Gestão
participativa e adoção de tecnologia
garatem sucesso entre pequenos cafeicultores.
O
I Concurso Internacional de Cafés do Comércio
Justo (Fairtrade), cujo resultado foi anunciado no
final de outubro de 2008, confirmou mais uma vez que
a união de forças é uma excelente
alternativa para produtores da cafeicultura familiar.
Os vencedores destacam o trabalho que vem sendo desenvolvido
na Cooperativa dos Agricultores Familiares de Poço
Fundo (Coopfam) e na Cooperativa dos Cafeicultores
das Montanhas do Espírito Santo (Pronova).
O Concurso foi realizado pela organização
não-governamental Transfair USA, com apoio
do Sebrae/MG e do Café Bom Dia e objetivou
estimular a melhoria da qualidade do café certificado
Fairtrade no Brasil.
A
primeira colocação na categoria
café natural, que teve 20 sacas leiloadas
ao valor aproximado de R$ 2 mil por saca, ficou
com o produtor Luiz Adauto de Oliveira
(Coopfam), que, em 2007, também
foi o vencedor do Prêmio “Cafeicultor
Brasileiro Destaque” ,promovido pelo Conselho
dos Exportadores do Brasil - CECAFÉ.
A
segunda e a terceira colocação
também premiaram produtores de Poço
Fundo, onde o cooperativismo deu tão
certo que a Coopfam se expandiu, adquiriu equipamentos
para rebeneficiamento e tornou-se unidade exportadora. |
|
|
Este
sucesso incentivou a criação de
outra cooperativa no município, a Coocaminas,
recentemente criada por pequenos cafeicultores
convencionais, que alcançou a segunda colocação
no I Concurso Internacional de Cafés do
Comércio Justo, na categoria café
natural, com o produtor Juarez Carlos Pereira.
Na categoria cereja descascado (CD), os três
primeiros lugares, bem como os 10 finalistas,
são produtores da Pronova. Francisco
Braga, Evandro Cisconeti e Carlos Alberto
Attos são testemunhas de que o cooperativismo
é peça fundamental na organização
e gestão das propriedades cafeeiras e na
agregação de valor ao café
produzido pela agricultura familiar. |
De acordo com Beat Gruninger, coordenador do Programa
de Apoio aos Produtores promovido pela Transfair no
Brasil, o resultado do concurso foi impactante no
sentido de sensibilizar pequenos produtores de café
sobre a demanda de novos mercados e a importância
de incluir atributos de qualidade e capacidade gerencial
aos princípios da cafeicultura familiar e solidária.
“Acreditamos que o sucesso econômico,
objetivo fundamental de todo negócio, pode
ser alcançado e potencializado a partir de
um compromisso com a sustentabilidade, a responsabilidade
social e a ética”, declara.
Cafeicultura
Responsável
Atualmente, existem 12 cooperativas certificadas pela
Fairtrade Labelling Organization (FLO), e oito empresas
brasileiras certificadas e auditadas para a transparência
das relações comerciais em toda a cadeia
de custódia.
O conceito de Comércio Justo e Solidário
varia entre países, mas sempre guarda como
objetivo fundamental a inclusão sócio-econômica
de grupos com dificuldades de acesso ao mercado, com
respeito à cultura das comunidades produtoras,
ao meio-ambiente, ao direito das mulheres e das crianças.
É voltado exclusivamente para grupos de produtores
familiares e assegura um preço mínimo
acrescido de prêmio que deve ser usado para
investimentos em projetos comunitários.
Cooperativismo
familiar
Diferente do cooperativismo tradicional, as cooperativas
de base familiar focalizam a organização
e a inclusão sócio-econômica dos
seus cooperados, imbuídas do princípio
de participação ativa de todos os membros,
dando aos pequenos produtores o direito de tomada
de decisão e gestão de toda estrutura
cooperativa, sem a perpetuação de dirigentes.
Visto desta forma, o cooperativismo torna-se um instrumento
popular de desenvolvimento local sustentável,
articulando iniciativas sociais e econômicas
que ampliem as oportunidades de trabalho, treinamentos,
distribuição de renda e melhoria de
qualidade de vida de toda a comunidade.
Na Coopfam, por exemplo, a comercialização
dos produtos é feita diretamente aos compradores,
com agregação de valor, conquista de
novos mercados e maior rentabilidade aos agricultores.
As famílias cooperadas possuem em média
sete hectares, totalizando 1.575 ha assistidos.
Muito
além do prêmio
A Coopfam é referência em agricultura
orgânica e solidária, representando a
mais importante área produtora deste segmento
no Brasil, com o envolvimento direto de 136 famílias,
em cerca de 200 hectares destinados ao cultivo do
café orgânico. Atualmente são
250 famílias de pequenos cafeicultores que
já conquistaram benefícios por meio
do corporativismo e também influenciam inúmeras
famílias carentes em 11 municípios do
Sul de Minas Gerais.
A união dos produtores teve início na
década de 80, com iniciativas de esforço
colaborativo. O ciclo de certificação
começou no final da década de 90, possibilitando
aos agricultores familiares o treinamento técnico
e gerencial visando o sucesso de pequenas propriedades,
o que resultou na conquista de um sistema produtivo
sustentável, com o atendimento aos princípios
e normas estabelecidas pelas certificações
Fairtrade e Orgânica.
A conquista de mercados, uma das grandes dificuldades
dos pequenos produtores, deixou de ser um desafio
a partir dos canais desenvolvidos pela Cooperativa.
Na safra 2008/2009, os cooperados atingiram uma produção
ao redor de 20 mil sacas de café, a maioria
exportada para os Estados Unidos, Itália e
Inglaterra. Na conscientização para
a importância da qualidade final do produto,
a meta é que a maioria dos produtores cooperados
alcance o padrão de bebida “mole e estritamente
mole”, para conquista de mercados especiais.
Em 2007, a Coopfam conquistou a Carta de Exportação,
tornando-se Unidade Exportadora, com a inauguração
no ano seguinte do parque de rebeneficiamento, que
facilita a agregação de valor ao café
e o acesso ao mercado internacional.
Para este desempenho, são freqüentes os
treinamentos técnicos, incentivo à formação
profissional, gerenciamento e administração
rural e diversificação de produção.
A Coopfam, a par das parcerias comerciais mantidas
com o comércio exportador, também atua
no desenvolvimento sustentado da comunidade onde está
inserida, com destaque para educação
continuada das crianças, treinamento técnico
dos jovens, tratamentos dentários, programas
de inclusão digital, atendimento a idosos,
defesa da vida e incentivo ao plantio de árvores.
Montanhas
do Espírito Santo
As conquistas da Pronova, que desde 1996 coordena
o “Programa de Certificação e
Rastreabilidade dos Cafés das Montanhas do
Espírito Santo”, vão muito além
do selo de qualidade e sustentabilidade para os cafés
da região. A união entre os produtores
impulsionou o desenvolvimento do Programa de Qualidade
do Café, em articulação direta
com o Instituto Capixaba de Pesquisa e Extensão
Rural (INCAPER), com adoção da tecnologia
do Cereja Descascado (CD), que trouxe mudanças
no processo de colheita e pós-colheita de café
e, conseqüentemente, na qualidade final do produto.
O exemplo da Pronova demonstra o papel fundamental
do cooperativismo na organização dos
produtores.
Na avaliação do diretor técnico
da Pronova, Evair Vieira de Melo, a conquista das
primeiras colocações no I Concurso Internacional
de Cafés do Comércio Justo traz o reconhecimento
ao trabalho de adequação aos critérios
ambientais e aos cuidados com a qualidade final do
produto. A comercialização do café
que alia a tecnologia do CD e o selo Fairtrade, agrega
valor aproximado de R$ 75,00 acima do mercado, o que
significa um ganho 25% superior ao café que
anteriormente era comercializado na região.
Em sua atuação, este novo e efetivo
cooperativismo propiciou a orientação
técnica de 215 propriedades, seguindo os princípios
da Cartilha de Critérios Sócio-Ambientais
para Propriedades Agrícolas, com respeito às
características regionais. Mais de 900 produtores,
entre cooperados e pessoas que trabalham em suas propriedades,
receberam treinamentos. Por meio da cooperativa, a
comunidade foi escolhida para o “Projeto Criança
do Café na Escola”, que tem o CECAFÉ
como um dos parceiros. Também foi iniciativa
pioneira da Pronova combinar critérios sócio-ambientais
com análises sensoriais da bebida para a composição
da nota final no concurso regional de qualidade que
organiza.
|