assim, que os cafeicultores são loucos, mas não muito, como diz o nosso título.

Cafeicultura de pequenos

A cafeicultura da Colômbia é feita nas áreas altas de três cordilheiras, mais ou menos paralelas, que cortam o país no sentido Norte/Sul. São a Central, a Oriental e a Ocidental.
O café é cultivado numa área de cerca de 600 mil ha, com produção anual ao redor de 12 milhões de sacas/ano.

Existem na Colômbia cerca de 560 mil produtores de café, o que dá uma média de apenas cerca de 1 ha de lavouras por propriedade. Na principal região, que abrange os Estados de Caldas, Quindio e Risaralda, a qual visitamos recentemente, 64% dos produtores têm menos de 1,0 ha, 31% têm de 1-5 ha e somente 5 % têm mais de 5 ha de lavouras de café por propriedade. Pode-se ver, então, que a cafeicultura colombiana é predominantemente de pequenos produtores.

Clima, solo e sistema de plantio favoráveis

As zonas cafeeiras da Colômbia se localizam em condição equatorial, onde as temperaturas pouco variam ao longo dos meses do ano. São cerca de 2000 horas de luz por ano. As chuvas são abundantes e bem distribuídas. Assim, os cafeeiros dão inúmeras floradas e não existem déficits hídricos. Irrigação na lavoura de café, nem pensar.

Os solos são de origem vulcânica, profundos, férteis e com altos teores de matéria orgânica, de 6 a 15%, com teores também altos de Ca, K e P, sendo baixos somente em Mg. Por isso, as formulações de NPK vem já com 2-4% de MgO.


Os produtores maiores adubam até bem, com cerca de 1,5 t de fórmula NPK/ha (17-10-18=S e Mg), para conseguir uma produtividade de 50-70 sacas/ha em plantações adensadas, sendo mais comum o espaçamento 1 x 1 m, com 10000 pl/ha. O sistema adensado é adequado, pois intensifica o uso das áreas, protege o solo íngreme e permite ganhos de produtividade por área.


Cafezal adensado, com alto nível de tecnificação,
com a variedade Castillo, em Caldas,
CO, vendo-se ao fundo as colinas cafeeiras

Vista de cafezal com área de renovação,
aos 5 anos, através de recepa

Variedade resistente, sem ferrugem mas com muita broca

Na cafeicultura colombiana predomina, atualmente, a variedade chamada de Colômbia, na versão mais antiga ou, mais recentemente, na versão selecionada chamada de “Colômbia excelso” ou “Castillo”, uma melhoria das linhas que compõem a variedade Colômbia inicial, tratando-se de mistura de catimores. Nos cruzamentos iniciais os pesquisadores do Cenicafé usaram a planta do Híbrido de Timor diferente da nossa no cruzamento com Caturra, e, assim, até o momento, a Variedade Colômbia/Castillo tem se mostrado imune à ferrugem do cafeeiro.
Diferentemente do que ocorre no Brasil, sobre a orientação firme e continuada da Federación de Cafeteros, através de seus Órgãos de pesquisa e assistência técnica, os produtores substituíram, quase que totalmente, a variedade tradicional que cultivavam - a caturra- pela variedade resistente. Deste modo, não se viu nenhuma ferrugem na Colômbia, embora os técnicos nos tenham informado que as poucas plantações de caturra ainda remanescentes são muito atacadas pela doença.

A variedade Colômbia, como todos os catimores, é muito produtiva, porém é menos vigorosa que as nossas variedades. No entanto, devido às condições favoráveis do ambiente, ela mostra pouco stress pela carga nas lavouras colombianas, apesar de atacada pela cercosporiose, dando indicação de sua fraqueza.

A adoção de uma nova variedade, combinada ao sistema de plantio adensado e a pleno sol, diferentemente do que era no passado, onde predominava o sombreamento, foi uma grande vitória de sistema de pesquisa/extensão na Colômbia. Lembra a época do ex-IBC, nas décadas de 1970-80, quando se renovou quase totalmente a cafeicultura brasileira, introduzindo variedades mais produtivas e incorporando novas regiões cafeeiras, que têm sido a base para a elevação das produções/produtividades. Bons tempos aqueles, em que o produtor, pequeno ou grande, tinha a mesma assistência.

A adoção de variedade resistente à ferrugem foi muito acertada, pois o controle químico, especialmente aquele via pulverização, seria muito difícil, pela topografia, pelas chuvas e pelo adensamento. Tanto assim, que a broca do café, para a qual não se dispõe de resistência genética, dá um sufoco nos produtores, embora seu controle químico seja mais fácil do que o da ferrugem.

Vimos lavouras com pouco mais de um ano de campo, com pequena frutificação e, mesmo assim com frutos broqueados. Essa situação é inusitada para nós aqui do Brasil, já que a população da broca ainda não se estabelece a nível prejudicial.

As condições agravantes para o maior ataque da broca nos cafezais da Colômbia nos parecem ser a frutificação constante, que mantém alimento (frutos) o ano todo, e chuvas favoráveis, sem períodos secos, além do adensamento. Estranho é ver que um fator atenuante, a colheita parcelada e constante, que tira os frutos maduros, portanto podendo reduzir a população da broca na lavoura, não consegue diminuir significativamente o ataque.

Controle da broca

A broca é muito importante para o café da Colômbia, pois o bom aspecto dos grãos, característica marcante dos cafés suaves colombianos, é prejudicado por qualquer dano no grão provocado pela broca. Uma pequena “mordida” da broca, na margem do grão de café, chega a baixar o seu preço. Lá, isso se conhece como “beso” (beijo para nós) de broca.O controle químico, como já dissemos, é difícil, ainda mais que lá só admitem inseticidas menos tóxicos, sendo o Endossulfan proibido, porém usado de forma camuflada. Recomendam 1,75 l/ha de produto a base de Chlorpirifós. Alguns produtores usam, ainda, 2 aplicações anuais de formulações de esporos do fungo Beauveria bassiana. De modo complementar é indicada a Re-Re, que significa revisar e recolher, visando não deixar frutos na lavoura, porém é uma operação difícil e custosa, dificultada pelas chuvas e pelo adensamento. É mais problemática a retirada dos frutos do chão,para esta tarefa sendo desenvolvida uma máquina costal, tipo um aspirador de pó, visando facilitar essa coleta.

A amostragem da broca é feita através de armadilhas de álcool (etanol + metanol).

Renovação em ciclos curtos

Uma boa lição que tiramos da cafeicultura colombiana aumentou nossa convicção de que os cafezais no Brasil precisam ser renovados em ciclos mais curtos. Uma fazenda altamente tecnificada que visitamos, a Fazenda Palestina, adota uma renovação anual de 20%. O café plantado é renovado depois dos 5 anos. Metade da área é recepada, para brotação, e metade é substituída por novo plantio. O mais usual é fazer a renovação apenas através de ciclos mais curtos de recepa baixa, lá conhecida como “soqueo”. Com esse sistema tem-se, sempre, plantas novas, produtivas e de porte mais baixo, facilitando todos os tratos e a colheita.
Lembra-se que o sistema é aplicado em lavouras com cerca de 10 mil pl/ha, ou seja, com adensamento, o que facilita, no retorno da brotação, manter alta produtividade mesmo com uma safra zero.

Aqui no Brasil vimos trabalhando na pesquisa onde combinamos diferentes sistemas de adensamento com variedades, visando identificar a melhor alternativa de ciclos de poda. Estamos convencidos, especialmente em áreas montanhosas, que as lavouras de café devem ser conduzidas sem poda em ciclos mais curtos, podando a cada 3-5 safras, visando baratear a colheita, o calcanhar de Aquiles em termos de custo de produção de café nessas regiões. As recomendações atuais indicam que só se deve podar em último caso, quando não dá mais. A poda, assim, vem sendo indicada por volta da 7ª/8ª safra nos sistemas adensados e, para o sistema aberto, mecanizado, após 10-12 safras.


Apoio aos produtores

Diferentemente do que ocorre na cafeicultura brasileira, a colombiana tem muito apoio governamental, através da Federación Nacional de Cafeteros na forma de programas de pesquisa e de assistência técnica, do fornecimento de insumos, de crédito subsidiado e de comercialização assistida.

O destaque, em nosso setor, é o CENICAFÉ, Centro Nacional de Investigaciones Cafetaleras, onde existe grande número de técnicos, com toda a infra-estrutura de laboratório e de campo. Lá trabalha uma Equipe multidisciplinar, desenvolvendo e difundindo, de forma centralizada e bem orientada, as tecnologias que são adequadas à lavoura cafeeira e a outros cultivos de diversificação.

Fomos visitar o CENICAFÉ em Chinchiná e fomos recebidos pelo seu Diretor, nosso colega e amigo Gabriel Cadenas, que esteve no Brasil, na década de 1980, fazendo sua tese em genética de café no IAC-Campinas. Ficamos impressionados com a completa biblioteca e com os laboratórios, onde os equipamentos são usados por todos os setores de pesquisa, sem exclusividade, o que faz com que o uso dos aparelhos seja maximizado.

Discutimos a idéia de que, algum tempo, temos cogitado implantar, também, um centro nacional de café no Brasil. O Dr. Gabriel, que conhece bem o sistema brasileiro de pesquisas espalhadas e pouco coordenadas disse que não compreende por que isso já não foi feito, já que por sua vasta experiência no modelo colombiano, acha muito válida a idéia.

Do CENICAFÉ as tecnologias são difundidas aos produtores, usando a Equipe de AT da Federación e através dos Comitês de Cafeicultores. Tivemos oportunidade de conhecer o Comitê de Caldas, em Manizales. Ali pudemos observar a estrutura completa de centro de treinamento de pessoal, com auditórios e salas, e conhecemos o programa de informatização dos produtores, com uma sala de informática permanentemente disponível e assistida. O destaque é para o projeto “mis cuestos” (meus custos), que levanta e analisa os custos de produção dos produtores, ajudando na gestão das propriedades.

É interessante o sistema de cadastramento e votação dos cafeicultores para eleição dos membros do Comitê de Cafeteros. Aqui no Brasil, muitos dos nossos líderes certamente não teriam votos suficientes nesse sistema.

Um programa em execução visa a renovação de cafezais, com crédito subsidiado e, também, é concedida uma ajuda para os pequenos produtores, na compra de fertilizantes. Outros projetos contemplam os aspectos de educação e saúde. A estrutura de comercialização é formada por Cooperativas, pela Federación e algo por empresas privadas.

O preço externo do café, em dólar por libra peso, é a base para formar os preços internos, pagos aos produtores. Quando estivemos na Colômbia em finais de junho, a cotação estava em cerca de US$ 1.50 por lb peso, ou seja, o equivalente a US$ 198.00 por saca, quando os nossos preços de cafés no Brasil se situavam em torno de US$ 150.00/saca. A contribuição dos cafeicultores à Federación corresponde a US$ 0.05/libra peso, ou seja, US$ 6.60 por saca.

Uma coisa interessante que verificamos na Colômbia é que a agricultura é um setor considerado vital para a economia do país. São vários canais de tv com programas agrícolas e o mais importante foi observarmos que a agricultura familiar realmente funciona. Tudo que eles produzem pode chegar ao mercado, mesmo um cacho de bananas ou uma dúzia de tangerinas. Aqui no Brasil, o pequeno produtor não tem acesso ao mercado, a menos que produza um mínimo de caixas de frutas ou legumes.

Inovações em destaque

Em nossas visitas na região cafeeira e outras regiões vizinhas observamos condições diferenciadas e algumas novidades que aqui destacamos. A região do vale del Cauca, cuja cidade pólo é Cali, nos causou ótima impressão, pela riqueza dos solos, pela topografia plana, e pela boa agricultura ali praticada, relativamente à cultura e a indústria da cana-de-açúcar, das frutas, hortaliças e flores, além do bom gado Brahman.

O software Agrowin nos foi demonstrado pelos engenheiros que o criaram e por consultores que o utilizam junto às fazendas de café, visando o controle de custos e a gestão das propriedades. Ele nos pareceu muito importante e bem desenvolvido.

Foi muito bom, também, conhecer uma fábrica/laboratório de produção de produtos biológicos (a Laverlan) para a agricultura, vacinas,fungos e bactérias, visando o controle de pragas e doenças das plantas.

Outra novidade foi conhecer e observar “in loco” a aplicação do sistema de transporte coloidal, pelo qual, com a adição de produtos patenteados, podem ser obtidas reduções de doses de defensivos, adubos e, até na construção civil vimos casos de reduções drásticas nas quantidades de cimento. Nos pareceu até um milagre transformar solo em pedras e em concreto para pisos, paredes, teto, piscinas etc.

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