É
do conhecimento dos estudiosos que a introdução
do café no Brasil teve início no Norte
do país, sendo, então, trazido para
a cidade do Rio de Janeiro, espalhando-se rapidamente
no final do século XVIII pelo município
de Resende, e seguindo pelo vale do rio Paraíba
em direção à sua foz e por seus
afluentes.
O grande avanço da lavoura do café pelos
estados de São Paulo e Minas Gerais ocorreu
a partir de meados do século XIX e, principalmente,
a cidade de Bananal, na província de São
Paulo, acompanhou o apogeu e decadência da cafeicultura
fluminense.
Segundo
o historiador João de Azevedo Carneiro
Maia, que editou em 1891 um livro sobre a história
da cidade de Resende, o governo da província
de São Paulo aproveitou-se de uma provisão
régia, o alvará de 16 de janeiro
de 1726, que “desmembrou de São Paulo
a comarca de Paraty, transferindo-a para o Rio
de Janeiro”, para então mudar os
limites entre as duas províncias, anexando
a São Paulo, Areias, São José
de Barreiros e Bananal. |
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Desde então, até o final do século
XIX, houve grandes questionamentos, tanto do poder
público como dos fazendeiros, e da população
da região anexada a São Paulo. Esta
se julgava muito mais próxima do governo do
Rio de Janeiro, em razão dos portos e estradas
que levavam à Corte e de suas relações
com os fazendeiros do vale do Paraíba fluminense.
Certo é que, em pleno apogeu do café
no Brasil, a cidade de Bananal foi a maior produtora
de São Paulo.
Para iniciar nossa história sobre as fazendas
de café paulistas, escolhi a de Boa Vista,
localizada em Bananal, na divisa com a cidade de Barra
Mansa. É provável que tenha sido pioneira
na produção de café na região,
pois foi a partir dela que surgiram outras grandes
propriedades.
Sabe-se que aquelas terras foram cedidas em sesmaria
a Manoel Antonio de Sá Carvalho, no final do
século XVIII, mas foi Luciano José de
Almeida, nascido na fazenda em 1796, que converteu
a propriedade, em que até então se cultivava
anil e cana-de-açúcar, em uma grande
produtora de café.
Luciano
casou-se com D. Maria Joaquina Sampaio e teve
com ela nove filhos. Com a morte do marido em
1854, D. Maria passa a administrar a fazenda,
o que faria por trinta anos. O monte-mor do espólio
de Luciano José de Almeida alcançou
a cifra impressionante de 2:505:744$513 contos
de réis, e incluía as fazendas Boa
Vista, Cachoeira, Fazendinha, Jararaca, Campo
Alegre e Bocaina, além de 812 escravos
que trabalhavam arduamente nas propriedades, que
ao todo, possuíam 997 mil pés de
café, sendo 700 mil somente na Boa Vista. |
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D. Maria recebeu pouco mais de mil contos de réis
por ocasião da partilha, mas ao morrer, em
1882, sua fortuna era comparável à deixada
pelo esposo, 2:103:500$610 contos de réis,
e entre os bens, 451 escravos, as fazendas Boa Vista
e Cachoeira e mais de 600 mil pés de café.
A sede da Boa Vista, edificada a cavaleiro de um barranco,
com um andar inferior que, provavelmente, servia de
moradia para os escravos que trabalhavam na casa,
possui uma monumental escadaria dando acesso à
entrada da casa, no piso superior, seguindo o estilo
arquitetônico da maioria das fazendas construídas
em São Paulo. Com cinco salões grandiosos
e inúmeros quartos, em uma das salas encontra-se
a capela-oratório, com uma porta trabalhada
e um altar, onde aconteciam as cerimônias religiosas
(missas, batizados e casamentos), celebradas por um
padre-capelão que residia na fazenda. Do alto
da escadaria era possível ver o corredor de
senzalas, que se estendiam em linha reta do lado esquerdo
da entrada da casa-sede.
A fazenda Boa Vista, após a morte da matriarca
da família, coube à sua filha Alexandrina,
casada com o comendador José de Aguiar Vallim,
que a vendeu ao diplomata Plinio de Oliveira. Este
a transferiu por herança a seus filhos, que
a venderam ao dr. Aurélio Pires de Albuquerque.
Em 1913, pertenceu ao francês Emile Levy, e
a partir de 1930 passou à família Pires,
que a conserva até os nossos dias, não
mais como fazenda de café, mas como um hotel-fazenda,
que tem servido de palco para a gravação
de novelas de época.
Ali vamos encontrar a cozinha e a hospitalidade mineira,
com direito a cafezinho, é claro.
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