Em
23 de fevereiro a Tristão completou 75 anos
com a terceira geração da família
no comando das empresas situadas no Brasil e no exterior.
A história
das Empresas Tristão mescla-se com a da economia
do Estado do Espírito Santo, que é responsável
pela maior produção de café da
variedade conillon no Brasil, com média de
oito milhões de sacas ao ano, produção
só superada pelo Vietnã.
A
Tristão teve origem na Casa Misael, uma
loja de “secos e molhados” fundada
em 1935 na cidade de Afonso Cláudio (ES)
por José Ribeiro Tristão, pai do
empresário Jônice Tristão,
segundo na linha sucessória. Desde então
as Empresas Tristão souberam se antecipar
aos fatos, tendo dinamismo na tomada de decisões,
incentivando sempre a produção de
café no Estado. No começo, a Casa
Misael, que chegou a ter oito estabelecimentos
no interior do ES, aceitava o café como
moeda de troca, mas a partir da década
de 50, o produto tornou-se o principal negócio
da empresa.
Em abril de 1960, sob o comando de Jônice,
a Tristão, visando o comércio internacional,
opta por se instalar em Vitória e exporta
a commodity, pela primeira vez, para o porto francês
de Havre, com 250 sacas de café embarcadas.
Após o período desenvolvimentista
do governo Juscelino Kubitschek, o Brasil atravessa
turbulências econômicas, o que culmina
na política de erradicação
do café. |
José
Ribeiro Tristão e seu filho, Jônice
Tristão |
A
cafeicultura capixaba entrou em decadência e
o café plantado era quase exclusivamente arábica,
com baixa produtividade e queda na qualidade.
Em 1969, a Organização Internacional
do Café, numa ação para evitar
a excessiva queda dos preços da commodity,
resolveu estipular cotas de exportação
para os países produtores. Nesse mesmo ano,
após muitas lutas, o Instituto Brasileiro de
Café (IBC) criou um plano de renovação
do parque cafeeiro brasileiro. Nessa época
estimulamos uma campanha de conscientização
entre os produtores de café, incentivando o
plantio de um novo tipo de café no ES, o conillon,
mais resistente às pragas e que poderia ser
plantado em regiões mais quentes, próximas
ao litoral capixaba”, lembrou Jônice Tristão.
Porém, sem financiamento nem apoio governamental
para o conillon, a solução que a Tristão
criou foi utilizar o produto como matéria-prima
para a indústria do café solúvel,
cujo consumo crescia na Europa e nos EUA. Foi nessa
época que a Tristão estabeleceu, em
Viana, região da Grande Vitória (ES),
a Realcafé Solúvel do Brasil, inaugurada
em 1971”, destacou Jônice Tristão.
A criação da fábrica rompeu a
tendência do Governo Federal de autorizar a
instalação de indústrias desse
porte somente em SP, PR e MG, na época, os
maiores produtores de café no Brasil.
“O fato é que a Tristão contribuiu
para a iniciativa ímpar da produção
do café Conilon, matéria-prima mais
utilizada na indústria do solúvel”,
disse Jônice Tristão, que assumiu riscos,
pois o café arábica, até 1962,
era o dono absoluto da economia capixaba, ocupando
mais de 500 mil hectares. Essa postura da Tristão
movimentou a vida cafeeira do ES e foi um divisor
de águas na recuperação da economia
do Estado. Jônice lembra que a Tristão
apoiou e incentivou os produtores de conillon no Espírito
Santo, fazendo com que a Realcafé garantisse
a compra de toda a produção, na época,
100 mil sacas de café.
Jônice
Tristão |
Em
1978 a Tristão tornou-se o maior exportador
brasileiro de café, mantendo-se nessa posição
pelos dez anos seguintes. Simbolizando o reconhecimento
internacional pela performance da empresa, o líder
Jônice Tristão recebeu, nesse mesmo
ano, o título de One Million Dollars Per
Day Man, da Câmara Americana de Comércio,
pois o Grupo passara a exportar US$ 365 milhões
anuais. Até o início do século
XXI, a Tristão manteve-se entre os cinco
maiores exportadores de café do Brasil.
1978 foi, realmente, marcante para a Tristão.
Nessa época foi aberta a subsidiária
da empresa em Londres, o que fez da Tristão
um dos primeiros grupos brasileiros com presença
internacional. Logo depois, em 1981, foi inaugurada
a filial americana, na cidade de Nova York. |
O dinamismo das empresas foi determinante para que,
em 1983, fosse criada a Fundação Jônice
Tristão, com atividades filantrópicas,
educacionais e culturais. Outro investimento visionário
foi a criação, em 1985, da Pousada Pedra
Azul, hotel na região montanhosa do Espírito
Santo, precursor do turismo de montanha de alto nível
em terras capixabas.
Seguindo os passos de seu pai José Ribeiro
Tristão, em 1987, Jônice inicia o processo
sucessório: decide passar o comando das tradings
de café para seus filhos, a terceira geração
nos negócios. “Esse processo foi bem
sucedido, pois meus filhos, Ronaldo e Ricardo, passaram
a controlar a Tristão Internacional, em Londres,
na Ilha de Man (Grã-Bretanha) e em Nova York,
enquanto Sérgio assumiu o controle das empresas
no Brasil, presidindo a Tristão Cia. de Comércio
Exterior e a Triscafé”, relembrou Jônice
Tristão.
Já Patrícia, a filha mais nova, assumiu
sua posição de acionista e diretora
da Realcafé Solúvel, em 2001. Atualmente,
Jônice permanece na presidência do Conselho
de Administração e na presidência
da holding Tristão Comercial e Participações.
Os netos de José Ribeiro Tristão passam
a gerir seus próprios empreendimentos com integração
e sucesso nos negócios. Hoje, a Realcafé
produz 9 mil toneladas de café solúvel
ao ano, pois, de 2000 a 2004, a fábrica foi
toda modernizada, dobrando sua capacidade de produção.
De 2002 a 2008, segundo Sérgio, foram investidos
cerca de R$ 50 milhões na indústria.
“As perspectivas dos negócios, em termos
de volume, são extremamente otimistas. O maior
parque industrial de café solúvel do
mundo está no Brasil e é um segmento
do mercado que cresce muito. Estamos preparados para
isso, pois temos uma fábrica que tem capacidade
de expansão, temos uma empresa exportadora
com armazéns gerais em Varginha (MG), em Sepetiba
(RJ) e na Grande Vitória, em Viana. Assim,
estamos estruturados para acompanhar esse movimento
mundial”, disse Sérgio Tristão.
A cada ano, a Realcafé transforma 400 mil sacas
de café em grão em nove mil toneladas
de café solúvel, extrato de café,
óleo de café e café torrado e
moído, o que a torna uma das principais indústrias
do setor no Brasil. Em 30 anos, a Realcafé
gerou US$ 800 milhões de dólares em
divisas para o País.
Atualmente,
no mercado interno, a Tristão trabalha
com a própria marca, a Cafuso Realcafé,
líder na área de torrado e moído
no ES, e também, com marcas próprias
para terceiros. “Nossos principais clientes
são a Melitta e o Café Pilão,
para quem fazemos a solubilização
e o envase. Para o exterior também vendemos
cafés já solubilizados, mas em big
bags, não envasados”, disse Sérgio
Tristão. |
Realcafé
Solúvel do Brasil (ES) |
Além disso, a Tristão exporta em torno
de 1,3 a 1,5 milhão de sacas de café
verde ao ano, sendo que os principais clientes são
as grandes marcas internacionais como Kraft, Sara
Lee e Nestlé.
A importância da criação da Tristão
Internacional, em 1978, foi a possibilidade de melhor
atender às necessidades dos clientes do exterior.
“Na época, sentimos que houve a necessidade
de nos aproximarmos da clientela internacional, como
também de termos acesso às linhas de
crédito no exterior”, informou Ricardo
Tristão, presidente da Tristão Internacional.
Assim, com o sócio Geraldo Siqueira, Jônice
Tristão abre a Tristão Londres, cuja
função foi cobrir toda a parte de marketing
de café brasileiro na Europa, com acesso às
linhas de crédito internacionais.
Em 1981, a empresa tomou a iniciativa de diversificar
a operação nos EUA e, nesse momento,
Ronaldo Tristão e o diretor Claude Smith, juntos,
criam a Tristão Nova York. “Essa operação
tinha como foco o mercado americano e canadense e,
ao mesmo tempo, a diversificação em
cafés de outras origens, como América
Central, África e Vietnã, que são
cafés muito buscados nos grandes mercados consumidores.
As duas empresas internacionais têm o perfil
de comercialização de café verde
e de café solúvel produzido pela Realcafé”,
reiterou Ricardo Tristão.
Tristão
e a UCC |
A
Tristão Cia. de Comércio Exterior
e a UCC – Ueshima Coffee Company, há
décadas, mantém sólidas relações
comerciais, que amadureceram ao longo dos anos
pela afinidade de seus princípios e objetivos,
com destaque para a constante preocupação
com a qualidade de seus produtos.
O mercado japonês, liderado pela UCC, como
a maior torrefadora do país, é referência
mundial pela exigência de alto padrão
de qualidade da matéria-prima e, além
disso, tem revelado um espetacular crescimento
no consumo de café. A Tristão, por
sua vez, como um dos principais fornecedores de
café para o Japão, tornou-se especialista
nestas qualidades, formando uma perfeita parceria
com a empresa japonesa, inclusive patrocinando
juntas o Prêmio de Qualidade Cafuso-UCC
Ueshima Coffee Co. Ltd. para os cafés das
montanhas do Espírito Santo.
A iniciativa surgiu em meados do ano 2000, quando
as Empresas Tristão, através da
Realcafé – Café Cafuso, decidiram
instituir um evento anual que premiasse e incentivasse
o trabalho dos produtores capixabas que, com novas
técnicas e tratos culturais, estavam alcançando
altíssimos padrões de qualidade
de café.
Para compor o braço internacional desta
iniciativa, nada mais natural que convidar um
grande parceiro, reconhecidamente comprometido
com a qualidade e com fortes vínculos com
o Brasil, como a UCC. Uma vez contatado, o Sr.
Tatsushi Ueshima imediatamente abraçou
a causa co-patrocinando o Prêmio, além
de abrir aos produtores capixabas o importante
mercado japonês.
No primeiro ano foram menos de 100 amostras de
café concorrentes, no segundo ano o número
saltou para 362 amostras, e a cada ano, mais e
mais cafeicultores se interessam pela participação
na premiação, o que amplia também
o número de municípios capixabas
participantes.
Os primeiros colocados no concurso, além
de receberem prêmios, tornam-se fornecedores
preferenciais para os blends da linha Cafuso Espresso
e Premium e ainda tem seus cafés exportados
para o Japão, onde são vendidos
no exigente mercado de cafés especiais. |
No ano de 1986, o Grupo Tristão abre uma operação
de café gourmet nos EUA e, mais para frente,
a empresa realiza o concurso Cafuso-UCC, de cafés
de qualidade da região de montanhas capixaba.
“Usamos os cafés desse concurso para
comercializar nos EUA e tivemos bastante sucesso.
Todas essas ações nos ajudaram a diversificar
as atividades da Tristão nos últimos
anos, vendendo cafés para Austrália,
Nova Zelândia e, como temos contato no Vietnã,
estamos também entrando nos mercados chinês
e indiano”, ressaltou Ricardo Tristão.
Atenta ao mercado dos países emergentes, como
o Brasil, a Índia, a Indonésia, Cingapura
e o Leste Europeu, a Tristão sabe que há
sempre um mercado potencial muito forte, principalmente
para o solúvel. “Estamos acompanhando
o crescimento desses países. Dentro desse contexto,
tenho a certeza de que a empresa vai continuar crescendo,
ela é muito sólida na exportação
e vai continuar, no mínimo, mantendo o seu
percentual que é em torno de 6% a 8% do mercado
brasileiro. No solúvel, a gente está
muito otimista, pois fizemos parcerias internas com
grandes marcas, disse Sérgio Tristão.
As
marcas do varejo da Tristão são
destinadas ao mercado capixaba. “Trabalhamos
com uma grande família, desde o café
standard até o gourmet. O último
lançamento que fizemos foi o café
em dose única, seguindo o modelo desenvolvido
pela Illy”, contou Patrícia Tristão.
O blend desenvolvido pelos especialistas Sílvio
Leite e Evair Melo inclui o café capixaba,
o baiano e o do Cerrado Mineiro.
“Hoje, temos uma fábrica totalmente
modernizada e automatizada. Agora temos que maturar
esse investimento, considerando inclusive o fato
de duplicar a fábrica. Não estamos
trabalhando com nossa capacidade total. Posso
dizer que hoje, no ES, o projeto é de maturação
para os próximos dois anos”, revelou
Sérgio.
Outros planos da Tristão são investir
numa forte campanha para lançar produtos,
como o café sachet, marca já consolidada
no ES. “Queremos expandir para outras capitais
e nosso primeiro objetivo é o Rio de Janeiro,
especificamente no produto sachet em dose única.
Toda a família de produtos irá se
chamar Cafuso – Selo Realcafé”,
disse Sérgio Tristão.
|
Empresas
Tristão |
Brasil:
-
Tristão Cia de Comércio
Exterior (ES) -
Exportador/Trader de café
- Realcafé Solúvel do Brasil
S/A (ES) -
Indústria de café solúvel
- Café Cafuso (ES) - Marca líder
no ES, com torrado-moído, expresso
e solúvel
- Triscafé de Armazéns Gerais
(ES/MG) -
Armazenagem e beneficiamento de café
- Fundação Jônice
Tristão (ES) - Ação
cultural e social no ES.
- Pousada Pedra Azul (ES) - Hotel das
montanhas capixabas
- Tristão Participações
Ltda. (ES) -
Investimentos e imóveis
- Triscorp Invest. Ltda (RJ) - Fundos
de Investimento
Exterior:
- Tristão UK Ltd. (Londres/UK)
- Dealer de café
- Tristão Trading Panamá
S/A (Douglas / UK) - Dealer de café
- Transcafé S/A (Douglas/UK) -
Dealer de café e investimentos
- Tristão Isle Of Man(Douglas/UK)
- Prestadora de serviços
- Tristão Services Ltd. (Douglas/UK)
-
Prestadora de serviços
- Tristão Trading Inc. (Nova Iorque
/ USA) - Dealer de café
- Gourmet Representative (Oregon / USA)
- Cafés Gourmet |
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Para a comemoração dos 75 anos da Tristão
haverá o lançamento de um selo comemorativo,
criado pela renomada artista plástica capixaba
Ana Paula Castro, como também uma atualização
de todas as embalagens dos produtos, com padronização
e roupagem mais moderna. Eventos estão programados,
ao longo de 2010 para registrar o momento histórico,
com resgate da história das Empresas Tristão
e de sua ligação com a economia do Espírito
Santo por meio do café.
A forte aliança entre o café, a economia
capixaba e as Empresas Tristão chega aos 75
anos e engrandece a história da cafeicultura
brasileira. O aniversário prova que trabalho
em equipe, agilidade nas decisões, qualidade
e respeito aos valores humanos, além de talento,
são alguns dos ingredientes que regem a história
de sucesso da Tristão.
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