Diante
do computador, procurava uma história para
contar. Duas fazendas e dois fazendeiros imediatamente
me vieram à lembrança, e as distâncias
de seus comportamentos me pareceram muito interessantes:
Joaquim José de Souza Breves e Joaquim Ribeiro
de Avellar Junior, visconde de Ubá.
Joaquim de Souza Breves, o tão afamado “rei
do café”, figura das mais controvertidas
da história da cafeicultura, ainda não
teve quem criasse coragem de esmiuçar a imensa
documentação existente sobre suas fazendas
e sua vida. Mas alguns fatos sempre saltaram aos olhos
dos pesquisadores. Quem foi esse homem que parece
ter passado pela vida apenas interessado em suas fazendas
e seus escravos? Joaquim acumulou durante sua existência
uma fortuna incalculável. Tinha dezenas de
fazendas e milhares de escravos, porém não
procurou e não obteve nenhum título
de nobreza. Foi amigo de D. Pedro I e tinha muitos
amigos políticos importantes na corte, mas
é provável que não gozasse de
grande prestígio junto a D. Pedro II.
Vestia-se de forma elegante quando viajava para a
corte, mas em sua fazenda apresentava-se sempre como
um verdadeiro homem do campo, cuidando pessoalmente
dos afazeres de suas propriedades.
Suas
atitudes o envolveram em processos judiciais de
toda a natureza, como o tráfico de escravos
e a sua desobediência às ordens judiciais
que lhe trouxeram fama. Mas por outro lado, a
hospitalidade de sua casa (fazenda da Grama),
e a educação esmerada que deu as
filhas foram sempre ressaltadas pelos viajantes
que por ela passaram. Esta é uma das faces
de um grande fazendeiro e grande produtor de café,
que construiu seu próprio império. |
|
Nas terras da fazenda do “Pau Grande”
tudo se iniciou no século XVIII, com a doação
da sesmaria denominada “Manga larga”,
concedida a Francisco Gomes Ribeiro, em 1735, vizinha
da sesmaria do “Pau Grande”, que foi mais
tarde concedida aos sobrinhos Marcos, Manuel e Francisco
Gomes Ribeiro. Ao falecer Marcos, que era padre, sem
herdeiros, tornaram-se proprietários das terras
do “Pau Grande” os irmãos Manoel
e Francisco. Outros familiares vieram posteriormente
de Portugal, e foram residir na fazenda, no entanto,
por muito tempo morou e administrou “Pau Grande”,
transformando-a num grande engenho de cana de acúçar,
José Rodrigues da Cruz, tio paterno de Joaquim
Ribeiro de Avellar.
Em 1805, Luiz Gomes Ribeiro, casado com uma sobrinha
de José Rodrigues da Cruz, e cunhado do futuro
barão de Capivari acabou de construir a grandiosa
casa de moradia, em estilo de quinta portuguesa, importando
materiais de Portugal, principalmente os vidros e
as grades de ferro das sacadas da fachada principal.
Uma capela central separa a construção
em duas casas distintas, onde habitavam os parentes
da família, que viviam independentes, em cada
uma das alas, e esta imponente construção
não encontra paralelo em todo o vale do Paraíba.
Mas, por sérios desentendimentos na administração
da fazenda com os demais familiares sócios
e proprietários daquele grande latifúndio,
Luiz Gomes Ribeiro, até então o principal
administrador, em 1817, resolve deixar “Pau
Grande”, com sua mulher e filhos, se transferindo
para a fazenda vizinha do Guaribu. A partir de 1839,
Joaquim Ribeiro de Avellar, futuro barão de
Capivari, passou a cuidar da fazenda junto com suas
irmãs e sócias.
Joaquim Ribeiro de Avellar, teve um único filho,
ilegítimo, o qual perfilhou, sem contudo declarar
a mãe e empenhou-se para torná-lo um
homem respeitado pela sociedade. Fê-lo estudar
e procurou casá-lo com a filha do conselheiro
José Maria Velho da Silva que era ainda Mordomo
Mor de D. Pedro II, e sua esposa D. Leonarda Velho,
dama honorária da Imperatriz.
O casamento contratado em 1842, só foi realizado
em 1849, depois de Joaquim ter recebido em 1847 o
título de barão de Capivari, e com as
“honras de grandeza” em 1848. Antes disso
ele também foi vereador de 1833-1836, e de
1841-1844, foi coronel da Guarda Nacional, deputado
e comendador da Ordem da Rosa.
Joaquim
José de Souza Breves |
Visconde
e Viscondessa de Ubá |
Ao falecer em 1863, o patrimônio do barão
de Capivari foi estimado em 858:670$300 réis,
com 709 escravos e 828 mil pés de café.
Seu filho, Joaquim Ribeiro de Avellar Junior, continuou
a administrar a fazenda, preocupando-se principalmente
em investir seu capital em compra de ações
e em fazer empréstimos a juros. Em suas anotações
de devedores para o ano de 1869, a soma de empréstimos
atinge o total extraordinário de 699:485$713
réis.
Joaquim Junior não só aumentou o patrimônio
deixado pelo pai, como levou uma vida de fausto. Passava
férias em sua elegante casa de Petrópolis,
quando aproveitava para fazer visitas à família
imperial, e também na rica residência
do Catete, no Rio de Janeiro, onde ia a concertos
e óperas. Viajou para a Europa, e criou os
filhos com uma preceptora francesa. Em 1887, pouco
antes de falecer, foi agraciado com o título
de visconde de Ubá.
O prestígio e as fazendas da família
Avellar expandiam-se por toda a região de Vassouras
e Paty do Alferes, mas a história da fazenda
de “Pau Grande”confunde-se com a da localidade
de Avellar, tal foi a sua importância.
Joaquim José de Souza Breves foi um grande
fazendeiro cafeicultor, um homem de negócios,
mas Joaquim Ribeiro de Avellar, visconde de Ubá,
embora tenha sido grande produtor de café,
não construiu um império comparável
à de Joaquim Breves, entretanto, empenhou-se
em viver junto á corte e conciliar com sucesso
a administração rentável e produtiva
de sua fazenda.
|