Na
cafeicultura brasileira é muito conhecida a
característica de safras altas alternadas com
baixas safras, o que se chama de ciclo bienal de produção
de café. Esse ciclo afeta a oferta do produto,
exigindo a estocagem e carregamento de safra de um
ano para outro, situação que traz dificuldades
para a política cafeeira do país e para
o produtor, que em certos anos tem pouca renda.
O entendimento do ciclo bienal de produção
do cafeeiro é importante também a nível
agronômico, para adequação do
manejo da lavoura de acordo com o ciclo ou para modificá-lo,
sendo que atualmente existe uma tendência de
manejo por podas visando acentuar o ciclo com safra
zero.
Quantificando
o ciclo
O
fenômeno de bienalidade de produção
de café pode ser observado através das
safras colhidas no Brasil nos dez últimos anos
(quadro 1). Verifica-se que foram obtidas safras baixas,
entre 28 a 39 milhões, e altas entre 39 a 48
milhões, ou seja, com diferencial médio
de 33%. Ao longo de muitos anos os diferenciais de
produção nas safras de café são
conhecidos e, muitas vezes, agravados por fenômenos
climáticos. O gráfico 1 mostra os picos
de altos e baixos desde o ano de 1960.

Produção
brasileira de café, nas safras de 2001 a 2010
Trabalho de pesquisa e análise estatística
em experimentos realizados nas Fazendas Experimentais
do ex-IBC, onde se computou a produtividade em parcelas
de cafeeiros bem tratadas por 6 a 8 safras, mostrou
que na média foi obtida uma safra baixa de
cerca de 20% da safra alta, o que então, para
nossas condições, pode ser considerado
um ciclo normal.
Na cafeicultura como um todo, é lógico,
a bienalidade não se expressa tão fortemente
como se observou nas lavouras, pois dentro de uma
propriedade, dentro das regiões e no país,
os ciclos das lavouras em boa parte são desencontrados.
Não fosse assim, uma safra baixa corresponderia
a cinco vezes menos que a alta.
Causas
do Ciclos
As causas da produção de café
diferenciada no Brasil podem ser explicadas fisiologicamente.
Os cafeeiros cultivados a pleno sol produzem muito
num ano, suas reservas são carreadas para a
frutificação, então o crescimento
dos ramos é prejudicado e a safra seguinte
reduzida. Diz-se comumente que o cafezal se veste
um ano e no outro veste o seu dono.
Vejamos como ocorre o fenômeno:
1°) O cafeeiro possui uma iniciação
floral abundante (muitos gemas e flores).
2°) Ocorre uma baixa taxa de abcisão de
frutos (a planta de café não derruba
tantos frutos, como outras).
3º) Se manifesta a força de drenagem das
reservas de forma prioritária pelos frutos
(endosperma das sementes é um dreno primário).
4°) Se observa um desbalanço na razão
folha/fruto e, em consequência, uma competição
entre o crescimento reprodutivo e o vegetativo (este
último prejudicado com carga alta).
5º) Nessa condição ve rifica-se
o depauperamento, a seca de ramos e morte de raízes
(não se observa seca de ramos em cafeeiros
jovens ou com frutos raleados).
6°) A seca de ramos é mais expressiva nos
anos de safra alta, é agravada por aspectos
nutricionais e por ataque de pragas e doenças.
A lavoura assim fica com suas plantas estressadas
pela carga, cresce menos e produz menos no ano seguinte.
Secas
de ramos e morte das raízes
A seca de ramos ocorre devido ao desbalanço
entre a disponibilidade e o consumo de assimilados
(reservas da planta). Decorre da maior necessidade
pelos frutos em relação à possibilidade
de seu fornecimento, pela fotossíntese e mais
as reservas antes disponíveis. Um trabalho
de pesquisa mostra que a maior influência é
do nível de enfolhamento, que vai fazer a fotossíntese,
do que das reservas.
A seca de ramos é precedida da morte de raízes,
e se esta ocorre em grau intenso pode causar a trianualidade
de produção, visto que sua recuperação
é lenta.
A morte de raízes leva à redução
na absorção de água e de nutrientes.
Por isso, um bom manejo de adubação
e irrigação ajuda a reduzir os problemas.
Como
reduzir ou ampliar o ciclo
Além dos cuidados de manejo dos cafeeiros,
como a adubação, controle de pragas/doenças,
irrigação, etc., visando manter a planta
mais enfolhada, existem alternativas para evitar o
estresse ou depauperamento que levam à baixa
produtividade, no ano seguinte.
Elas consistem basicamente em reduzir ligeiramente
a produção alta por planta através
de espaçamentos menores, arborização,
uso de material genético mais vigoroso e com
padrão de florada mais diluído, aplicação
de podas e outros.
Ultimamente, na cafeicultura empresarial existe tendência
a se promover um ciclo de produção mais
pronunciado visando uma safra muito alta, e depois
uma safra zero, com o auxilio de poda dos ramos produtivos.
O
ciclo bienal e as estimativas de safras
As
estimativas das safras de café no Brasil vêm
sendo feitas atualmente na maioria das regiões
produtoras, de forma subjetiva, o que reduz a sua
confiabilidade. Em função disso, muitas
empresas comerciais também fazem suas previsões
sem metodologia apropriada, o que chamamos de “chutômetros”.
Elas, por sua natureza, tendem a puxar as previsões
para cima, sempre querendo safras mais altas. Os produtores,
por sua vez, prejudicados por divulgações
errôneas, não podem decidir bem o que
fazer, se vendem logo ou se guardam o café.
Assim, a pergunta é: Onde está considerado
o ciclo bienal de produção dos cafeeiros
?
Respondemos que, na prática do mercado, ele
foi, simplesmente esquecido, já que a correta
definição da oferta deveria sempre ser
feita pela média de 2 safras.
O processo natural da planta de café, cultivada
a pleno sol, é ter frutificações
muito diferenciadas de um ano para o outro, conforme
já foi esclarecido fisiológicamente.
A lavoura fica com suas plantas estressadas pela carga,
cresce menos e produz menos no ano seguinte.
O que alguns interessados não enxergam, talvez
por que não querem, é o fato incontestável
de que se uma safra veio um pouco maior do que se
esperava por exemplo, 3 milhões de sacas a
mais num ano pode-se prever na safra seguinte essa
quantia a menos.

Evolução da produção
brasileira de café em 45 anos (1960-2005).
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