No
início da década, a Organização
Internacional do Café contratou a P&A Marketing
Internacional para avaliar os esforços empreendidos
até então para promover o consumo de
café em países produtores e, com base
neles, desenvolver uma metodologia que pudesse ser
aplicada em outros países. Além de estudar
o caso extremamente bem sucedido do Brasil, a P&A
também reviu a experiência de outros
países para criar a metodologia que deu origem
ao Guia para a Promoção de Consumo de
Café em Países Produtores. Preparado
em três idiomas – inglês, espanhol
e francês –, o Guia está disponível
em CD na OIC ou pode ser baixado do site www.ico.org.
A partir de 2003, a P&A aplicou a metodologia
do Guia em diversos países, em cada caso buscando
caminhos específicos para promover o consumo
de café. Assim é que, na falta de uma
base dinâmica de pequenas indústrias
de torrefação, a Índia optou
por criar um programa de apoio a pequenos empreendedores
do setor. Tanto na Índia quanto no México,
os programas institucionais aproveitam o grande número
de lojas de café que o setor privado implantou
para posicionar o café como bebida jovem, moderna
e fator de socialização. As lojas de
café são também pontos de introdução
de novas bebidas à base de café.
Os aspectos saudáveis do consumo de café
recebem atenção especial não
só na Índia e no México como
nos demais programas cuja criação a
P&A assessorou em El Salvador, Costa Rica e Colômbia.
O programa Toma Café, lançado neste
último país no início de março,
ampliou o conceito de café e saúde para
benefícios do café, com maior apelo
ao consumidor jovem. Enquanto café e saúde
tem um apelo mais dirigido a consumidores acima de
40 ou 50 anos, os benefícios do café,
tais como café e atenção, café
e resistência física, ou seja, os benefícios
funcionais do café no estudo, trabalho, esporte
e lazer, atingem melhor os consumidores jovens.
Os programas institucionais de consumo seguem as instruções
do Guia, de otimizar a aplicação de
recursos escassos através do uso intensivo
de relações públicas e comunicação
social, restringindo a publicidade e mídia
paga ao lançamento e atividades específicas
que requerem impacto rápido ou maior exposição.
No programa mais recente, o da Colômbia, já
foi usado o conceito de comunicação
360°, que inclui a internet e as ferramentas da
Web 2.0 tanto para baixar custos como para focar no
público jovem.
É interessante notar que em países onde
o café é uma bebida “nova”,
como na China e Indonésia, o setor privado
consegue expandir o consumo mesmo na ausência
de programas institucionais, usando conceitos de modernidade
e ocidentalização em sua publicidade
para atrair consumidores tanto jovens quanto adultos.
O papel do Guia e da P&A na Indonésia foi
sensibilizar e motivar o setor privado ao invés
de criar um programa institucional. Já em países
onde o consumo de café é tradicional
e atinge a maioria da população, como
no próprio Brasil, México, Colômbia,
América Central, etc., programas institucionais
são absolutamente necessários para criar
entusiasmo ao redor do café, “reinventar”
o produto, energizar o mercado e aumentar o consumo.
O problema é mais complexo na África,
onde o setor privado não é tão
desenvolvido; programas institucionais sem forte participação
privada simplesmente não funcionam.
O Gráfico 1 mostra como o
consumo de café em países produtores
ganhou nova dinâmica a partir de 2003, motivado
pela OIC e seu Guia. Programas institucionais e ações
do setor privado baseados no Guia fizeram com que
outros países produtores se juntassem ao Brasil
no desenvolvimento de seu mercado interno, transformando
este segmento num dos principais propulsores do consumo
mundial. Apesar de óbvio, é sempre bom
lembrar que o aumento do consumo de café em
outros países produtores beneficia o Brasil.
Como maior produtor e exportador ganhamos mais espaço
para colocar nossos cafés no exterior à
medida que mais café é consumido em
outras origens e assim não chega ao mercado
internacional.

Os países do grupo BRIC – Brasil, Rússia,
Índia e China – chamaram a atenção
durante a recente crise global por terem ajudado a
evitar uma depressão mundial e liderado a recuperação.
Se analisarmos o consumo de café nestes países,
notamos que o Brasil é o líder disparado
do grupo, com aproximadamente 18,5 milhões
de sacas consumidas por ano, seguido pela Rússia,
com quase 4 milhões, a Índia, a caminho
de 2 milhões e a China, com mais de meio milhão
de sacas por ano. Todos os países do BRIC têm
grandes populações e, exceto pela Rússia,
conseguiram superar bem a crise e devem manter sua
forte taxa atual de aumento do consumo de café.
Como a Rússia não é uma nação
produtora de café, vamos substituí-la
pela Indonésia e cunhar a abreviação
BIIC, para indicar os países exportadores com
as maiores taxas de crescimento de consumo. Coincidentemente,
os países do BIIC – Brasil, Índia,
Indonésia e China – são os países
produtores que tem as maiores populações,
somando mais de 2,5 bilhões de pessoas, ou
seja, um potencial altíssimo para expandir
o consumo nesta nova década.
Enquanto se espera que o consumo mundial de café
cresça em torno de 2.5% ao ano nos próximos
anos (e talvez somente 1% nos países importadores),
os países do BIIC devem juntos crescer entre
5 e 6% ao ano. A fatia do consumo mundial referente
aos países do BIIC pode crescer dos atuais
18% a mais de 25% nos próximos 10 anos e este
crescimento não deve parar por aí. Embora
a taxa de crescimento atual do Brasil, entre 4 e 5%,
deva estabilizar-se ou mesmo cair porque o país
está se tornando um mercado maduro de café,
as taxas atuais superiores a 5% na Índia, Indonésia
e China podem acelerar à medida que o café
seja consumido por mais gente e entre na moda, como
está acontecendo na Indonésia, onde
algumas fontes dizem que a taxa de crescimento é
de 10% ao ano.
O consumo atual dos BIIC, de 24 milhões de
sacas, pode exceder 35 milhões em 2020, com
Índia, Indonésia e China (IIC) passando
de 5 para 10 milhões, o que ainda assim está
longe de seu potencial. Se considerarmos uma meta
de consumo per capita de 2 quilos por ano para os
IIC, que juntos possuem um total de 600 milhões
de habitantes que tem poder aquisitivo para consumir
café atualmente, haveria uma demanda de 20
milhões de sacas de café. Isto é
o dobro de nossa estimativa de 10 milhões de
sacas para 2020. Certamente demorará mais tempo
para atingir tal volume de consumo, mas não
devemos nos esquecer que as populações
da Índia, Indonésia e China também
crescerão e o número de pessoas com
acesso ao café aumentará substancialmente
até – e mesmo depois de – 2020.
A geopolítica do café, marcada nas últimas
duas décadas pela ascensão do Vietnã
à posição de segundo maior país
produtor e do Brasil a segundo maior consumidor, talvez
testemunhe mudanças ainda mais dramáticas
nas próximas duas décadas:
- Os
países produtores responderão por uma
porção muito maior do consumo;
- A definição de países produtores
e consumidores em si tornar-se-á nebulosa,
com a Índia e a China certamente passando a
ser importadores de café verde (e a Indonésia
também, a mais longo prazo);
- O consumo se moverá para o oriente, partindo
de sua forte concentração atual na bacia
do Atlântico (Europa, Estados Unidos e Brasil)
para uma maior participação da bacia
Pacífico-Indiana;
- A maior parte deste consumo adicional será
inicialmente de café solúvel.
Dois
outros países ainda não considerados
nesta análise – Vietnã e as Filipinas
– ambos produtores de café com populações
de tamanho considerável, poderão também
vivenciar todas ou a maioria das tendências
acima. O consumo do Vietnã está se aproximando
de 1 milhão de sacas por ano e seus quase 90
milhões de habitantes só agora estão
começando a adquirir o gosto pelo café
e o hábito de tomá-lo. As Filipinas
já fizeram a transição de exportadores
de café para importadores líquidos do
produto.
As forças que movem o consumo no leste e sul
da Ásia vão além das ações
por parte da indústria do café –
produtores de solúvel e torrefadores –,
e incluem o ambiente favorável criado pela
produção e comércio de café
locais, que apreciam o valor agregado e a segurança
de mercado criada pelo consumo dentro de suas próprias
fronteiras. Este ambiente favorável inclui
os atuais programas institucionais de promoção
de consumo, como na Índia, ações
específicas de empresas, como na Indonésia
e China, e um programa de promoção futuro,
como está sendo hoje planejado pelo Vietnã.
O Gráfico 2 mostra o imenso
potencial do mercado de café em países
produtores com grandes populações, como
os países mencionados no parágrafo anterior
somados ao México. Os tamanhos dos círculos,
cujos centros estão localizados nos atuais
consumos per capita, indicam a população
dos países e, assim, seu potencial para consumir
mais café. A escala à esquerda indica
o consumo per capita e os números dentro dos
retângulos o potencial de consumo para os diferentes
consumos per capita. Considerando que estes países
hoje consomem cerca de 8,5 milhões de sacos
por ano, o potencial é realmente imenso, apesar
de o gráfico considerar “apenas”
500 milhões de pessoas com poder aquisitivo
para consumir café na Índia e China
juntas. Acrescentando-se o Brasil, estes países
comporiam então o grupo BIMVIC – Brasil,
Índia, México, Vietnã, Indonésia
e China – que poderá chegar a consumir
50% da produção mundial num futuro não
muito longínquo.

Este vaticínio não é outra balela
do tipo “se cada chinês consumir uma xícara
de café por dia...”. Como a maior parte
dos países e da população no
Gráfico 2 está na Ásia, podemos
usar o exemplo do Japão como modelo de crescimento
de demanda. Assumindo um crescimento semelhante ao
do Japão, onde o consumo de café foi
impulsionado por programas da OIC e Brasil nos anos
70 e 80, é mais que razoável assumir
que os países do Gráfico 2 possam atingir
um consumo médio de 2 kg per capita por ano
em 20 anos. Com a hipótese de 3% de crescimento
no Brasil e 2% no mundo no período, os BIMVIC
alcançariam 40% do consumo mundial em 2030,
sem considerar o aumento da população
e da renda per capita. Como o poder aquisitivo deve
aumentar ainda mais rápido que a população,
não seria fora de propósito pensar que
estes países poderiam chegar a 50% do consumo
mundial em 20 anos!
Fica aqui registrada uma tendência interessante
para nossos exportadores e nossa indústria
de café considerarem num horizonte que não
está tão distante. Além da oportunidade
mencionada antes – criação de
mais espaço no mercado internacional pelo consumo
nas origens – é oportuno pensar na Indonésia,
Índia, China e México não como
produtores e concorrentes mas sim como consumidores
e mercados para cafés brasileiros verdes e
industrializados. Ao atingir um consumo de 2 kg per
capita por ano (ver Gráfico 2)
todos estes países necessitarão importar
café pois é muito pouco provável
que possam expandir sua produção para
satisfazer seu aumento de consumo. Em verdade, Indonésia,
México e Índia já importam café
hoje, os dois primeiros do próprio Brasil,
inclusive.
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