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Dezembro 2008 - Ano 87 - Nº 828

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Gestão participativa e adoção de tecnologia garatem sucesso entre pequenos cafeicultores.

O
I Concurso Internacional de Cafés do Comércio Justo (Fairtrade), cujo resultado foi anunciado no final de outubro de 2008, confirmou mais uma vez que a união de forças é uma excelente alternativa para produtores da cafeicultura familiar. Os vencedores destacam o trabalho que vem sendo desenvolvido na Cooperativa dos Agricultores Familiares de Poço Fundo (Coopfam) e na Cooperativa dos Cafeicultores das Montanhas do Espírito Santo (Pronova). O Concurso foi realizado pela organização não-governamental Transfair USA, com apoio do Sebrae/MG e do Café Bom Dia e objetivou estimular a melhoria da qualidade do café certificado Fairtrade no Brasil.

A primeira colocação na categoria café natural, que teve 20 sacas leiloadas ao valor aproximado de R$ 2 mil por saca, ficou com o produtor Luiz Adauto de Oliveira (Coopfam), que, em 2007, também foi o vencedor do Prêmio “Cafeicultor Brasileiro Destaque” ,promovido pelo Conselho dos Exportadores do Brasil - CECAFÉ.

A segunda e a terceira colocação também premiaram produtores de Poço Fundo, onde o cooperativismo deu tão certo que a Coopfam se expandiu, adquiriu equipamentos para rebeneficiamento e tornou-se unidade exportadora.

Este sucesso incentivou a criação de outra cooperativa no município, a Coocaminas, recentemente criada por pequenos cafeicultores convencionais, que alcançou a segunda colocação no I Concurso Internacional de Cafés do Comércio Justo, na categoria café natural, com o produtor Juarez Carlos Pereira.

Na categoria cereja descascado (CD), os três primeiros lugares, bem como os 10 finalistas, são produtores da Pronova. Francisco Braga, Evandro Cisconeti e Carlos Alberto Attos são testemunhas de que o cooperativismo é peça fundamental na organização e gestão das propriedades cafeeiras e na agregação de valor ao café produzido pela agricultura familiar.

De acordo com Beat Gruninger, coordenador do Programa de Apoio aos Produtores promovido pela Transfair no Brasil, o resultado do concurso foi impactante no sentido de sensibilizar pequenos produtores de café sobre a demanda de novos mercados e a importância de incluir atributos de qualidade e capacidade gerencial aos princípios da cafeicultura familiar e solidária. “Acreditamos que o sucesso econômico, objetivo fundamental de todo negócio, pode ser alcançado e potencializado a partir de um compromisso com a sustentabilidade, a responsabilidade social e a ética”, declara.

Cafeicultura Responsável

Atualmente, existem 12 cooperativas certificadas pela Fairtrade Labelling Organization (FLO), e oito empresas brasileiras certificadas e auditadas para a transparência das relações comerciais em toda a cadeia de custódia.

O conceito de Comércio Justo e Solidário varia entre países, mas sempre guarda como objetivo fundamental a inclusão sócio-econômica de grupos com dificuldades de acesso ao mercado, com respeito à cultura das comunidades produtoras, ao meio-ambiente, ao direito das mulheres e das crianças.

É voltado exclusivamente para grupos de produtores familiares e assegura um preço mínimo acrescido de prêmio que deve ser usado para investimentos em projetos comunitários.

Cooperativismo familiar

Diferente do cooperativismo tradicional, as cooperativas de base familiar focalizam a organização e a inclusão sócio-econômica dos seus cooperados, imbuídas do princípio de participação ativa de todos os membros, dando aos pequenos produtores o direito de tomada de decisão e gestão de toda estrutura cooperativa, sem a perpetuação de dirigentes. Visto desta forma, o cooperativismo torna-se um instrumento popular de desenvolvimento local sustentável, articulando iniciativas sociais e econômicas que ampliem as oportunidades de trabalho, treinamentos, distribuição de renda e melhoria de qualidade de vida de toda a comunidade.

Na Coopfam, por exemplo, a comercialização dos produtos é feita diretamente aos compradores, com agregação de valor, conquista de novos mercados e maior rentabilidade aos agricultores. As famílias cooperadas possuem em média sete hectares, totalizando 1.575 ha assistidos.

Muito além do prêmio

A Coopfam é referência em agricultura orgânica e solidária, representando a mais importante área produtora deste segmento no Brasil, com o envolvimento direto de 136 famílias, em cerca de 200 hectares destinados ao cultivo do café orgânico. Atualmente são 250 famílias de pequenos cafeicultores que já conquistaram benefícios por meio do corporativismo e também influenciam inúmeras famílias carentes em 11 municípios do Sul de Minas Gerais.

A união dos produtores teve início na década de 80, com iniciativas de esforço colaborativo. O ciclo de certificação começou no final da década de 90, possibilitando aos agricultores familiares o treinamento técnico e gerencial visando o sucesso de pequenas propriedades, o que resultou na conquista de um sistema produtivo sustentável, com o atendimento aos princípios e normas estabelecidas pelas certificações Fairtrade e Orgânica.

A conquista de mercados, uma das grandes dificuldades dos pequenos produtores, deixou de ser um desafio a partir dos canais desenvolvidos pela Cooperativa. Na safra 2008/2009, os cooperados atingiram uma produção ao redor de 20 mil sacas de café, a maioria exportada para os Estados Unidos, Itália e Inglaterra. Na conscientização para a importância da qualidade final do produto, a meta é que a maioria dos produtores cooperados alcance o padrão de bebida “mole e estritamente mole”, para conquista de mercados especiais.

Em 2007, a Coopfam conquistou a Carta de Exportação, tornando-se Unidade Exportadora, com a inauguração no ano seguinte do parque de rebeneficiamento, que facilita a agregação de valor ao café e o acesso ao mercado internacional.

Para este desempenho, são freqüentes os treinamentos técnicos, incentivo à formação profissional, gerenciamento e administração rural e diversificação de produção.

A Coopfam, a par das parcerias comerciais mantidas com o comércio exportador, também atua no desenvolvimento sustentado da comunidade onde está inserida, com destaque para educação continuada das crianças, treinamento técnico dos jovens, tratamentos dentários, programas de inclusão digital, atendimento a idosos, defesa da vida e incentivo ao plantio de árvores.

Montanhas do Espírito Santo

As conquistas da Pronova, que desde 1996 coordena o “Programa de Certificação e Rastreabilidade dos Cafés das Montanhas do Espírito Santo”, vão muito além do selo de qualidade e sustentabilidade para os cafés da região. A união entre os produtores impulsionou o desenvolvimento do Programa de Qualidade do Café, em articulação direta com o Instituto Capixaba de Pesquisa e Extensão Rural (INCAPER), com adoção da tecnologia do Cereja Descascado (CD), que trouxe mudanças no processo de colheita e pós-colheita de café e, conseqüentemente, na qualidade final do produto.

O exemplo da Pronova demonstra o papel fundamental do cooperativismo na organização dos produtores.

Na avaliação do diretor técnico da Pronova, Evair Vieira de Melo, a conquista das primeiras colocações no I Concurso Internacional de Cafés do Comércio Justo traz o reconhecimento ao trabalho de adequação aos critérios ambientais e aos cuidados com a qualidade final do produto. A comercialização do café que alia a tecnologia do CD e o selo Fairtrade, agrega valor aproximado de R$ 75,00 acima do mercado, o que significa um ganho 25% superior ao café que anteriormente era comercializado na região.

Em sua atuação, este novo e efetivo cooperativismo propiciou a orientação técnica de 215 propriedades, seguindo os princípios da Cartilha de Critérios Sócio-Ambientais para Propriedades Agrícolas, com respeito às características regionais. Mais de 900 produtores, entre cooperados e pessoas que trabalham em suas propriedades, receberam treinamentos. Por meio da cooperativa, a comunidade foi escolhida para o “Projeto Criança do Café na Escola”, que tem o CECAFÉ como um dos parceiros. Também foi iniciativa pioneira da Pronova combinar critérios sócio-ambientais com análises sensoriais da bebida para a composição da nota final no concurso regional de qualidade que organiza.

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