De
uma coisa ninguém duvida: o Rio de Janeiro
tem grande potencial para ampliar a sua participação
no escoamento do café brasileiro para o exterior.
Exportadores, operadores portuários, políticos
e lideranças do agronegócio vêm
buscando, há tempos, tirar as últimas
pedras que ainda obstruem o desenvolvimento do porto
carioca. O interesse é de todos. Para os exportadores,
significaria maior competição entre
os grandes terminais que operam com café no
Brasil, ajudando a reduzir custos e melhorar a qualidade
dos serviços; além disso obteriam fretes
mais baratos, pois o Rio está próximo
das lavouras do sul de Minas e Zona da Mata.
Essas duas regiões produziram, em 2009, respectivamente,
9,52 e 6,0 milhões de sacas beneficiadas de
60 kg, ou seja, responderam por 55% da produção
nacional (estimada oficialmente em 39 milhões
de sacas); a safra dessas duas zonas continua sendo
majoritariamente embarcada pelo porto de Santos. A
própria Libra opera quantidades de café
muito mais relevantes em Santos do que no Rio.
De janeiro a novembro deste ano, os dois portos fluminenses,
Sepetiba e Rio, exportaram 1,54 milhões e 990,
37 mil sacas, respectivamente, totalizando 2,53 milhões
de sacas, ou 9% dos embarques nacionais. O porto da
cidade do Rio registrou a exportação
de 990.374 sacas nos 11 primeiros meses do ano, ou
3,6% da exportação brasileira.
Investimentos
Públicos no Porto do Rio
A
expectativa do grupo Libra, que não opera
em Sepetiba, é de que as obras de infraestrutura
realizadas pelos governos federal, estadual e
municipal, atraiam volumes mais substanciais para
o terminal da empresa, situado no bairro do Caju.
“Há um projeto chamado ‘Rio,
porto do século XXI’, que prevê
melhor acesso ferroviário, rodoviário
e marítimo ao porto”, explica Ricardo
Arten Gorzelak, Diretor Geral da
Libra Terminais Rio. |
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As obras da parte marítima, incluídas
100% no Programa de Aceleração de Crescimento,
o PAC do governo federal, já foram aprovadas
e assinadas pelo Ministro da Secretaria Especial de
Portos, Pedro Brito, e preveem a realização
de dragagem, melhoria e aprofundamento dos canais
de acesso, baia de evolução e cais,
permitindo o trânsito de mais e maiores navios.
O calado (profundidade) do porto do Rio é hoje
de 13 metros; após a dragagem, a ser concluída
em 2010, o mesmo deverá aumentar para 15,5
metros. “A intenção para o futuro,
mas lá na frente, é termos um calado
de 17 metros”, diz Arten.
As obras de acesso ferroviário preveem a instalação
de bitolas largas e estreitas e construção
de novos pátios, para aumentar a capacidade
e a frequência dos trens que partem e chegam
ao porto.
Por fim, o acesso rodoviário incluirá
a construção de alças exclusivas
de acesso ao porto, além do estabelecimento
de novas retroáreas, que permitam manobras
mais ágeis e espaço para estacionamento.
Haverão ligações viárias
diretas da Avenida Brasil e Linha Vermelha para o
Caju. A expectativa de Arten em relação
às obras do acesso ferroviário e rodoviário
é que fiquem prontas até 2012.
Vantagens
Operacionais
Arten
informa que a Libra movimentou 26 mil toneladas de
café em 2008 e, para este ano, prevê
um volume de 20 mil toneladas; para 2010, trabalha
com a perspectiva de atingir 35 mil toneladas. Após
a saída da Multiterminais, no início
de 2008, a Libra é a única operadora
portuária do Rio a trabalhar com a exportação
de café.
O executivo explica que as vantagens do porto do Rio,
em relação aos terminais de Itaguaí
(Sepetiba), são a maior oferta de navios, mais
linhas de navegação, mais armadores,
além da posição geográfica,
mais próxima dos centros de produção.
“O acesso ao porto do Rio é mais fácil”,
argumenta.
Há ainda uma outra vantagem com a qual a Libra
espera convencer os exportadores a elevarem suas atividades
no porto do Rio: o preço. Segundo Arten, os
custos de capatazia (THC) no porto do Rio continuam
bastante inferiores aos praticados nos demais portos.
O preço do THC no Rio está em 300 reais
por contêiner de 20 pés. O preço
de estufagem em sacaria, que é um processo
manual, está em 630 reais por contêiner;
em granel, que é mecanizado, está 690
reais. A estufagem em Santos, pela Libra, é
orçada em 700 a 750 reais por contêiner.
Arten acha que os principais obstáculos que
impedem a ampliação das operações
de café pelo porto do Rio estão no próprio
mercado. “Temos que quebrar o paradigma de que
Santos e Vitória são portos melhores
do que o Rio. Essa é uma idéia obsoleta”,
diz o executivo. “O Rio tem tantas ofertas e
navios como os outros portos, e é mais competitivo.
Ainda temos essas obras, que irão melhorar
muito o fluxo de cargas”, diz Arten, que afirma
estar otimista em relação à exportação
de café pelo porto do Rio. “Todos acreditam
muito no potencial do café para o porto do
Rio. A própria Companhia Docas do Rio tem muito
interesse nisso. Aqui tem armador, tem linha, tem
preço, tem tudo”, justifica. O café
é um produto cobiçado por qualquer terminal,
em função de ser um produto comercializado
em todas as partes do globo, atraindo, por esta razão,
navios de todas as origens, e com isso gerando sempre
possibilidades de negócios diferenciados.

Terminal
Libra-Rio
Por
enquanto, o café ainda tem uma participação
de apenas 1% nas operações portuárias
do terminal da Libra no Rio. Considerando apenas o
terminal do Rio, o faturamento da Libra deve atingir
esse ano R$ 200 milhões, contra R$ 160 milhões
em 2008. Arten lembra, contudo, que a maior parte
da receita da Libra vem de operações
pelo porto de Santos. A empresa possui também
unidades logísticas em Cubatão e Santos,
além de um porto seco em Campinas, um projeto
de terminal de cargas gerais em Imbituba (SC) e uma
empresa de navegação fluvial na Amazônia.
Desde 1995, a Libra opera o Terminal 37-Santos, primeira
área para contêineres a ser privatizada
no Brasil; em 1998, iniciou as operações
no Terminal 1-Rio, no porto do Rio de Janeiro. Em
todo país, movimenta por ano aproximadamente
1 milhão de TEUs (medida que equivale a um
contêiner de 20 pés) através do
Terminal 37-Santos, do Terminal 1-Rio e do Terminal
Imbituba.
Com atividades bastante versáteis em termos
de produto, o terminal da Libra no Rio opera com produtos
siderúrgicos, chapas metálicas, blocos
de granito, blocos de motores, petroquímicos,
dentre outras coisas. Um outro segmento onde o terminal
carioca da Libra opera bastante é o de cargas
consolidadas. Clientes que não possuem carga
suficiente para encher um contêiner, optam por
esse sistema, através da contratação
de um agente, chamado NVOCC, que se ocupa de encontrar
outros clientes que desejem exportar para o mesmo
destino. Então várias cargas são
acondicionadas num mesmo contêiner e entregues
no terminal da Libra.
Outra característica importante do terminal
da Libra é que ele, desde 2007, tornou-se um
Recinto Especial para Despacho Aduaneiro de Exportação,
denominando-se Redex Libra Rio, o que naturalmente
facilita muito a liberação das cargas
pela Receita Federal. Com 23 mil metros quadrados
de área total, e capacidade de operar 2.500
TEUS (contêiners), o terminal conta ainda com
a assessoria do Centro do Comércio de Café
do Rio de Janeiro (CCCRJ), que mantém um funcionário
no recinto e ajuda a empresa a fazer o desembaraço
alfandegário.
Arten informa que o terminal tem movimentado, em média,
30 contêineres por dia, mas que tem condições
de ampliar esse número, sem alterar infraestrutura
ou mão-de-obra, para até 60 unidades
diárias. “Mas podemos aumentar muito
mais, tranquilamente, e de forma muito rápida,
se for o caso”, explica. O investimento da Libra
para aparelhar o terminal foi de 1,3 milhão
de reais.
Os armadores que trabalham com a Libra no Rio são:
CMA/CGM, Hamburg Sud, CSAV, Rapag Lloyd, Nyk, Pil,
Mol, MSC. Os exportadores que trabalham com mais regularidade
no terminal carioca são: UNICAFÉ, Outspam,
Nicchio Sobrinho, Valorização, Sumatra,
Guaxupé Ltda e Stockler. Considerando não
o café, mas todos os produtos, os principais
exportadores que operam no terminal da Libra, no Rio,
são: CBMM, grupo Quattor, Saint Gobain, Nova
Era, Gerdau, Michellin, Tek Fid.
O executivo observa que o desenvolvimento da indústria
petroleira no estado ajudou o porto do Rio a incrementar
seus negócios, trazendo gente mais capacitada,
gerando mais empregos e aumentando a receita das companhias
portuárias.
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