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Setembro 2010 - Ano 89 - Nº 835

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O tradicional salão de eventos do Centro do Comércio de Café do Rio Janeiro, uma das instituições cafeeiras mais lôngevas do mundo, recebeu no dia 07 de outubro uma legião de admiradores, empresários e produtores que ganham a vida vendendo ou comprando cafés de qualidade.

Realizou-se nesta data o I Concurso de Qualidade de Cafés do Rio de Janeiro. Foram enviados dezenas de lotes, dos quais 14 foram selecionados por uma comissão de provadores coordenada por Aloísio Barca, da BM&F, sendo 4 lotes de arábica natural, 5 de cereja descascado e mais 5 de grãos despolpados. Os compradores provaram os cafés pela parte da manhã e à tarde participaram do leilão que definiria os melhores cafés do estado.

Os ganhadores foram Antônio Francisco Fabre, José Ferreira Pinto e Paulo Roberto Bruno (os três empatados em primeiro lugar na categoria natural), Moacyr Carvalho Pinto (descascado) e Everardo Tardin Erthal (despolpado). Além dos altos preços obtidos por seus cafés nos leilões, os vencedores ganharam derriçadores, secadores, toneladas de fertilizantes, calcário ou defensivos, doados por patrocinadores.

Mais de duzentas pessoas, entre compradores, produtores, autoridades e observadores prestigiaram o evento. Dentre as autoridades estiveram presentes o Prefeito de Varre-Sai (principal município produtor de café do estado), Everardo Ferreira, e o Secretário de Agricultura do Rio de Janeiro, Alberto Mofati.

Everardo informou que a prefeitura de Varre-Sai conta com um laboratório de degustação de café e está trabalhando para reestruturar a Coopercanol, cooperativa que existe há 30 anos, mas que ficou por muitos anos inoperante.

Ele lembrou que a realização das Olimpíadas e da Copa do Mundo será oportunidade que deve ser aproveitada para fazer marketing do café fluminense no mundo.

Alberto Mofati, Secretário de Agricultura do Estado do Rio, observou que o Concurso de Qualidade é uma chance de mudar o paradigma da qualidade do café fluminense. “Este é um marco na história do café fluminense. Mas é só o primeiro. No ano que vem teremos um evento mais estruturado. Mofati informou que a máquina de rebeneficiamento, um dos principais gargalos da cafeicultura fluminense deve entrar em funcionamento no segundo semestre do ano que vem. “Vencemos as etapas de formatação burocrática e no primeiro semestre de 2011 devemos aprovar os financiamentos do Banco do Brasil e do BNDES, para a máquina começar a receber a safra já do ano que vem”, prometeu.

Alaerte Telles Barbosa, técnico que integrou a equipe de provadores que selecionou os melhores cafés recebidos, observou que o volume de lotes enviados ainda é pequeno, por ser este o primeiro concurso, mas assegurou que o caminho é esse mesmo: “Todos os estados fazem esse tipo de concurso”. Ele lembra que, embora o clima para um café de alta qualidade não seja muito favorável na zona da mata e Espírito Santo, seus produtores tem se destacado nos concursos nacionais de qualidade. A mesma coisa pode acontecer no Rio. “O produtor fluminense tem de ter um cuidado redobrado, porque o clima quente e úmido atrapalha, sobretudo no momento da colheita”, observa. O pequeno produtor tem condições de obter um café de alta qualidade, desde que receba orientações técnicas adequadas.

Os compradores

A Unicafé Comércio Exterior, uma das empresas líderes da comercialização de café brasileiro, adquiriu vários lotes, entre os quais aquele que alcançou o maior preço: R$ 540,00/saca para o lote de 10 sacas de café despolpado, produzido por Everardo Tardim Erthal, Fazenda Bela Vista, Bom Jardim.

Leonardo Moço Ribeiro, barista, vencedor da Copa Barista da Fispal em 2010 (repetindo o feito de 2008; em 2009 ficou em segundo lugar) também participou do leilão para escolher o melhor café do estado. Dono de uma cafeteria na Barra, a Cafuné, e uma microtorrefadora, a Café do Moço, ele falou à Revista do Café que tem interesse, como carioca, de apresentar um café de alta qualidade tanto em sua cafeteria quanto em sua torrefadora. “Quero ser um embaixador do café do Rio”, diz o barista. Presente ao leilão, Moço procurava um café que possa usar no blend que prepará na próxima Copa Barista, de 2011.

Moço conta que todos os anos viaja pelo Brasil com dois amigos europeus à procura de cafés de alta qualidade. “Meu amigo dinamarquês quer pagar um preço cheio ao produtor, sem atravessadores, para lhe dar uma remuneração mais justa”. Moço adquiriu lotes de um dos vencedores da categoria natural.


Representantes das empresas que apoiaram o concurso

Marcos Modiano, dono do Armazém do Café, um dos principais incentivadores do Concurso de Qualidade, e que também adquiriu lotes no leilão, observa que o paladar do consumidor brasileiro tem evoluído de maneira muito significativa, ampliando horizontes para o negócio de cafeterias. Ele aprova o esforço do Centro do Comércio de Café do Rio de Janeiro (CCCRJ) de viabilizar e fomentar a criação de canais diretos entre as cafeterias (ou “casas de café”, como Modiano prefere se referir aos estabelecimentos comprometidos com qualidade) e os produtores, porque ambos trabalham com volumes pequenos. E concorda que o ideal seria que os produtores instalassem pequenas torrefadoras em suas propriedades para vender o café já torrado. “O problema é que os produtores vendem verde, e a maioria das cafeterias não tem condições de torrar o café.”

Efigênio Salles, Presidente da Associação de Cafeicultores do Estado do Rio de Janeiro (Ascarj), por outro lado, acha que é muito difícil o produtor assumir a industrialização. “É uma atividade completamente distinta”, observa Salles. Para ele, é importante criar esse vínculo direto com o produtor, mas é uma integração de três partes: produtor, torrefação e cafeterias.
Sobre o Concurso, Salles considera um “moderno instrumento de marketing”. “Você coloca produtores, torrefadores e donos de cafeterias de um lado, sob os holofotes da mídia, tudo isso com a finalidade de divulgar o que o Rio tem de cafés de excelente qualidade.”

Guilherme Braga, Presidente do CCCRJ, que também comprou cafés no leilão, informou que os lotes comprados pelo Centro serão enviados para a Cafeteria do Museu do Café para representar a cafeicultura do Rio de Janeiro ao lado dos cafés das demais regiões produtoras, e oferecido aos consumidores. Afirmou que a instituição irá se empenhar na estruturação de canais de ligação entre produtores pequenos do estado, torrefadoras e cafeterias.

O Rio de Janeiro é o segundo maior mercado consumidor do país, com número crescente de cafeterias, as quais precisam cada vez mais de grãos de alta qualidade. A questão logística, ou seja, a proximidade geográfica, diz Braga, irá ajudar muito a ambos os lados, produtor e comprador. “Vendendo diretamente seu café a cafeterias, o produtor poderá obter um valor agregado maior”, explica Braga, acrescentando que a identificação da origem “transmite confiança ao consumidor, que sabe de onde vem o café que está bebendo”.

Luiz Otávio Araripe, Diretor da Valorização (Valor Café), observa que é muito importante dar incentivo aos produtores para que aperfeiçoem a qualidade de seus cafés. “A demanda por cafés de qualidade tem crescido muito. Enquanto o arábica de qualidade registra seu melhor preço em dez anos, os grãos de qualidade inferior estão com preços estagnados”. A Valor Café também foi uma das maiores compradoras do leilão. Além de aquisições próprias, a Valor Café fez compras também para a Expresso Café, uma das principais cafeterias da cidade do Rio e para o Café Pimpinela, a maior indústria de torrefação e moagem do Estado. O Diretor da Valorização informa que este café deve ser quase inteiramente vendido para o mercado carioca e que não faltarão interessados: “o café de qualidade é fácil de vender”.

Os campeões

Paulo Roberto Bruno, 63, um dos três ganhadores na categoria Natural, informou que produz café há 29 anos, mas trabalha há 40 no café, tendo iniciado sua carreira como técnico agrícola no Instituto Brasileiro do Café (IBC). Ele é um pequeno produtor em Duas Barras, região serrana do estado do Rio, colhendo aproximadamente 150 sacas por ano. Seu método de plantio é o superadensado, com 10 mil plantas por hectare. O segredo para produzir um café de qualidade no estado do Rio, para ele, é mexer o máximo possível o café no terreiro, para combater a proliferação de micro-organismos gerada pela alta umidade relativa do ar do estado.

José Ferreira Pinto, 58, também ganhador na categoria Natural, produz mais ou menos 4 mil sacas de café por ano em Varre-Sai e Bom Jesus de Itabapoana, no norte do estado, há 36 anos. É o primeiro da família a produzir café, mas seus parentes já eram produtores rurais. Para ele, o segredo para um bom café é: capricho e fazer com gosto. Ele observa que, apesar dos preços não serem compensadores às vezes, o café ainda é a melhor atividade agrícola nas áreas propícias. “O café que não é de qualidade está dando prejuízo ao produtor, por isso tornou-se imperativo procurar a excelência”.

Moacyr Carvalho Pinto, 65 anos, produz café há 27. Engenheiro civil e professor da UERJ, é um “cristão novo” na atividade, porque sua família não é do ramo. Produz cerca de 800 sacas por ano em Duas Barras, região serrana. Começou a produzir café depois que adquiriu uma fazenda que tinha uma lavoura de café abandonada. “Isso me estimulou, recuperar aquela lavoura, ainda mais depois que ganhei dois anos depois, em 1985, um prêmio de cafeicultor do ano dado pelo IBC”. Para ele, o segredo da qualidade no estado do Rio é o cuidado extremo na hora da colheita e da pós-colheita.

Com 52 anos, Everardo Tardin Erthal produz café desde 1980, vindo de uma família de produtores de café. Produz ao redor de 400 sacas por ano, em Bom Jardim, região serrana do Rio. Para ele, o segredo para produzir um bom café é amor, dedicação e investir numa equipe boa, com funcionários dedicados. Também fez questão de homenagear sua esposa, Maria Adriana, que tem participação fundamental, segundo ele, em seus esforços para produzir um grão de qualidade superior. Everado foi o campeão do Concurso, pela venda do lote de 10 sacas de café despolpado ao preço de R$ 540,00/saca, o mais alto do Leilão.

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