É
lugar comum falar que um dos principais gargalos do
desenvolvimento nacional tem sido a infraestrutura,
sobretudo a de logística de exportação.
Faltam estradas, ferrovias, aeroportos e portos dotados
de condições tecnológicas e espaciais
que permitam um aumento substancial do comércio
exterior brasileiro.
O problema persiste, e em função da
complexidade das reformas que são necessárias,
deve-se admitir que perdurará ainda por vários
anos. Mas cumpre apontar também os pontos onde
o gargalo começa a ser revertido e as soluções
finalmente despontam como uma realidade concreta.
É o caso do porto de Sepetiba, ou melhor, de
Itaguaí. Privatizado em 1998, recebeu investimentos
pesados do grupo CSN e vem se consolidando desde então
como um dos terminais de exportação
mais modernos da América Latina. Os resultados
já são bem visíveis. Em 2009,
Itaguaí exportou o equivalente a 10,58 bilhões
de dólares e 97 milhões de toneladas,
obtendo o quarto lugar em valor e o segundo lugar
em quantidade entre todos os portos nacionais.
A
Revista do Café esteve no terminal no dia
25 de março, numa entrevista com executivos
da Sepetiba Tecon, operadora do pólo exportador
de café que respondeu, no primeiro bimestre
deste ano, por 6% das exportações
brasileiras do grão. Os entrevistados foram
Maxwell Rodrigues, gerente de operações;
José Cozzolino, gerente comercial; Marcela
Malta, analista comercial; e Andréia Bria,
analista de marketing. |
José
Cozzolino, Andréia Bria, Maxwell Passos
e Marcela Malta Lopes |
Operação
Café
Sepetiba
Tecon vem operando com café desde 2005, sendo
o único porto da América do Sul que
possui um pólo exportador dentro da zona primária
do porto. A participação do café
nas operações totais da empresa tem
crescido substancialmente nos últimos anos,
representando hoje 14% do total, contra apenas 6%
em 2005. Em função dessa importância,
Sepetiba Tecon montou uma unidade de atendimento voltada
exclusivamente para o café, além de
contar com apoio do Centro de Comércio de Café
do Rio de Janeiro, o qual mantém uma estrutura
funcionando permanentemente no porto. A meta da empresa,
com base em estimativas bastante conservadoras, é
exportar mais de 2 milhões de sacas de café
até 2011.
Cozzolino explica que o porto de Itaguaí tem
vocação para o café, em função
de sua localização privilegiada, acessos
rodoviários, grande área portuária
e retroportuária, segurança, calado
e agilidade nos trâmites aduaneiros. Próximo
dos principais pólos de produção
de café – 369 km de Varginha, 469 km
de Manhuaçu, e 500 km de Vitória –,
Itaguaí situa-se exatamente no centro do eixo
do cinturão brasileiro de café, com
a vantagem de que os acessos ao porto não passam
por dentro de nenhuma grande cidade.
As características naturais do porto de Itaguaí,
ou seja, 400 mil metros quadrados de área portuária
e retroportuária, mais as condições
naturais de calado com 14 metros de profundidade,
permitem a entrada de navios de grande porte, oriundos
de todas as partes do globo.
A importância estratégica do café
deve-se ao fato do grão brasileiro, em virtude
de ser demandado por quase todos os países
do mundo, atrair uma ampla variedade de linhas de
navegação. Além disso, é
um produto com atividade relativamente estável
durante o ano inteiro, com forte resistência
às periódicas crises que assolam o comércio
exterior mundial.
“As principais rotas de armadores passam por
Itaguaí, que possui, além disso, o menor
transit time para o norte da Europa e Mediterrâneo,
os principais mercados do café brasileiro”,
informa Maxwell Rodrigues.
Ele observa que a empresa vem realizando grandes parcerias
com os principais exportadores de café, entre
os quais se destacam Tristão, Unicafé,
Outspan e Stockler, entre outros. “Como consequência
natural dessas parcerias e dos investimentos em tecnologia
e infraestrutura, em 2009 nós aumentamos nossa
média de recebimento diário para 8.500
sacas de café, com igual volume diário
de estufagem, e ampliamos nossa capacidade operacional
para 16 mil sacas/dia. Ou seja, temos ainda um potencial
enorme de aumento de nossas operações
com café”, diz Rodrigues.
“É importante informar que as operações
de recebimento de carretas para a área de embarque
funcionam 24 horas. Isso não acontece em outros
terminais. E por que não acontece? Porque existe
uma limitação de área em outros
terminais, restringindo a programação
de recebimento de modo a evitar que os mesmos fiquem
superlotados. Aqui nós temos área em
abundância e grande capacidade operacional,
o que nos permite abrir por mais tempo, ou seja, dando
a devida facilidade para o exportador de café
programar as entregas para o embarque.”
O exportador, explicam os executivos, pode entregar
o café estufado em contêiner até
sete dias antes do deadline, do embarque, ou pode
entrar e deixar sua carga para que o contêiner
seja estufado, podendo se utilizar de uma estrutura
operacional e comercial dedicada exclusivamente às
operações de café. Além
disso, ele tem doze dias de free time, ou seja, pode
armazenar a carga por esse tempo sem custo algum.
Esses são diferenciais importantes, dizem eles,
em relação aos demais portos.
Em relação aos custos, Itaguaí
também apresenta condições bastante
competitivas em relação a outros portos,
em relação à capatazia, pesagem
e ISPS. Os serviços de ovação
em sacaria e granel também registram preços
inferiores aos praticados em outros terminais.

O
Porto
O
porto de Itaguaí, acrescentam, surgiu entre
dois portos históricos, que foram engolidos
pelo adensamento das cidades, seja Rio, seja Santos,
o que é diferente da origem de Itaguaí,
que foi estabelecido longe de toda área urbana,
concebido para ficar livre dos problemas de congestionamento
e circulação. “Temos uma área
de 400 mil metros quadrados – 200 mil de área
usada e mais 200 mil de retroárea –,
e um espaço disponível para expansão
de mais 850 mil metros quadrados. Toda a parte de
acesso ao porto está garantida. A Rio-Santos,
por exemplo, que já está duplicada.
Temos ainda o Arco Metropolitano, que liga o porto
de Itaguaí às principais vias de acesso
ao cinturão exportador de café: Via
Dutra (Rio-SP), BR 040 (Rio-MG) e BR 101 (Rio-Bahia).”
Rodrigues observa que é importante frisar alguns
pontos, que fazem o diferencial de Itaguaí
em relação a outros portos. “Temos
14,5 metros de calado; um canal de acesso marítimo
com 200 metros de largura, permitindo a entrada de
navios pesados; 30 mil metros quadrados de área
coberta para armazenagem, sendo 5 mil metros dedicados
ao café. Temos 3 berços para atracação
dos navios. Em equipamentos, temos 4 portêineres,
dois dos quais foram adquiridos em 2008. Nos últimos
dois anos, investimos na compra dos 2 portêineres
mencionados, 7 Reach Stackers, 27 empilhadeiras, dois
RTGs... O que é RTG? São pórticos
móveis que agilizam a movimentação
interna de conteiner. Em 2010, serão comprados
dois portêineres, 4 RTGs, 6 Reach Stackers e
outros equipamentos.”
Cada portêiner, informam os executivos, custa
6,5 milhões de dólares e cada RTG, 1,5
milhão de dólares. Os dois últimos
portêineres foram comprados da China e os próximos
dois serão provavelmente importados de lá
também.
Na questão burocrática, Sepetiba também
possui vantagens comparativas. Uma série de
desembaraços aduaneiros podem ser realizados
inclusive após o embarque (é o chamado
embarque por termo). Maxwell Rodrigues explica que
o porto obteve essa facilidade em função
da segurança existente. O terminal é
uma unidade alfandegada, abrigando unidades da Receita
Federal, Ministério da Agricultura e ANVISA,
o que facilita imensamente os trâmites aduaneiros
de exportação. O índice de canal
vermelho na exportação de todos os produtos
é inferior a 1%. No café, é próximo
de zero.
Marcela Malta, responsável pelo atendimento
comercial do café, enfatiza que o “carrossel”
de entrega de contêineres é muito ágil,
em função do período de tempo
em que as transportadoras possuem para entregar as
unidades (abertura do gate com 7 dias do deadline,
24 horas por dia), diminuindo assim a quantidade de
carretas utilizadas.
Rodrigues acrescenta que “um outro facilitador
é o fato do depósito de contêineres
vazios estar situado dentro do terminal. Isso permite
ao transportador deixar seu contêiner cheio
para embarque e retornar com outro vazio para origem,
se for o caso”.
O Sepetiba Tecon possui aproximadamente 500 funcionários
trabalhando no terminal de Itaguaí e no posto
avançado da empresa no centro do Rio de Janeiro.
O terminal tem capacidade de armazenagem de 70 mil
sacas, e possui equipamentos que possibilitam a formação
de blends com até seis origens diferentes.
A segurança do local é garantida por
vigilantes próprios da empresa, 60 câmeras
internas, além de funcionários das Docas.
Por fim, Sepetiba Tecon vem discutindo com empresas
e autoridades a viabilidade operacional da linha ferroviária
– já existente – que liga Varginha
ao porto.
Com todas essas qualidades, o porto de Itaguaí
espera atrair mais exportadores e mais volume de exportação
de café. Este ano, a estimativa da empresa
é movimentar 4 mil contêineres de café
contra 3,46 mil em 2009. A projeção
para 2011 é embarcar 6 mil contêineres.

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