Uma
pasta nos arquivos de José Rodrigues, com o
nome café, contém algum material publicitário
e recortes de artigos, muitos artigos dele mesmo ou
de outros jornalistas. Alguns são históricos,
como os registros do 2º Seminário do Café,
em 1972. Um deles me chama a atenção:
Qualidade do Café-Santos tornou a cidade conhecida
no mundo.
Escrito em 1989, trata do relato de uma missão
oficial ao Japão, feita um ano antes, na condição
de funcionário do IBC. Ao pedir um burajiro
kohi (café brasileiro) no hotel New Otani,
as recepcionistas dizem: “Sim, temos o tipo
Santos”.
José Rodrigues aproveitava detalhes do dia
a dia para explicar fenômenos econômicos
e sociais. Para esclarecer como a cidade que jamais
produziu um pé de café fez fama ao criar
uma qualidade de bebida com seu nome, pesquisou dados
a partir de 1880. Buscou registros na Associação
Comercial de Santos, onde trabalhou como assessor
econômico em meados da década de 80.
Nesse e noutros textos, o propósito era contribuir
com sugestões e tendências. Naquele caso,
apontava para a necessidade de adaptações
tecnológicas para que o setor cafeeiro não
ficasse à margem de um mercado cada vez mais
exigente por qualidade.
O estilo observador e a capacidade de apontar perspectivas
se manifestavam na vida profissional e onde quer que
estivesse envolvido. Eram atributos de seu perfil,
que ele cedia em favor de uma organização
não-governamental que fundou junto com a esposa
Myrian e outros voluntários, e do pensamento
social espírita ao qual esteve engajado desde
a juventude.
O raciocínio lógico e a conduta coerente
garantiram-lhe credibilidade suficiente para que suas
opiniões e seu trabalho fossem respeitados
por segmentos de princípios diversos. Após
atuar duas vezes como assessor de assuntos portuários
da prefeitura de Santos em governos do Partido dos
Trabalhadores, prestou consultoria sobre o assunto
a políticos de diferentes matizes, orientou
estudantes e serviu de fonte a órgãos
de imprensa.
O desejado retorno ao jornalismo foi a maior prova
de que mantinha a isenção necessária
ao exercício da profissão. Atuou por
dez anos como correspondente do Valor Econômico,
atividade que exercia com vigor de um foca (principiante,
no jargão jornalístico), mas com domínio
de um master.
José Rodrigues viveu certo de que o destino
do ser humano é a evolução e
que não há alternativa fora do trabalho.
A irrevogável lei da ação e reação
era sua verdade: o dia de amanhã depende sempre
de hoje. Essa era a identidade também em família.
Homem ciente da responsabilidade de seu exemplo, pai
exigente, interessado e generoso, que fez de nós
e inúmeras pessoas com quem se relacionou,
amigos até o fim que nunca chega.
Jornalismo
especializado
José
Rodrigues ingressou no jornal A Tribuna de Santos
em 1969. Formado em Economia, começou a acompanhar
comércio cafeeiro, setor no qual se especializou.
Fez diversas coberturas do Seminário do Café
e das reuniões da OIC (Organização
Internacional do Café). Devido ao amplo conhecimento,
escreveu para revistas e jornais segmentados como
DCI, Gazeta Mercantil, a própria Revista do
Café do CCCRJ, Exame, entre outras publicações.
Convidado pelo então presidente Antonio Manoel
de Carvalho, na década de 80, passou a assessor
econômico da Associação Comercial
de Santos. Em seguida foi trabalhar no IBC, presidido
na época pelo embaixador Jório Dauster.
Em 1989 tornou-se assessor para assuntos portuários
da prefeitura de Santos, cargo que ocupou por dois
mandatos. Terminado esse período, alcançou
um de seus maiores desejos profissionais: retornou
ao jornalismo como correspondente do Valor Econômico.
Exerceu a função durante dez anos até
janeiro de 2010, cobrindo especialmente assuntos portuários.
Da juventude aos seus últimos dias, dedicou-se
a atividades paralelas, como a doutrina espírita,
sendo responsável mais recentemente pelo site
Pense (www.viasantos.com/pense), no qual divulgava
e debatia o pensamento social espírita.
A atuação no campo social foi reforçada
nos últimos 15 anos, período em que,
junto com a esposa Myrian de Domênico Rodrigues
e outros voluntários , trabalhou pela Ação
de Recuperação Social, instituição
laica dedicada à promoção de
famílias carentes.
Morreu dia 10 de fevereiro último, em decorrência
de complicações após cirurgia
para extração de um tumor de pâncreas.
Deixou os filhos Patrícia, Lívia, Flávia,
José Tarcísio e José Roberto.
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