O
tradicional salão de eventos do Centro do Comércio
de Café do Rio Janeiro, uma das instituições
cafeeiras mais lôngevas do mundo, recebeu no
dia 07 de outubro uma legião de admiradores,
empresários e produtores que ganham a vida
vendendo ou comprando cafés de qualidade.
Realizou-se nesta data o I Concurso de Qualidade
de Cafés do Rio de Janeiro. Foram
enviados dezenas de lotes, dos quais 14 foram selecionados
por uma comissão de provadores coordenada por
Aloísio Barca, da BM&F, sendo 4 lotes de
arábica natural, 5 de cereja descascado e mais
5 de grãos despolpados. Os compradores provaram
os cafés pela parte da manhã e à
tarde participaram do leilão que definiria
os melhores cafés do estado.

Os ganhadores foram Antônio Francisco Fabre,
José Ferreira Pinto e Paulo Roberto Bruno (os
três empatados em primeiro lugar na categoria
natural), Moacyr Carvalho Pinto (descascado) e Everardo
Tardin Erthal (despolpado). Além dos altos
preços obtidos por seus cafés nos leilões,
os vencedores ganharam derriçadores, secadores,
toneladas de fertilizantes, calcário ou defensivos,
doados por patrocinadores.
Mais
de duzentas pessoas, entre compradores, produtores,
autoridades e observadores prestigiaram o evento.
Dentre as autoridades estiveram presentes o Prefeito
de Varre-Sai (principal município produtor
de café do estado), Everardo Ferreira,
e o Secretário de Agricultura do Rio de
Janeiro, Alberto Mofati.
Everardo informou que a prefeitura de Varre-Sai
conta com um laboratório de degustação
de café e está trabalhando para
reestruturar a Coopercanol, cooperativa que existe
há 30 anos, mas que ficou por muitos anos
inoperante.
Ele lembrou que a realização das
Olimpíadas e da Copa do Mundo será
oportunidade que deve ser aproveitada para fazer
marketing do café fluminense no mundo.
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Alberto
Mofati, Secretário de Agricultura do Estado
do Rio, observou que o Concurso de Qualidade é
uma chance de mudar o paradigma da qualidade do
café fluminense. “Este é um
marco na história do café fluminense.
Mas é só o primeiro. No ano que
vem teremos um evento mais estruturado. Mofati
informou que a máquina de rebeneficiamento,
um dos principais gargalos da cafeicultura fluminense
deve entrar em funcionamento no segundo semestre
do ano que vem. “Vencemos as etapas de formatação
burocrática e no primeiro semestre de 2011
devemos aprovar os financiamentos do Banco do
Brasil e do BNDES, para a máquina começar
a receber a safra já do ano que vem”,
prometeu. |
Alaerte Telles Barbosa, técnico que integrou
a equipe de provadores que selecionou os melhores
cafés recebidos, observou que o volume de lotes
enviados ainda é pequeno, por ser este o primeiro
concurso, mas assegurou que o caminho é esse
mesmo: “Todos os estados fazem esse tipo de
concurso”. Ele lembra que, embora o clima para
um café de alta qualidade não seja muito
favorável na zona da mata e Espírito
Santo, seus produtores tem se destacado nos concursos
nacionais de qualidade. A mesma coisa pode acontecer
no Rio. “O produtor fluminense tem de ter um
cuidado redobrado, porque o clima quente e úmido
atrapalha, sobretudo no momento da colheita”,
observa. O pequeno produtor tem condições
de obter um café de alta qualidade, desde que
receba orientações técnicas adequadas.
Os
compradores
A Unicafé Comércio Exterior, uma das
empresas líderes da comercialização
de café brasileiro, adquiriu vários
lotes, entre os quais aquele que alcançou o
maior preço: R$ 540,00/saca para o lote de
10 sacas de café despolpado, produzido por
Everardo Tardim Erthal, Fazenda Bela Vista, Bom Jardim.
Leonardo Moço Ribeiro, barista, vencedor da
Copa Barista da Fispal em 2010 (repetindo o feito
de 2008; em 2009 ficou em segundo lugar) também
participou do leilão para escolher o melhor
café do estado. Dono de uma cafeteria na Barra,
a Cafuné, e uma microtorrefadora, a Café
do Moço, ele falou à Revista do Café
que tem interesse, como carioca, de apresentar um
café de alta qualidade tanto em sua cafeteria
quanto em sua torrefadora. “Quero ser um embaixador
do café do Rio”, diz o barista. Presente
ao leilão, Moço procurava um café
que possa usar no blend que prepará na próxima
Copa Barista, de 2011.
Moço conta que todos os anos viaja pelo Brasil
com dois amigos europeus à procura de cafés
de alta qualidade. “Meu amigo dinamarquês
quer pagar um preço cheio ao produtor, sem
atravessadores, para lhe dar uma remuneração
mais justa”. Moço adquiriu lotes de um
dos vencedores da categoria natural.

Representantes
das empresas que apoiaram o concurso
Marcos Modiano, dono do Armazém do Café,
um dos principais incentivadores do Concurso de Qualidade,
e que também adquiriu lotes no leilão,
observa que o paladar do consumidor brasileiro tem
evoluído de maneira muito significativa, ampliando
horizontes para o negócio de cafeterias. Ele
aprova o esforço do Centro do Comércio
de Café do Rio de Janeiro (CCCRJ) de viabilizar
e fomentar a criação de canais diretos
entre as cafeterias (ou “casas de café”,
como Modiano prefere se referir aos estabelecimentos
comprometidos com qualidade) e os produtores, porque
ambos trabalham com volumes pequenos. E concorda que
o ideal seria que os produtores instalassem pequenas
torrefadoras em suas propriedades para vender o café
já torrado. “O problema é que
os produtores vendem verde, e a maioria das cafeterias
não tem condições de torrar o
café.”
Efigênio Salles, Presidente da Associação
de Cafeicultores do Estado do Rio de Janeiro (Ascarj),
por outro lado, acha que é muito difícil
o produtor assumir a industrialização.
“É uma atividade completamente distinta”,
observa Salles. Para ele, é importante criar
esse vínculo direto com o produtor, mas é
uma integração de três partes:
produtor, torrefação e cafeterias.
Sobre o Concurso, Salles considera um “moderno
instrumento de marketing”. “Você
coloca produtores, torrefadores e donos de cafeterias
de um lado, sob os holofotes da mídia, tudo
isso com a finalidade de divulgar o que o Rio tem
de cafés de excelente qualidade.”
Guilherme
Braga, Presidente do CCCRJ, que também
comprou cafés no leilão, informou
que os lotes comprados pelo Centro serão
enviados para a Cafeteria do Museu do Café
para representar a cafeicultura do Rio de Janeiro
ao lado dos cafés das demais regiões
produtoras, e oferecido aos consumidores. Afirmou
que a instituição irá se
empenhar na estruturação de canais
de ligação entre produtores pequenos
do estado, torrefadoras e cafeterias. |
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O
Rio de Janeiro é o segundo maior mercado consumidor
do país, com número crescente de cafeterias,
as quais precisam cada vez mais de grãos de
alta qualidade. A questão logística,
ou seja, a proximidade geográfica, diz Braga,
irá ajudar muito a ambos os lados, produtor
e comprador. “Vendendo diretamente seu café
a cafeterias, o produtor poderá obter um valor
agregado maior”, explica Braga, acrescentando
que a identificação da origem “transmite
confiança ao consumidor, que sabe de onde vem
o café que está bebendo”.
Luiz Otávio Araripe, Diretor da Valorização
(Valor Café), observa que é muito importante
dar incentivo aos produtores para que aperfeiçoem
a qualidade de seus cafés. “A demanda
por cafés de qualidade tem crescido muito.
Enquanto o arábica de qualidade registra seu
melhor preço em dez anos, os grãos de
qualidade inferior estão com preços
estagnados”. A Valor Café também
foi uma das maiores compradoras do leilão.
Além de aquisições próprias,
a Valor Café fez compras também para
a Expresso Café, uma das principais cafeterias
da cidade do Rio e para o Café Pimpinela, a
maior indústria de torrefação
e moagem do Estado. O Diretor da Valorização
informa que este café deve ser quase inteiramente
vendido para o mercado carioca e que não faltarão
interessados: “o café de qualidade é
fácil de vender”.
Os
campeões
Paulo
Roberto Bruno, 63, um dos três
ganhadores na categoria Natural, informou que
produz café há 29 anos, mas trabalha
há 40 no café, tendo iniciado sua
carreira como técnico agrícola no
Instituto Brasileiro do Café (IBC). Ele
é um pequeno produtor em Duas Barras, região
serrana do estado do Rio, colhendo aproximadamente
150 sacas por ano. Seu método de plantio
é o superadensado, com 10 mil plantas por
hectare. O segredo para produzir um café
de qualidade no estado do Rio, para ele, é
mexer o máximo possível o café
no terreiro, para combater a proliferação
de micro-organismos gerada pela alta umidade relativa
do ar do estado. |
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José
Ferreira Pinto, 58, também
ganhador na categoria Natural, produz mais ou
menos 4 mil sacas de café por ano em Varre-Sai
e Bom Jesus de Itabapoana, no norte do estado,
há 36 anos. É o primeiro da família
a produzir café, mas seus parentes já
eram produtores rurais. Para ele, o segredo para
um bom café é: capricho e fazer
com gosto. Ele observa que, apesar dos preços
não serem compensadores às vezes,
o café ainda é a melhor atividade
agrícola nas áreas propícias.
“O café que não é de
qualidade está dando prejuízo ao
produtor, por isso tornou-se imperativo procurar
a excelência”.
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Moacyr
Carvalho Pinto, 65 anos, produz
café há 27. Engenheiro civil e professor
da UERJ, é um “cristão novo”
na atividade, porque sua família não
é do ramo. Produz cerca de 800 sacas por
ano em Duas Barras, região serrana. Começou
a produzir café depois que adquiriu uma
fazenda que tinha uma lavoura de café abandonada.
“Isso me estimulou, recuperar aquela lavoura,
ainda mais depois que ganhei dois anos depois,
em 1985, um prêmio de cafeicultor do ano
dado pelo IBC”. Para ele, o segredo da qualidade
no estado do Rio é o cuidado extremo na
hora da colheita e da pós-colheita.
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Com
52 anos, Everardo Tardin Erthal produz
café desde 1980, vindo de uma família
de produtores de café. Produz ao redor
de 400 sacas por ano, em Bom Jardim, região
serrana do Rio. Para ele, o segredo para produzir
um bom café é amor, dedicação
e investir numa equipe boa, com funcionários
dedicados. Também fez questão de
homenagear sua esposa, Maria Adriana, que tem
participação fundamental, segundo
ele, em seus esforços para produzir um
grão de qualidade superior. Everado foi
o campeão do Concurso, pela venda do lote
de 10 sacas de café despolpado ao preço
de R$ 540,00/saca, o mais alto do Leilão. |
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