A
implantação da Neumann Stiftung do Brasil
reforça a preocupação de grandes
países consumidores da bebida como a Alemanha
com o futuro da cafeicultura praticada com responsabilidade
social e ambiental.
Reconhecida internacionalmente por sua atuação
junto a pequenos produtores de café em diferentes
partes do mundo, a Hanns R. Neumann Stiftung deu mais
um passo em direção ao seu objetivo
principal: o de promover a agricultura sustentável.
Em setembro, a fundação sem fins lucrativos,
pertencente ao Neumann Kaffee Gruppe, da Alemanha,
inaugurou a Associação Hanns N. Neumann
Stiftung do Brasil em parceria com a Stockler Comercial
e Exportadora, de Santos, uma das líderes nacionais
na exportação de café. A cerimônia
oficial aconteceu em Varginha, Minas Gerais, e contou
com a presença do Secretário de Produção
e Energia do Ministério da Agricultura, Pecuária
e Abastecimento, Manoel Vicente Bertone, do Diretor
do CECAFÉ, Guilherme Braga, do Presidente do
Centro do Comércio de Café de Minas
Gerais, Arquimedes Coelli, do Presidente do Conselho
Nacional do Café, Gílson Ximenes, do
Presidente da COOXUPÉ, Carlos Paulino da Costa,
além de vários representantes de cooperativas
e cafeicultores da região. O solene evento
teve ainda a participação de Michael
R. Neumann, Presidente do Neumann Kaffee Gruppe.
A nova entidade reproduzirá aqui o know-how
acumulado em quase duas décadas de projetos
bem sucedidos conduzidos em dezenas de países
da África, Ásia, América Central
e do Sul, além de dar continuidade aos trabalhos
iniciados pela fundação nas cidades
mineiras de São Francisco de Paula e Santo
Antonio do Amparo.
Voltados
para a organização da produtividade
local e o fortalecimento do pequeno fazendeiro,
esses dois projetos seguem os modelos e conceitos
divulgados em outras localidades como Bigasa e
Mubende, na Uganda, e Dak Lak e Lam Dong, no Vietnã.
Atuam junto aos agricultores e o seu entorno familiar
disponibilizando informações básicas
de mercado, linhas de crédito e utilização
de melhores tecnologias e manejo correto da propriedade.
“Os produtores maiores dispõem de
recursos para investir na produção
sustentável, se adequar às condições
impostas pelas mudanças climáticas
e competir com o mercado. O papel da fundação
é suprir esta lacuna para aqueles que não
têm condições e prepará-los
para enfrentar a realidade do mercado de café”,
explica Michael Timm, Diretor Geral da Stockler.
|
Michael
Timm, Diretor Geral da Stockler |
As parcerias acertadas entre a Neumann Stiftung e
empresas dos setores público e privado, este
último representado em sua grande maioria por
torrefações, contribuem efetivamente
para a viabilidade dos projetos, que duram em média
três anos. “Em Santo Antonio do Amparo
nosso parceiro é a torrefação
canadense Tim Hortons”, conta Timm.
Michael
Opitz, Diretor-Geral da
Hanns R. Neumann Stiftung |
Para
os próximos seis meses a Neumann do Brasil
tem pela frente outros três projetos de
incentivo à sustentabilidade.
Incentivar e ajudar produtores a produzir café
alinhados com a responsabilidade social e a necessidade
de preservar o meio ambiente só é
possível, contudo, se houver aumento da
produtividade.“Esse é um dos objetivos
principais dos projetos, que também tem
como meta a redução dos custos de
operação. Uma vez organizados, os
fazendeiros conseguem alavancar recursos para
investir em melhorias no campo e garantir o aumento
da produtividade e da sua renda”, explica
Michael Opitz, Diretor-Geral da Hanns R. Neumann
Stiftung e membro do comitê administrativo
da Associação Hanns N. Neumann Stiftung
do Brasil. Consultorias técnicas e financeiras
ajudam a preparar o grupo para essas conquistas. |
Experiências
passadas mostraram que a agricultura familiar –
praticada por quase 200 mil cafeicultores dos cerca
de 230 mil em atividade atualmente no Brasil –
ainda enfrenta dificuldades básicas. O primeiro
projeto da Neumann no país, realizado entre
2004 e 2005, no Espírito Santo, buscou ajustar
os padrões do café sustentável
à realidade brasileira. Não tão
ligado a adoção de boas práticas,
permitiu analisar de perto a necessidade de profissionalização
dos processos que envolvem a produção
do café. O projeto inaugural também
revelou deficiências na estrutura organizacional
da atividade e constatou a relação do
sistema intensivo de produção com a
baixa produtividade. “Muitos produtores brasileiros
ainda tem uma visão limitada sobre a qualidade.
Sua preocupação maior é saber
se o café é bebível ou não.
A maioria deles também trabalha sozinho. Os
projetos viabilizam ações em conjunto
vantajosas para o grupo, como, por exemplo, a compra
de insumos e defensivos agrícolas em larga
escala por um preço mais atraente. Essas e
outras práticas são exemplos do valor
de uma boa organização interna”,
diz Opitz.
Desde 2000, os mais de 50 projetos realizados em pelo
menos 12 países tiveram impacto direto em 70
mil produtores. O Neumann Kaffee Gruppe comercializa
anualmente 14 milhões de sacas. “Apenas
5% do café produzido por esses agricultores
é comprado pelo grupo”, afirma Opitz.
Como se explica o amplo espectro dessas ações?
“É resultado do interesse permanente
dos nossos parceiros em mapear geográfica e
quantitativamente as principais regiões em
termos de número de fazendeiros e volumes de
café”, explica o Diretor-Geral da Neumann
Stiftung.
Mesmo sem exigir dos cafeicultores qualquer vínculo
comercial, os projetos da fundação,
de um modo geral, aproximam o pequeno produtor de
grandes e potenciais compradores. “A Nespresso
está envolvida com um trabalho na Mogiana.
A torrefação italiana Lavazza também
já sinalizou interesse em apoiar produtores
do Sul de Minas”, comenta Michael Timm, da Stockler.
Esse, aliás, é outro efeito positivo
do arranjo produtivo local proposto nas ações
da Neumann. Ao se estruturarem em associações,
os agricultores menos favorecidos adquirem melhores
condições de acesso ao mercado e para
a venda de seu produto por um valor competitivo. No
caso do Brasil, esse facilitador pode ser determinante
para a sobrevivência de muitas famílias.
Apesar de o país responder pela exportação
de volumes recordes que superam 30 milhões
de sacas, a contribuição da cafeicultura
familiar é realmente pequena. Mal chega a 20%
da produção total.
Garantir a oferta do café a médio e
longo prazo constitui mais uma razão para incentivar
o pequeno produtor. “É uma maneira de
estabilizar as oscilações do mercado
geradas pela colheita, além de firmar o potencial
dos cafés brasileiros do ponto de vista da
variedade e da qualidade”, defende Michael Timm.
Para o Diretor-Geral da Neumann Stiftung, Michael
Opitz, a agricultura familiar é a única
saída para atender à crescente demanda
do mercado, em vista da realidade cada vez mais limitada
dos recursos naturais. “Temos a clara consciência
da necessidade de uma produção sustentável
se quisermos assegurar os estoques de café
no futuro”.
SOCIAL
-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
|