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Março 2010 - Ano 89 - Nº 833

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Na cafeicultura brasileira é muito conhecida a característica de safras altas alternadas com baixas safras, o que se chama de ciclo bienal de produção de café. Esse ciclo afeta a oferta do produto, exigindo a estocagem e carregamento de safra de um ano para outro, situação que traz dificuldades para a política cafeeira do país e para o produtor, que em certos anos tem pouca renda.

O entendimento do ciclo bienal de produção do cafeeiro é importante também a nível agronômico, para adequação do manejo da lavoura de acordo com o ciclo ou para modificá-lo, sendo que atualmente existe uma tendência de manejo por podas visando acentuar o ciclo com safra zero.

Quantificando o ciclo

O fenômeno de bienalidade de produção de café pode ser observado através das safras colhidas no Brasil nos dez últimos anos (quadro 1). Verifica-se que foram obtidas safras baixas, entre 28 a 39 milhões, e altas entre 39 a 48 milhões, ou seja, com diferencial médio de 33%. Ao longo de muitos anos os diferenciais de produção nas safras de café são conhecidos e, muitas vezes, agravados por fenômenos climáticos. O gráfico 1 mostra os picos de altos e baixos desde o ano de 1960.


Produção brasileira de café, nas safras de 2001 a 2010

Trabalho de pesquisa e análise estatística em experimentos realizados nas Fazendas Experimentais do ex-IBC, onde se computou a produtividade em parcelas de cafeeiros bem tratadas por 6 a 8 safras, mostrou que na média foi obtida uma safra baixa de cerca de 20% da safra alta, o que então, para nossas condições, pode ser considerado um ciclo normal.
Na cafeicultura como um todo, é lógico, a bienalidade não se expressa tão fortemente como se observou nas lavouras, pois dentro de uma propriedade, dentro das regiões e no país, os ciclos das lavouras em boa parte são desencontrados. Não fosse assim, uma safra baixa corresponderia a cinco vezes menos que a alta.

Causas do Ciclos

As causas da produção de café diferenciada no Brasil podem ser explicadas fisiologicamente.
Os cafeeiros cultivados a pleno sol produzem muito num ano, suas reservas são carreadas para a frutificação, então o crescimento dos ramos é prejudicado e a safra seguinte reduzida. Diz-se comumente que o cafezal se veste um ano e no outro veste o seu dono.
Vejamos como ocorre o fenômeno:

1°) O cafeeiro possui uma iniciação floral abundante (muitos gemas e flores).
2°) Ocorre uma baixa taxa de abcisão de frutos (a planta de café não derruba tantos frutos, como outras).
3º) Se manifesta a força de drenagem das reservas de forma prioritária pelos frutos (endosperma das sementes é um dreno primário).
4°) Se observa um desbalanço na razão folha/fruto e, em consequência, uma competição entre o crescimento reprodutivo e o vegetativo (este último prejudicado com carga alta).
5º) Nessa condição ve rifica-se o depauperamento, a seca de ramos e morte de raízes (não se observa seca de ramos em cafeeiros jovens ou com frutos raleados).
6°) A seca de ramos é mais expressiva nos anos de safra alta, é agravada por aspectos nutricionais e por ataque de pragas e doenças.

A lavoura assim fica com suas plantas estressadas pela carga, cresce menos e produz menos no ano seguinte.

Secas de ramos e morte das raízes

A seca de ramos ocorre devido ao desbalanço entre a disponibilidade e o consumo de assimilados (reservas da planta). Decorre da maior necessidade pelos frutos em relação à possibilidade de seu fornecimento, pela fotossíntese e mais as reservas antes disponíveis. Um trabalho de pesquisa mostra que a maior influência é do nível de enfolhamento, que vai fazer a fotossíntese, do que das reservas.

A seca de ramos é precedida da morte de raízes, e se esta ocorre em grau intenso pode causar a trianualidade de produção, visto que sua recuperação é lenta.
A morte de raízes leva à redução na absorção de água e de nutrientes. Por isso, um bom manejo de adubação e irrigação ajuda a reduzir os problemas.

Como reduzir ou ampliar o ciclo

Além dos cuidados de manejo dos cafeeiros, como a adubação, controle de pragas/doenças, irrigação, etc., visando manter a planta mais enfolhada, existem alternativas para evitar o estresse ou depauperamento que levam à baixa produtividade, no ano seguinte.

Elas consistem basicamente em reduzir ligeiramente a produção alta por planta através de espaçamentos menores, arborização, uso de material genético mais vigoroso e com padrão de florada mais diluído, aplicação de podas e outros.

Ultimamente, na cafeicultura empresarial existe tendência a se promover um ciclo de produção mais pronunciado visando uma safra muito alta, e depois uma safra zero, com o auxilio de poda dos ramos produtivos.

O ciclo bienal e as estimativas de safras

As estimativas das safras de café no Brasil vêm sendo feitas atualmente na maioria das regiões produtoras, de forma subjetiva, o que reduz a sua confiabilidade. Em função disso, muitas empresas comerciais também fazem suas previsões sem metodologia apropriada, o que chamamos de “chutômetros”. Elas, por sua natureza, tendem a puxar as previsões para cima, sempre querendo safras mais altas. Os produtores, por sua vez, prejudicados por divulgações errôneas, não podem decidir bem o que fazer, se vendem logo ou se guardam o café.

Assim, a pergunta é: Onde está considerado o ciclo bienal de produção dos cafeeiros ?
Respondemos que, na prática do mercado, ele foi, simplesmente esquecido, já que a correta definição da oferta deveria sempre ser feita pela média de 2 safras.

O processo natural da planta de café, cultivada a pleno sol, é ter frutificações muito diferenciadas de um ano para o outro, conforme já foi esclarecido fisiológicamente. A lavoura fica com suas plantas estressadas pela carga, cresce menos e produz menos no ano seguinte.

O que alguns interessados não enxergam, talvez por que não querem, é o fato incontestável de que se uma safra veio um pouco maior do que se esperava por exemplo, 3 milhões de sacas a mais num ano pode-se prever na safra seguinte essa quantia a menos.


Evolução da produção brasileira de café em 45 anos (1960-2005).

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