O
início da implantação das fazendas
de café no século XIX, em Minas Gerais,
coincidiu com o sucesso desta lavoura por todo o vale
do Paraíba fluminense. Muitos cidadãos
mineiros que não atravessaram o rio Paraíba
do Sul requereram terras em sesmarias bem próximas
a este rio.
Foi assim que, em 1818, Francisco Leite Ribeiro iniciou
um verdadeiro latifúndio, transformando aquelas
terras incultas em várias fazendas de café.
Nascido na cidade de São João del Rei,
ele se casou em 1809 com dona Thereza Angélica
de Jesus, filha do desembargador José Vidal
Barbosa.
No cenário de montanhas rochosas e verdejantes
tão típicas do sul das Minas Gerais,
Francisco Leite Ribeiro funda a sua primeira fazenda
de café, que denominou Louriçal, onde
morreria em 1844.
Com a abertura de seu inventário post mortem
em 1845, foi possível conhecer a imensa fortuna
que Francisco acumulara em pouco mais de 27 anos.
O monte mor atingiu a importância de 1.087:024$203
contos de réis. Somente a fazenda do Louriçal,
onde morava, compreendia quatro sesmarias, 228 escravos
e 140 mil pés de café. Ele possuía
ainda as fazendas Arribada, a sesmaria em que residia
seu genro Francisco Leite de Magalhães Pinto,
que fora casado com sua filha Maria; Ouro Fino, onde
morava Francisco de Salles de Oliveira Castro, marido
de sua filha Ana Tereza; outra propriedade em poder
de José Vidal Dias, casado com sua filha Francisca
Tereza; e a fazenda dos Alpes, que herdara seu filho
Joaquim Vidal Leite Ribeiro por ocasião da
morte da mãe, dona Thereza Angélica
de Jesus.
A
casa de moradia da fazenda dos Alpes segue o estilo
neoclássico, percebendo-se a influência
do colonial mineiro. Sua construção
é bastante singular, pois sua planta baixa
em forma de “Z” se une à fachada
da casa assobradada construída na base
deste “z”, onde outrora, no primeiro
pavimento, funcionava um imenso porão,
encostado em um barranco. A casa revela também
a religiosidade do proprietário. Uma pequena
capela tinha uma porta aberta para o seu quarto
de dormir, e outra, externa e suntuosa, foi construída
perto da casa, com invocação a Santa
Rita. |
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Preocupado com o escoamento da produção
de café, Francisco empenhou-se junto a outros
proprietários, em 1841, pela construção
da estrada da serra do Couto, que ligava a Zona da
Mata ao Porto da Piedade, pela então Vila de
Magé, onde desde 1836 havia iniciado a construção
de um hotel, do qual se tem conhecimento pelo depoimento
do famoso viajante inglês Georges Gardner.
Depois da morte do patriarca da família, coube
a Joaquim Vidal Leite Ribeiro assumir a fazenda do
Louriçal e a dos Alpes e, assim como o pai,
tornou-se um dos maiores empreendedores da região
de Mar de Espanha, sendo agraciado com o título
de barão de Itamarandiba, em 1881, dois anos
antes de morrer, no Rio de Janeiro.
Joaquim viveu solteiro na fazenda dos Alpes até
os 35 anos e casou-se em 1853 com dona Alexina Amélia
Caldeira Fontoura. Apenas cinco anos após o
casamento, resolveu vender as duas fazendas aos seus
primos Francisco Carlos Teixeira Leite e Anastácio
Teixeira Leite.
Durante dez anos elas ficaram nas mãos dos
irmãos Teixeira Leite, que as venderam a Francisco
de Assis Monteiro Breves, primeiro filho de Amélia
Augusta Monteiro de Barros e do major José
Joaquim Luiz de Souza Breves, portanto duas famílias
tradicionais, os Monteiro de Barros de Minas Gerais
e os Souza Breves do vale do Paraíba fluminense.
Em 1881, Francisco Monteiro Breves é agraciado
com o título de barão de Louriçal.
Conta-se que era um homem muito vaidoso e que, ao
solicitar o título de barão, utilizou
o nome da fazenda que adquirira por considerar seu
nome belo.
O barão de Louriçal também fez
fortuna e, além das propriedades que tinha
em Mar de Espanha, possuía ainda a fazenda
Porto Alegre, no município de Itaperuna. Por
ocasião da abertura de seu inventário
post mortem em 1894, a soma de seus bens chegou à
inacreditável soma de 1:079:989$645 contos
de réis.
O barão se manteve solteiro, mas no testamento
feito em 1894 registrou seus relacionamentos com algumas
de suas ex-escravas, reconhecendo inclusive a paternidade
dos filhos que tivera com elas e instituindo-os como
herdeiros universais. Assim deixou expresso em seu
testamento:
Que
por fraqueza humana teve com suas ex-escravas, de
nomes Generosa, Virgínia, Amélia, Benvinda,
Lourença (já falecida) e Balbina, diversos
filhos os quais existem e são os nomes Francisca,
Maria, Roberta, Virgílio, Orestes, Gumercindo,
Ernestina, João, Geraldo, Ignez, Cyrillo, Luiz
e Rita, sendo os sete primeiros com Generosa. (...)
os quais ele testador os reconhece como seus filhos
como se fossem de legítimo matrimônio
e os institui seus universais herdeiros.
Embora
pareça que o barão preferisse a escrava
Generosa, com quem teve sete filhos, é curioso
observar que os outros seis filhos, com mães
diferentes, tinham a mesma idade.
Nessa época, a fazenda dos Alpes possuía
aproximadamente 586 alqueires de terras, sendo 252
de mata virgem, e milhares de pés de café.
Como era esperado, nenhum dos herdeiros designados
pelo barão tomou posse das terras ou das fazendas,
sendo que a dos Alpes chegou, no início do
século XX, às mãos da empresa
Belgo-Mineira, que foi explorar as montanhas de mármore
do lugar.
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