O
Departamento de Bioquímica da Universidade
Federal do Rio Grande do Sul concluiu a primeira fase
da pesquisa “A cafeína como estratégia
de prevenção contra o declínio
cognitivo decorrente da idade e em modelo experimental
da doença de Alzheimer”, coordenado pela
pesquisadora Lisiane Porciúncula, neurocientista,
recentemente publicada na revista Neuroscience e Neurochemistry
Internacional. Entre as conclusões desta fase
está a de que o cafezinho pode favorecer a
saúde no processo de envelhecimento. A
Revista do Café ouviu a Dra. Lisiane Porciúncula.
RC – Qual a importância
dessa pesquisa?
LP – Num país em desenvolvimento
e com o sistema de saúde como o nosso, e considerando
que a população brasileira está
envelhecendo pelo aumento da expectativa de vida,
essa pesquisa auxilia no conhecimento de como um componente
usual da dieta, a cafeína, pode ser benéfico
para a saúde. Independentemente da classe social,
o café está sempre presente na dieta
alimentar das pessoas, em maior ou menor quantidade.
Cabe lembrar que a cafeína está presente
também em chás, chimarrão, chocolate
e refrigerantes, entre outros.
RC – Quais os resultados demonstrados
nas pesquisas?
LP - Nossas pesquisas demonstraram
que camundongos tratados durante um período
de 12 meses com cafeína apresentaram melhor
desempenho em tarefas de aprendizado e memória
do que os animais que envelheceram e não consumiram
cafeína. Além disso, caracterizou-se
também que o desempenho desses animais idosos
que receberam cafeína foi similar aos animais
jovens adultos. Um outro estudo realizado em nosso
laboratório também encontrou que a cafeína
consumida durante quatro dias em doses que correspondem
ao consumo de 2-3 xícaras de café melhora
a memória dos animais. Esse efeito foi relacionado
a um aumento em uma proteína que é fundamental
para o desenvolvimento e funcionamento dos neurônios
que se chama fator neurotrófico derivado do
cérebro (BDNF, do inglês brain-derived
neurotrophic factor). O tratamento com cafeína
aumenta a quantidade de BDNF nos animais adultos ao
mesmo tempo em que melhora o desempenho em tarefas
de aprendizado e memória.
RC
– Em relação à doença
de Alzheimer, o consumo da cafeína pode trazer
benefícios?
LP - No que diz respeito ao modelo
experimental da Doença de Alzheimer –
degeneração cerebral caracterizada por
perda da memória, demência e desorientação
- já temos evidências de que a cafeína
previne o declínio cognitivo dos animais submetidos
ao modelo da doença e esse efeito parece estar
associado à preservação de proteínas
presentes nas sinapses. De fato, algumas proteínas
importantes para o funcionamento das sinapses são
perdidas na Doença de Alzheimer e isso contribuiria
para a perda da memória. O que observamos nos
animais é que, no modelo experimental da doença,
essas proteínas também diminuem e a
cafeína previne esse efeito. Esse estudo está
em fase final e conta com a colaboração
da Universidade de Coimbra. Ainda outros estudos feitos
em humanos encontraram que a cafeína parece
ser mais efetiva em prevenir a demência em mulheres
do que em homens.
Pretendemos investigar se existe a participação
dos hormônios nesses diferentes efeitos da cafeína
conforme o gênero.
Um outro projeto que depende também de financiamento
diz respeito ao restrito consumo de cafeína
por gestantes. De fato, até o presente momento,
embora os estudos apresentem controvérsias,
não é recomendável o consumo
de café ou bebidas que contenham cafeína
especialmente no primeiro trimestre da gestação.
Pretendemos estabelecer em ratas grávidas qual
a quantidade de cafeína que pode ser consumida
sem causar efeitos diversos sobre vários parâmetros
do funcionamento cerebral dos fetos e recém-nascidos.
Pretendemos fazer um estudo onde vamos avaliar a quantidade
de várias proteínas das sinapses nos
animais de diferentes idades nascidos de fêmeas
que consumiram diferentes doses de cafeína.
Além disso, analisaremos por meio de tarefas
comportamentais o aprendizado e a memória desses
animais na sua vida adulta.
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